As tolices religiosas
Quando estamos passando por muitas dificuldades, é muito comum ouvirmos que “Deus está testando nossa fé”. Seria bom então nos perguntarmos: Deus não sabe tudo? Então, por que Ele nos testa? E que necessidade é essa de nos testar? É muito fácil falarmos que se tem de aguentar as provações mas, ao observarmos a realidade e constatarmos como tudo funciona, ficamos bem consternados. E por quê? Porque vemos que tudo funciona de uma forma muito diversa do que se é pregado nas igrejas.
Já que Deus nos testa, podemos observar que muitas pessoas, não aguentando mais “ser testadas”, perdem a fé ou cometem suicídio. Se Deus colocou sofrimento na vida dessas pessoas para provar sua fé, ou Ele não é onisciente e não sabe até onde alguém aguenta ou não é benevolente, pois faz alguém passar por sofrimentos desnecessários. Se Ele sabia que essas pessoas não aguentariam, isso só serve para mostrar que, se Deus tinha ciência que iriam perder a fé ou dar um fim às próprias vidas por não suportar mais tanta dor, no fundo, Ele não se importa.
Outra bobagem é alguém dizer que “Deus só nos dá o que pedirmos se merecermos.” Será? Se fosse assim de fato, pessoas más não prosperariam nem alcançariam seus objetivos. E também vemos muitas pessoas que não são más. Apenas não acreditam em Deus. Já vimos muitas pessoas sem fé que conseguem emprego. Pode acontecer de alguém ter fé e, além de ir atrás de empregos, orar. O que a leva a não conseguir? O que explica o fato de um ateu (bom ou ruim) uma pessoa sem fé e que não orou pedindo a Deus pelo emprego, conseguir?
Jesus, em uma passagem bíblica, disse que tudo quanto pedíssemos em Seu nome, tendo fé, receberíamos. O mais comum é a gente orar e não acontecer nada. Aí, ouvimos as mais variadas respostas: “Pode ser que o que você queira não seja o que Deus quer para você.” Mas Jesus não disse “tudo”? “Tudo” presume que qualquer pedido nosso seria atendido. Bastaria termos fé. Digamos que você ore por um emprego e não consiga. A resposta pode ser justamente a citada acima, a de que talvez Deus queira outra coisa para nós. Façamos uma pergunta: Deus também queria que Hitler conseguisse instaurar o Nazismo na Alemanha? Com certeza, muitos padres da Inquisição oravam antes de começar seu trabalho de torturar os supostos hereges. Deus também quis que esses padres instaurassem esse horror? E por que Deus não quer que alguém arrume um emprego logo, mas fique penando por anos a fio?
Para justificar o sofrimento humano, falam que temos de carregar uma cruz para nos aproximarmos de Deus e porque Cristo morreu por nossos pecados. São muitas as crianças que morrem logo depois de nascer, de fome aos cinco anos ou que têm suas vidas ceifadas precocemente por causa de infelizes incidentes como os bombardeios no Oriente Médio. Inúmeros bebês ou crianças pequenas morrem antes de saber o que significa a complexidade da vida. Jesus morreu pelos pecados delas? Aliás, a história de carregar uma cruz é bonita na teoria, não na prática. Fala-se bastante na Bíblia que a Deus agrada que seus servos sofram injustamente, que “os homens agradáveis a Deus se provam pelo cadinho da humilhação”. Considerando que as pessoas agradáveis a Deus têm de passar pela humilhação, só podemos constatar que os escravos foram os que mais agradavam a Deus. Poucas coisas são tão humilhantes quanto ser escravo.
Se carregar uma cruz é para um propósito maior e temos de nos alegrar porque é para merecermos a salvação, por que tantos, por causa do que passam, vão desenvolvendo depressão e outras doenças de origem psicossomática? Não é bom carregar uma cruz? Isso não nos eleva diante de Deus, porque os que se humilham serão elevados? Mas carregar uma cruz faz muita gente infeliz. E é enorme o número de pessoas que pagam pelos erros dos outros. Se uma mulher casa com um homem violento, os filhos pagarão pela escolha errada dela. É justo que carreguem essa cruz? Aliás, não é nem para a mulher carregar. Por que sofrer por longos anos?
Dizer que Deus é o “Deus de promessas” que tem “grandes bênçãos” para nossas vidas é uma das mensagens mais ouvidas em templos evangélicos. Ouvimos que “Deus nos dará a vitória” e que receberemos a “cura e libertação”. E qual é a verdade? A maior parte das pessoas que frequenta esses lugares nunca viu sua vida mudar em nada. Muitos frequentam certos templos há 20 ou 30 anos e continuam miseráveis, – isso se não ficam mais pobres por dar dízimos – com os mesmos problemas que certamente os fizeram procurar a igreja. Claro que, se lançarmos tais questionamentos, ouviremos que temos de “buscar a Deus”, não ir à igreja apenas atrás de bênçãos. Mas, se há tantas promessas que se ouve das bocas desses “irmãos” através de revelações, promessas que nunca se cumprem, só podemos constatar que ou esses “irmãos” são mentirosos ou, em vez de revelações do Espírito Santo, recebem espíritos enganadores.
Eu mesma ouvi muitas promessas das bocas de pessoas que se diziam inspiradas pelo Espírito Santo. Até hoje, nenhuma delas se cumpriu. Também fiquei frustrada por ouvir que o que eu queria podia não ser da vontade de Deus e isso me revoltou. Eu me perguntei: por que Deus não iria querer que eu tivesse um emprego? Eu orei, chorando e me humilhando por um emprego, ainda que fosse um emprego de um salário mínimo. E ouvi que era preciso que meus motivos fossem nobres e de acordo com a vontade de Deus. Então, eu botei nas minhas orações que eu queria ser útil, trabalhadora e um membro produtivo da sociedade. Ao que parece, nenhum dos meus motivos pareceu justo.
Se há, entre os frequentadores de tais templos, pessoas que tiveram suas famílias restauradas e conseguiram empregos, eles são minorias e, com certeza, não conseguiram isso apenas orando. É muito maior a quantidade dos que não viram nada de significativo acontecendo. Isso tem mesmo levado muita gente a deixar a religião ou se tornar ateia ou agnóstica por não verem a oração dar resultado. Muitos até alegam que só viram suas vidas piorando enquanto estavam na religião e que abandonar a fé os ajudou a ter uma noção maior da realidade. Um ponto a se ressaltar é que muita gente que não acredita em Deus tem vida estável e equilibrada. Ser ateu não significa ser depravado, pensar apenas em bens materiais ou ser arrogante e ter vida familiar desregrada. O caráter independe da crença.
Pode acontecer de quem está sofrendo ouvir que a verdadeira felicidade é a Vida Eterna. Ouvimos muito isso e alguns chegam à conclusão que ela parece um prêmio de consolação por toda a felicidade que não tivemos na vida. Vale salientar isso porque, enquanto estamos vivos, sentimos necessidade de ser felizes, realizar nossos sonhos e fazer com que nossas vidas tenham significado. Se o que realmente importa é a Vida Eterna, por que tanta gente se sente angustiada por constatar que não está vivendo sua vida aqui e agora?
Estes questionamentos não provam que Deus não existe. Provam apenas que ninguém sabe a verdade e que não podemos dizer que “Deus quis assim” ou “as coisas de Deus são desse jeito”. Não podemos porque não sabemos. Da mesma forma que Deus nunca me mandou um anjo, apareceu pessoalmente ou enviou um sinal divino, é pouco provável que Ele tenha iluminado uma pessoa que fica falando com tanta certeza sobre seus supostos desígnios.