A ORDEM DA SALVAÇÃO
A salvação eterna é sem dúvidas o maior tesouro que o pecador pode receber. É uma benção incomparável, pois para que o pecador fosse resgatado, o Senhor Jesus Cristo pagou o preço de sangue na cruz do Calvário, dando a própria vida, em resgate de muitos, ou seja, por aqueles que Deus soberanamente escolheu antes da fundação do mundo. Sabemos pelo ensino das Escrituras que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23) e, em virtude disso o homem precisa de salvação.
É importante lembrarmos que a obra da salvação é um plano maravilhoso de Deus em relação ao pecador e conforme o ensino das Escrituras esse processo da salvação possui tanto aspectos imediatos quanto progressivos. Mas, como ocorre a salvação do pecador?
Nós calvinistas reformados acreditamos com base nas Escrituras que existe uma ordem em que esse processo da salvação ocorre na vida do pecador e, o texto de (Rm 8.28-30), é sem dúvidas o mais claro para explicar o assunto. Nessa passagem, o apóstolo Paulo fala que “aqueles” que Deus conheceu de antemão, Ele os predestinou para serem conforme a imagem de Seu Filho. E aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes igualmente justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou. Vemos, portanto, que conforme o ensino das Escrituras, Deus predestinou, chamou, escolheu salvar “alguns” segundo o seu decreto.
Na Teologia bíblica usamos a expressão “Ordo Salutis”, termo que vem do latim para se referir a “Ordem da Salvação”, uma doutrina bíblica que usamos para descrever como Deus aplica a Redenção em Seu povo. Todavia, o processo da salvação, isto é, como ocorre a salvação na vida do pecador é algo muito debatido no meio cristão protestante, pois não existe uma unanimidade sobre o assunto. É importante dizer que as fases da salvação do pecador trata-se de uma “sequência lógica”, e “não cronológica”, de maneira que algumas etapas ocorrem sequencialmente, enquanto outras instantaneamente. Isso significa que a discussão aqui gira em torno da ordem lógica da salvação do pecador, e não a cronológica.
A ordem da salvação na visão calvinista
Os calvinistas afirmam que o ponto inicial da salvação do pecador é a eleição e, a predestinação, com base unicamente na vontade soberana de Deus. A salvação do ponto de vista calvinista é apresentada como se segue: eleição – predestinação; chamado; regeneração; conversão; justificação; adoção; santificação; perseverança e glorificação.
O testemunho das Escrituras
Segundo o ensino das Escrituras, nós podemos afirmar que a salvação “vem do Senhor” (Jn 2.9), e que homem nenhum jamais foi, ou será salvo pelas obras porque a salvação é somente pela graça conforme a Bíblia ensina (Ef 2.8,9). Isso significa que a salvação não vem de nós mesmos, não parte do homem em relação Deus porque não há quem busque a Deus, não há um sequer (Rm 3.10-12). A salvação vem de Deus para o homem – por Sua infinita “graça e misericórdia”. Dessa maneira, o Pai atrai os perdidos a Cristo, (Jo 6.44) ou seja, a salvação do princípio ao fim é dom – “um presente” de Deus concedido ao pecador.
O homem caído, não redimido está distante de Deus, completamente separado dele, pois, está morto “espiritualmente” em seus delitos e pecados (Ef 2.1). Isso significa que o homem não convertido não pode entender as coisas espirituais (1Co 2.11,14), não pode agradar a Deus e nem se aproximar dele, mas somente Deus pode vir até o pecador para resgatá-lo (Mt 11.25-27). Nenhuma pessoa é capaz de aceitar a Cristo, sem que primeiro seja regenerada por Deus, ou seja, nós escolhemos a Cristo porque Ele nos escolheu primeiro (Jo 15.16). Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro (1Jo 4.19).
Nas próximas linhas iremos expor o pensamento Reformado “Calvinista” da Ordo Salutis:
Eleição – Predestinação
“Porquanto, Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença”. (Ef 1.4).
“Todavia, irmãos amados do Senhor, devemos sempre dar graças a Deus por vós, pois Ele vos escolheu desde o princípio para a salvação pela santificação feita pelo Espírito e pela fé na verdade”. (2Ts 2.13).
“Pois Ele nos salvou e nos chamou com uma santa vocação, não em virtude das nossas obras, mas em função da sua própria determinação e graça. Esta graça nos foi outorgada em Cristo Jesus desde os tempos eternos”. (2Tm 1.9).
“Porquanto, aqueles que antecipadamente conheceu, também os predestinou para serem semelhantes à imagem do seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes igualmente justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou”. (Rm 8.29,30).
“Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia”. (Jo 6.44).
“Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna”. (At 13.48).
Diante dos textos bíblicos aqui apresentados e outros, nós podemos afirmar categoricamente que "ninguém é eleito porque creu; mas creu porque é eleito, e porque na eternidade era predestinado a vida eterna".
Chamado do Evangelho “Universal”
Esse chamado é para todos, pois se refere a ordem de Cristo para os seus discípulos.
“Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura”. (Mc 16.15).
Cristo convida todos os pecadores. “Vinde a mim, todos os que estai cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”. (Mt 11.27).
“Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram falar? e como ouvirão, se não há quem pregue”? (Rm 10.14).
Podemos notar nessas passagens que a oportunidade de crê no Evangelho e, de se render a Cristo é igual para todos os perdidos, de maneira que absolutamente ninguém é indesculpável diante de Deus (Rm 1.18-21).
Chamado Eficaz “Regeneração”
“Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, enquanto ele por ninguém é discernido”. (1Co 2.14,15). Vemos claramente nessa passagem que o homem “natural” não é capaz de entender as coisas de Deus, ou seja, de crer no Evangelho e por causa disso, não pode escolher livremente servir a Deus, se antes Deus não o regenerar. Podemos perceber que muitos depois de ouvirem a pregação do Evangelho tem apenas um entendimento racional, porém, isso não é o suficiente. Para que o homem possa crer em Jesus Cristo, ele precisa enxergar o Evangelho com os olhos do Espírito, e isso, só é possível se primeiro ele for regenerado. Somente assim, o homem poderá entender o Evangelho e se dirigir a Deus, a fim de se render ao Senhor Jesus Cristo como único e suficiente Salvador de sua vida.
“Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas, como já vos afirmei”. (Jo 10.26). As palavras de Jesus aqui nesse texto, revelam algo muito importante para o nosso entendimento. Os perdidos no mundo não são ovelhas porque não creem, pelo contrário, não creem porque não são ovelhas, exatamente conforme o Senhor Jesus diz: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; Eu as conheço, e elas me seguem”. (Jo 10.27). As Escrituras revelam que o homem natural é pecador, inimigo de Deus e mau por natureza, portanto, ele só pode enxergar o mal que está dentro de si mesmo. Somente Deus pode abrir-lhe o entendimento, e, o atrair a Cristo para que tenha vida espiritual, do contrário o homem permanecerá morto espiritualmente. “Então, se lhes abriu o entendimento para que pudessem compreender as Escrituras”. (Lc 24.45).
Conversão “Arrependimento e Fé”
Nós calvinistas entendemos pelas Escrituras que depois do pecador entender o Evangelho, nele é gerado arrependimento e fé (At 20.21). Diante do que fôra exposto, ninguém apresentou qualquer outra objeção e passaram a glorificar a Deus, exclamando: “Sendo assim, Deus concedeu até mesmo aos gentios o arrependimento para a vida”! (At 11.18). “Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, o qual não traz pesar; mas a tristeza do mundo opera a morte”. (2Co 7.10). “Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te conduz ao arrependimento”? (Rm 2.4).
“Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê o espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele; sendo iluminados os olhos do vosso coração, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos”. (Ef 1.17,18). “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus”. (Ef 2.8). Visto que a justiça de Deus se revela no Evangelho, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: “O justo viverá pela fé”. (Rm 1.17).
Justificação
“Portanto, havendo sido justificados pela fé, temos paz com Deus, por meio do nosso Senhor Jesus Cristo”. (Rm 5.1). Segundo o ensino das Escrituras, o salário do pecado é a morte (Rm 6.23), isso significa que todo homem é pecador e digno de morte. Por causa disso, Cristo morreu na cruz pagando toda a dívida do pecado, assim, Deus tornou o homem justo, imputando-lhe a justiça de Cristo. Dessa forma, todo aquele por quem Cristo morreu, é um eleito e se tornará justo quando for imputada a justiça de Cristo sobre ele. A justificação do pecador ocorre pelos méritos de Cristo, através do seu sacrifício perfeito na cruz. A fé seria o meio pelo qual essa justificação é aplicada.
O Reverendo Hernandes Dias Lopes, comenta que “a fé é o instrumento de apropriação dos benefícios da cruz. A fé é a mão estendida de um mendigo a tomar posse do presente de um Rei. A fé é a causa instrumental, e não a causa meritória da justificação”. Hernandes tem razão, pois as Escrituras afirmam que “fomos justificados gratuitamente por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus. Deus o ofereceu como sacrifício para propiciação por meio da fé, pelo seu sangue, proclamando a evidência da sua justiça. Por sua misericórdia, havia deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; mas, no presente, demonstrou a sua justiça, a fim de ser justo e justificador daquele que deposita toda a sua fé em Jesus”. (Rm 3.24-26).
Adoção
É quando Deus nos torna “filhos por adoção” em Jesus Cristo.
“Ele veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, ou seja, aos que creem no seu Nome”. (Jo 1.11,12). “Pois vós não recebestes um espírito que vos escravize para andardes, uma vez mais, atemorizados, mas recebestes o Espírito que os adota como filhos, por intermédio do qual podemos clamar: “Abba, Pai”! O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus. Se somos filhos, então, também somos herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, se realmente participamos dos seus sofrimentos para que, da mesma maneira, participemos da sua glória”. (Rm 8.15-17).
Santificação Progressiva
A Bíblia deixa muito claro que somos eleitos por Deus antes da fundação do mundo, porém, não para impureza, e sim para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor (Ef 1.4). Se você busca a santidade, isso é um dos sinais de que você é um eleito de Deus, pois os eleitos e regenerados são novas criaturas, suas atitudes refletem um novo modo de vida parecido com Cristo. “Assim, toda árvore boa produz bons frutos; porém a árvore má produz frutos maus. Uma árvore boa não pode dar maus frutos; nem uma árvore má dar frutos bons. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis”. (Mt 7.18-20). “Se as primícias são santas, também a massa o é; e se a raiz é santa, também os ramos o são”. (Rm 11.16).
Ser eleito – predestinado por Deus a salvação não significa viver uma vida relaxada de pecado satisfazendo os desejos carnais. Quem diz que é um eleito de Deus e age dessa maneira, está dando provas inequívocas de que não é salvo, ou seja, não nasceu de novo. Todo eleito de Deus buscará a santidade a fim de agradar-lhe em tudo.
Perseverança dos Santos
O eleito persevera para ser salvo, ou persevera porque é salvo? Persevera porque é salvo. “A salvação do crente é eterna”. Os salvos perseveram em Cristo e estão guardados pelo poder de Deus. Nenhuma força, ou circunstância tem poder para separar o crente do amor de Deus em Cristo Jesus. O novo nascimento, o perdão, a justificação, a adoção como filhos de Deus, a eleição e, o selo do Espírito Santo asseguram aos salvos a permanência na graça da salvação. “Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas. As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem; eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai. Eu e o Pai somos um”. (Jo 10.26-30).
Se alguém em nosso meio não persevera é porque não é salvo. “Saíram dentre nós, mas não eram dos nossos; porque, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; mas todos eles saíram para que se manifestasse que não são dos nossos”. (1Jo 2.19). Os salvos não cairão, jamais perderão a salvação, pois Deus os guarda de cair. “Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos ante a sua glória imaculados e jubilosos”. (Jd 24).
Glorificação
“Vede que grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus; e nós o somos. Por isso o mundo não nos conhece; porque não conheceu a Ele. Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como é, o veremos. E todo o que nele tem esta esperança, purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro”. (1Jo 3.1-3). “Mas a nossa pátria está nos céus, donde também aguardamos um Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o corpo da nossa humilhação, para ser conforme ao corpo da sua glória, segundo o seu eficaz poder de até sujeitar a si todas as coisas”. (Fp 3.20,21).
Em breve os remidos triunfantes em glória no céu entrarão para reinar e viver eternamente com Cristo e para desfrutarmos da herança que Ele mesmo prometeu aos seus eleitos. Na glória eterna estaremos juntos com Cristo, livres do pecado, a morte já não terá mais domínio sobre nós, o nosso corpo que hoje é pó, carnal, fraco, necessitado, debilitado e corrupto em breve será transformado em um corpo eterno, sem necessidade alguma, incorruptível, glorioso – semelhante ao de Cristo. Maranta, ora vem Senhor Jesus!
JESUS FAZ A DIFERENÇA.