Se milagres desejais...

SE MILAGRES DESEJAIS...

“Se milagres desejais, recorrei a Santo Antônio...”, com esse responsório os povos cristãos vêm, há oito séculos, invocando a proteção do milagroso santo português, que viveu a maior parte de sua vida em Pádova (Pádua), na Itália. A história de Santo Antônio é fascinante. Da obscuridade do século XII emergem quatro figuras notáveis: Antônio, Francisco, Domingos e Bernardo.

Da mediocridade mundana das culturas dos burgos da Europa medieval é impossível imaginar o surgimento de pessoas de tamanha santidade, como o foram aqueles santos. A biografia de São Francisco é menos complexa. Sua vida, vivida entre os estigmas do crucificado, os colóquios com a natureza e as núpcias com a dama-pobreza, não se presta a muitos ensaios biográficos.

Com Santo Antônio é diferente. O que falta em dados biográficos, sobra em relatos a respeito de seus milagres. Se, de um lado, um santo tem direito a reivindicar sua historicidade, de outro, o povo tem direito de erigir seus cultos. Tal afirmativa consolida-se à medida que falta dados da biografia do santo, mas sua popularidade se ressalta a partir do grande número de sinais miraculosos que o povo crente, por séculos, tem a ele atribuído. A maioria das pessoas desconhece dados da vida do santo, mas tem ciência de todos os fatos sobrenaturais executados por ele.

No desejo de homenagear o santo paduano, muitas fantasias foram criadas, desencadeando uma religiosidade popular que às vezes ultrapassa alguns limites, colocando Santo Antônio mais na linha do mito do que preso à realidade de santidade que ele viveu. Muitos invocam milagres mas poucos imitam sua vida oculta de trabalho e oração. Alguns conhecem seus feitos mas ignoram seus sermões.

A teologia antoniana reconhece quatro milagres, base da vida e da pregação do santo. O primeiro liga-se à Eucaristia. Desafiado sobre o valor do “tão sublime sacramento”, o santo fez uma mula faminta ajoelhar-se diante do “pão da vida” ao invés de ir comer um monte de feno colocado à disposição. O segundo refere-se à pregação. O povo de Rímini não quis ouvir Antônio; ele foi pregar aos peixes, que vieram escutá-lo, colocando as cabecinhas para fora d’água. O terceiro reflete o perdão de Deus: desesperado por um pecado cometido, numa interpretação literal do “...se teu pé for motivo de pecado, arranca-o fora”, um homem decepou o pé com um golpe de machado; o santo fez o reimplante; do membro e da fé.

O quarto, aderente às pregações contra a usura e ambição, relata a descoberta do coração, vivo e pulsando sobre as moedas, de um morto que vivera só preocupado com riquezas. Como “restituidor das coisas perdidas” deve-se orar a Santo Antônio, pedindo que nos devolva a fé, os valores da justiça e o sentido da vida. Em junho de 2007 estivemos, Carmen e eu, na basílica de Padova, na Itália, comemorando nossos 44 anos de matrimônio. Em 20 de junho de 2014 celebramos nossas “bodas de ouro” na Igreja Santo Anitônio do Pão dos Pobres (Porto Alegre), onde casamos em 64.