SALVAÇÃO – MONERGISTA, OU SINERGISTA?
Monergismo e Sinergismo são duas palavras de cunho teológico, que não se encontra na Escritura. São dois pontos de vista diferentes da doutrina da salvação. Dentro da história da Igreja e antes mesmo da Reforma Protestante, a discussão teológica sobre essas duas linhas de interpretação já existia. Mas, de acordo com a história do cristianismo, estes dois pontos de vista foram fortemente debatidos no início do século XVII, quando os seguidores de Armínio publicaram “Os Cinco Artigos da Remonstrância, um documento que declarava como a sua teologia era diferente de Calvino e seus seguidores. O ponto central da discussão entre monergistas e sinergistas é sobre como ocorre a obra da salvação, ou seja, a salvação é uma obra exclusiva de Deus, ou existe alguma participação do homem nesse processo? Em outras palavras: A doutrina da eleição divina é incondicional como defendem os calvinistas, ou ela é condicional como acreditam os arminianos?
O Monergismo é defendido especialmente pelos cristãos que seguem a linha Soteriológica calvinista. Se alguém acredita que Deus elege incondicionalmente o pecador para salvação, então, a visão da salvação é monergista. Por outro lado, o arminianismo defende que a eleição se baseia na presciência de Deus, ou seja, Deus olha para o futuro e espera aquele que irá crer nele, então, nesse caso a visão da salvação é sinergista. Ainda sobre o Sinergismo é importante dizer que todo arminiano é sinergista, porém nem todo sinergista é arminiano. Aqueles que defendem o Sinergismo como a visão correta da salvação, também incluem católicos romanos, ortodoxos orientais, metodistas, nazarenos, molinistas, batistas livre-arbítrio, teístas libertarianos livre-arbítrio e alguns evangélicos dispensacionalistas.
Um crente monergista é aquele que crê que Deus através do Espírito Santo sozinho opera a obra da regeneração abrindo assim, os olhos e os ouvidos do pecador para que este possa crê no Senhor. O crente sinergista, por outro lado, crê que a fé é produzida pela nossa natureza humana (não regenerada), a fim de que este possa exercer “sua fé” aparte da regeneração do Espírito Santo. Como podemos ver, existe muitas diferenças entre o Moergismo e o Sinergismo. Eu diria que são visões completamente opostas!
A visão monergista de salvação
A palavra “Monergismo” é original do idioma grego μονεργισμός monergismos, e significa “trabalhar sozinho”, “ou trabalho de um”. É a visão de que Deus (sozinho), realiza a nossa salvação. Na teologia, Monergismo é a doutrina de que o Espírito Santo é o único agente eficaz na regeneração (o novo nascimento). Segundo a posição monergista a salvação é uma obra realizada exclusivamente por Deus, de maneira que a vontade humana não possui inclinação alguma para santidade até ser regenerada e, portanto, o esforço humano não pode cooperar para salvação porque todas as pessoas nascem em pecado e por causa de sua natureza caída (depravação total), sempre rejeitarão a Deus. Todavia, a essência do argumento monergístico é que Deus tem o propósito de realmente salvar as pessoas e não apenas fazê-las capazes de serem salvas.
A doutrina monergista ensina que é Deus quem age de maneira completamente soberana e independente na obra da regeneração quebrantando o coração e fazendo com que os ouvidos dos surdos ouçam e os olhos dos cegos vejam. É Deus somente quem dá iluminação e entendimento de Sua Palavra para que possamos crer. É Ele quem nos ressuscita dos mortos. O homem em seu estado caído não possui qualquer capacidade em si mesmo de amar a Deus e de viver segundo a vontade do Senhor. Ele nem mesmo pode desejar aquilo que agrada a Deus, ou compreender as coisas espirituais (1Co 2.14; Rm 3.11,12; Jo 3.19,20).
O Monergismo afirma que o novo nascimento é obra de Deus, do Espírito Santo somente, sem nenhuma escolha, ou inclinação prévia do homem. É por isso que a doutrina monergista afirma que a nossa salvação não depende de nós mesmos, porque o homem natural mergulhado no pecado está morto espiritualmente e incapaz de ter vida em si mesmo aparte de Cristo. Dessa forma, somente após ter nascido de novo é que o homem poderá responder com fé e arrependimento ao ser quebrantado pelo chamado do Evangelho. Isso significa que a regeneração é a causa da fé, ou seja, o homem não pode crer sem antes ter sido regenerado.
Ninguém pode dizer “Jesus é Senhor senão pelo Espírito Santo (1Co 12.3), da mesma forma, ninguém pode vir a Cristo a menos que o Pai lhe traga (Jo 6.44,63-65). Isso significa que ninguém pode crer no Evangelho de Cristo a menos que Deus lhe conceda isso e todos a quem isso for concedido, crerão, pois, a graça de Deus é irresistível (Ez 36.26; Mt 11.27; At 16.14; 26.18; Rm 8.29,30; 2Co 4.4-6). Pela Escritura, podemos notar que nem mesmo o arrependimento é obra da natureza humana porque a Bíblia diz em (Rm 2.4; 2Tm 2.25), que é Deus segundo a sua misericórdia quem concede arrependimento, conduzindo-nos ao pleno conhecimento da verdade. De fato, o arrependimento não é algo que o homem caído tem o desejo praticar, pois, o Senhor Jesus Cristo disse que “a Luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal aborrece a Luz, e não vem para a Luz, para que as suas obras não sejam reprovadas”. (Jo 3.19,20). Mas, quem pratica a verdade vem para a Luz, a fim de que se veja claramente que as suas obras são realizadas em Deus. (Jo 3.21).
Depois de entendermos isso, talvez você esteja perguntando: Se Deus faz tudo sozinho, se a obra da salvação do começo ao fim é um ato exclusivo de Deus, então porque evangelizar os perdidos? A resposta é simples! Devemos evangelizar a todas as pessoas por pelo menos dois motivos: Primeiro, porque é mandamento do Senhor (Mc 16.15; Mt 28.19) e como Igreja temos o compromisso de levar as boas novas aos perdidos, portanto, como cristãos verdadeiros temos dever de obedecer ao mandamento. Segundo, porque não somos oniscientes, assim como Deus que conhece todos os seus eleitos que Ele mesmo escolheu para si, antes mesmo da fundação do mundo. É por estes dois principais motivos e outros mais que o verdadeiro crente independente de ser monergista, ou sinergista deve evangelizar o mundo.
Porém, de acordo com a doutrina monergista é preciso destacar que apesar do nosso compromisso com a evangelização de todas as pessoas, pelos motivos acima esclarecidos, ninguém responderá eficazmente ao chamado do Evangelho até que Cristo os liberte da sua escravidão à corrupção da natureza. Em outras palavras, se o Espírito Santo não convencer as pessoas desse chamado, elas jamais se renderão a Cristo. Eu posso plantar como Paulo, você pode regar como Apolo, nós devemos evangelizar os perdidos; mas é Deus quem dá o crescimento. (1Co 3.6). Homem algum de si mesmo jamais terá o desejo de vir a Cristo, pelo contrário, ele sempre o rejeitará a fim de se deleitar no pecado. Por isso, é necessária uma intervenção divina, uma obra especial da graça sobrenatural para quebrantar o coração do homem, a fim de gerar nele fé arrependimento e novo nascimento.
A visão sinergista de salvação
A palavra grega συνέργεια sinergeia, “Sinergismo” tem o sentido básico de “trabalhar junto”. Segundo o dicionário formal da língua portuguesa, “Sinergismo” é a “ação combinada entre dois, ou mais fatores que contribuem para o resultado final de um processo, ou atuação”. Isso significa que segundo o pensamento sinergista, a salvação depende do esforço humano, ou seja, Deus não trabalha sozinho para salvar o homem, mas trabalha unido conosco na realização da salvação. Logo percebe-se que o Sinergismo é uma doutrina contrária ao Monergismo.
No sistema sinergista de salvação, a regeneração não depende exclusivamente da obra soberana de Deus, mas também da vontade humana. Isso significa que de alguma forma o homem tem que cooperar com Deus na obra da salvação. Ao contrário do Monergismo, o Sinergismo entende que a fé precede a regeneração. Na prática é como se Deus esperasse primeiro a vontade do homem em crer nele, então, só depois disso, Deus elege e salva o homem, ou seja, não basta Deus querer salvar o pecador, mas o pecador também precisa querer ser salvo. Se a doutrina sinergista estiver correta, eis a pergunta! Se Deus quiser salvar o homem, mas o homem não quiser ser salvo, é a vontade de Deus que prevalece sobre a vontade do homem, ou é o suposto “livre-arbítrio” humano que prevalece sobre a vontade de Deus? Segundo a ideia sinergista da salvação, a resposta para esta questão é: “A vontade do homem prevalece sobre a vontade de Deus porque segundo o sinergismo é o pecador que escolhe a Deus, e não Deus que escolhe o pecador”!
Para tentar sustentar o seu ponto de vista sobre a salvação, o Sinergismo defende que mesmo o homem caído, ou seja, completamente contaminado e arruinado pelo pecado, ainda há nele uma capacidade de caminhar em direção a Deus. Dessa forma, segundo a visão sinergista, o homem pode dar o primeiro passo e escolher Deus para alcançar a salvação pela graça. No Sinergismo a salvação é condicional à fé da pessoa. Sendo assim, eles entendem que a eleição de Deus está condicionada em nossa “capacidade” de escolher Jesus e permanecer nele. Segundo o pensamento sinergista da salvação, mesmo a humanidade estando em seu estado de depravação total por causa da queda, Deus disponibilizou a (todas as pessoas) uma espécie de “graça universal, ou graça preveniente” que permite a cada indivíduo escolher livremente aceitar ou rejeitar a Jesus Cristo. Em outras palavras, Deus tem que fazer algo para tornar a escolha de salvação possível, mas, no final das contas, é a nossa escolha que nos salva. Assim, o argumento sinérgico afirma que Deus faz a salvação possível, mas é a nossa escolha que torna a salvação real.
Enquanto o Monergismo afirma que Deus é uma condição tanto necessária quanto suficiente para a nossa salvação, o Sinergismo defende que embora Deus seja uma condição necessária para a nossa salvação, Ele não é suficiente. O nosso “suposto livre-arbítrio” e a vontade de Deus são o que o torna suficiente. Se a visão sinérgica da salvação estiver correta, então, somos obrigados a dizer que Deus realmente não salva ninguém. O que o Sinergismo faz é pôr em nós a responsabilidade da salvação porque segundo essa doutrina, nós é que temos que tornar a salvação real ao colocar a nossa fé em Cristo (Jo 3.36). E, se Deus realmente não salva ninguém, mas somente torna a salvação possível, como explicar passagens claras como Romanos 8.28-30? Aqui nessa passagem não existe uma potencialidade humana de aceitação ou de rejeição a Cristo, pelo contrário, todos os verbos gregos nessa passagem são aoristos – indicativos, o que significa que a ação de Deus em relação a nossa salvação é completa. É claro que não se pode negar que a fé é necessária para salvação da pessoa, porém, a fé não precede a eleição divina que ocorre antes da fundação do mundo (Ef 1.4). Não existe fé verdadeira sem antes ouvirmos ao chamado do Evangelho: “Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue”? (Rm 10.14).
Ninguém pode escolher a Deus, sem que antes seja regenerado por Ele. Antes que isso aconteça as pessoas jamais poderão entender o Evangelho com os olhos do Espírito, ou seja, não basta um entendimento racional, primeiro a pessoa precisa ser regenerada, pois somente assim ela poderá entender o Evangelho e se dirigir a Cristo que lhe concederá fé e arrependimento para o receber como único e suficiente Salvador.
Particularmente defendo a salvação do ponto de vista monergista porque entendo que há muitas evidências bíblicas claras que apoiam essa visão. A salvação é uma obra de Deus, sem qualquer cooperação dos homens. É Deus e (não o homem) que do princípio ao fim TRABALHA SOZINHO e realiza a obra de salvação no pecador. É Ele que escolhe, é Ele que nos predestinou para sermos semelhantes à imagem do seu Filho, é Ele que chama, é Ele que justifica, é Ele que gera fé e arrependimento em nossos corações, é Ele que nos faz nascer de novo e, é Ele que em breve nos glorificará. “E estou plenamente convicto de que Aquele que iniciou boa obra em vós, há de concluí-la até o Dia de Cristo Jesus”. (Fp 1.6). Portanto, toda a glória da salvação seja dada a Deus e não ao homem porque “a salvação vem do Senhor”. (Jn 2.9).
JESUS FAZ A DIFERENÇA