A yoga não é diabólica

Muitas das pessoas que praticam yoga não se cansam de apontar os seus benefícios. Eu mesma pratiquei por um tempo e ainda lembro de como me sentia calma. Parecia que as emoções negativas eram removidas de mim e eu conseguia reencontrar meu equilíbrio. Pois bem, uma vez, um evangélico me falou: "Não pratique a yoga, porque é diabólica." Eu fiquei revoltada e retruquei: "Mas faz eu me sentir tão bem!" A resposta dele então foi:" Mas isso é o diabo lhe enganando!"

Hoje, vejo como as pessoas podem ser ignorantes, dando opiniões estúpidas por não conhecer a cultura e as práticas sagradas de um povo. A yoga - que significa "união" em sânscrito- sempre foi considerada sagrada pelos hindus. Um dos deuses da trindade sagrada hindu(composta por Brahma, Vishnu e Shiva), que é Shiva, o deus da destruição, é considerado o criador da yoga. Antes que alguém pense que Shiva é uma entidade maligna, lembremos que os hindus consideram a destruição parte vital do funcionamento do Universo. Segundo eles, é preciso destruir o velho para que tudo se renove e venha o novo, dando início a um ciclo que durará por um determinado tempo.

O que podemos dizer de todos os deuses adorados pelos hindus? Que são demônios? Não, porque a cultura indiana é outra cultura, com sua própria história, crenças e valores. Dizer que o que eles consideram sagrado é diabólico soa grosseiro para com uma cultura que se desenvolveu em condições diversas da nossa. As crenças de um povo são diretamente ligadas à sua cultura e valores e, para entendê-las, precisamos nos despir de ideias limitadas e preconceituosas que podem nos levar a erros de julgamento.

Um símbolo chinês bastante difundido entre nós é o do yang-ying. Por muito tempo, ouvi que seria um dos símbolos diabólicos da Nova Era - considerada por muitos um dos sinais do reino do Anticristo. Entretanto, esse símbolo e antiquíssimo, simbolizando o Taoísmo, que se baseia nos princípios de que tudo está sempre mudando e que o Universo precisa que as forças contrárias interajam entre si. Quem estudou I Ching e filosofia chinesa sempre diz que não podemos julgar a cultura desse povo com base nos nossos valores ocidentais. Nós entendemos que o bem tem de vencer o mal. Já os chineses entendem que, para haver o bem, é necessária a existência do mal. Se não podemos entender, pelo menos tenhamos respeito por um povo de cultura tão rica.

Também é comum ouvirmos que a umbanda e o candomblé - tão presentes na nossa história marcada pelo sincretismo religioso - são demoníacos. Nada disso. São religiões diferentes, não podemos dizer que são tradições de gente atrasada. Não há culturas mais ou menos adiantadas e toda cultura tem aspectos positivos e negativos.

Eu já assisti a um vídeo em que traficantes evangélicos oravam pedindo para ser abençoados antes de invadir um terreiro. O que podemos dizer de pessoas que ganham a vida prejudicando outros e se acham "salvos", atacando outros que muito provavelmente não fazem mal a ninguém e nada fazem além de seguir aquilo em que acreditam? O que realmente importa? O caráter da pessoa ou suas crenças? Sabemos bem que crenças não definem o caráter. Uma pessoa não é melhor ou pior por causa daquilo em que acredita.

Se alguém salvar sua vida, o que lhe será mais importante? O caráter dessa pessoa, seu ato de generosidade ou sua religião? Se ela é católica, hare krishna, da umbanda ou até ateia, isso lhe fará diferença?

O preconceito contra religiões de determinados povos nos leva a crer que há culturas inferiores e superiores. E não há. Cada cultura tem seus conhecimentos, que lhe são úteis e valiosos de acordo com suas necessidades e vivência.

Podemos dizer que os índios (antes da colonização europeia) adoravam demônios? Os índios brasileiros adoravam Tupã, o deus do trovão. Como desconsiderar uma mitologia tão rica e que faz parte de nossa História? Os deuses Thor e Odin adorados pelos vikings eram demônios? Que falar dos deuses adorados por tantos outros povos?

Vamos respeitar a religião, história, cultura e valores dos povos. Lembremos que não conhecemos a verdade e não temos autoridade para fazer julgamentos acerca de que forças espirituais regem o mundo. Dar opiniões de acordo com o que acreditamos é perigoso e nos coloca em perigo de fazer julgamentos errados. Tudo que dissermos acerca de algo deve se basear em conhecimento e reflexão. E não temos o direito de nos achar conhecedores de nada.