A conversão de Ramalho Ortigão

A CONVERSÃO DE RAMALHO ORTIGÃO
Miguel Carqueija


José Duarte Ramalho Ortigão (1836-1915) foi um muito conhecido escritor português, inclusive um dos iniciadores do romance policial naquele país. É também autor de “As farpas”, sátiras e críticas á sociedade protuguesa, inicialmente escritas em parceria com Antero do Quental; posteriormente Ortigão prosseguiu sozinho, e os volumes dessa obra totalizam quinze.
Embora ligado a teses de livre-pensador, Ortigão aproximou-se do Catolicismo ao ser convidado pelo grande Papa Leão XIII para uma audiência no Vaticano. Leão XIII, como se sabe, oficializou a admirável Doutrina Social da Igreja Católica (DSIC) com a Encíclica Rerum Novarum.
Sobre sua definitiva conversão eis o que narra o Padre Luiz Gonzaga Cabral S.J. (estas iniciais querem dizer: sacerdote jesuíta) na “carta-prefácio” escrita para a edição brasileira do monumental “Curso de Apologética Cristã” do religioso belga P.Devivier S.J. e dirigida ao tradutor P.Manoel Martins S.J.:
“...foram essas as páginas que mandei a Ramalho Ortigão quando, numa extensa carta, que a alguns pareceu um lance de ousadia, mas que foi incontestavelmente um desafogo de sinceridade amistosa, convidei o maravilhoso escritor e finíssimo crítico à conversão decisiva e à prática integral do catolicismo. A leitura daquela sóbria e vigorosa Apologética acabou de inundar-lhe a alma de luz; e, pouco depois de fechado o volume, publicou Ramalho, a propósito do monumento ao Marquês de Pombal, a sua lealíssima retratação acerca da Companhia de Jesus, seguida por outros artigos de orientação bem ortodoxa, alguns dos quais foram enriquecer a prosa opulenta das “Últimas Farpas”. Mas houve mais do que isso: as convicções enraizadas na inteligência do autor da “Holanda” por aquela leitura fizeram pulular seivoso um pomar que se recamou de frutos. Vontade e coração receberam dali calor, como a razão recebera luz. Ramalho Ortigão beijou reverente a mão da Igreja, à qual em horas de preconceito ele engeitara a bênção maternal; chegou-se aos Sacramentos com verdadeira fé; e acabou crente fervoroso, com a morte do justo.”
Há na longa história da Igreja Católica uma vasta lista de conversões admiráveis inclusive de intelectuais e cientistas como Gustavo Corção, Jacques e Raissa Maritain, Alexis Carrel e tantos outros. A conversão de Ramalho Ortigão também deve ser considerada notável e, mostra bem quão valioso é este livro “Curso de Apologética Cristã”, tratado que honra a cultura católica e que já li e reli diversas vezes. A edição que eu tenho, herdada de meu pai, é da década de 1920, das Edições Melhoramentos; todavia esta obra extraordinária, que abrange todas as grandes questões em torno de Deus, das religiões em geral, do ateísmo, do Cristianismo e da Igreja Católica, pode atualmente ser encontrada na internet.

Rio de Janeiro, 2 de junho de 2018.