Deus, de criador a criatura.
Deus é parte da cultura, produto de relações sociais que se estabelecem entre os indivíduos. Todos os povos, com poucas exceções, sempre desenvolveram alguma ideia de divindade, sob diversas formas. Nessa perspectiva, muitos teólogos afirmam que o ser humano é, por natureza, religioso, pois a ideia de Deus seria inerente ao indivíduo e à vida em sociedade.
Acredito, por boas razões, que a ideia de Deus não seja inerente ao indivíduo, tampouco à vida em sociedade. O ser humano é dotado de inúmeras potencialidades. Somos uma folha em branco sendo rabiscada pelo processo social. Isso é tão verdade que as diversas sociedades desenvolveram conceitos diferentes sobre Deus, conceitos muitas vezes inconciliáveis. Eis a razão de haver tantas religiões espalhadas pelo mundo.
Os teólogos que defendem a tese do "homem religioso" negligenciam o fato de que todas as sociedades atuais derivam de um tronco social comum e que, por isso, a ideia de Deus se replicou e tomou formas diferentes. Ou seja, a ideia de Deus surge num ponto específico da história e se reproduz ao longo do tempo, assumindo aspectos variados.
Se a crença em Deus fosse inerente ao homem, o ateísmo não teria tomado as proporções atuais, sobretudo no norte da Europa. Também não seria possível encontrar sociedades sem deuses, como é o caso da tribo dos Pirahãs, na Amazônia. Então, diferentemente do que prega o senso comum, Deus não é criador, mas uma genuína criação humana.