A LETRA MATA, MAS O ESPÍRITO VIVIFICA
“A Letra mata, mas o Espírito vivifica”, são palavras do apóstolo Paulo em sua segunda carta aos Coríntios, capítulo 3, verso 6. Mas, o que Paulo quis nos ensinar aqui?
Antes de respondermos essa pergunta é muito importante dizer que estamos diante de um dos textos mais distorcidos, e aplicado de forma errada nos púlpitos de várias igrejas “protestantes”. Muitos pastores e pregadores do Evangelho sem nenhuma base bíblica, usam a expressão “a letra mata, mas o Espírito vivifica” para afrontar, insultar, atacar e condenar aqueles prezam pelo estudo sistemático e diligente das Sagradas Escrituras. Porém, eles se esquecem que o próprio Senhor Jesus Cristo, ordenou aos seus seguidores: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim”. (Jo 5.39). Por causa do mandamento divino, muitos pastores e teólogos estudam exaustivamente as Escrituras a fim de serem aprovados por Deus, como homens que “não tem do se se envergonharem e manejam corretamente a Palavra da verdade”, conforme está escrito em (2Tm 2.15).
Se pretendemos interpretar corretamente o que Paulo quis dizer em (2Co 3.6), precisamos examinar cuidadosamente o contexto dessa passagem a fim de que possamos entender claramente essa expressão usada pelo apóstolo. No contexto dessa passagem, Paulo faz um contraste muito importante entre a “impropriedade” do sistema do Velho Testamento e a “suficiência” de Cristo para nos salvar do pecado.
A “letra” representa o “ministério da morte, gravado com letras em pedras” que foi dado aos israelitas através de Moisés. “Com letras sobre pedras foi gravado o mistério que trouxe a morte; no entanto, esse ministério veio com tamanha glória que os filhos de Israel não conseguiam sequer fixar os olhos na face de Moisés, por causa do resplendor do seu rosto, mesmo que esse brilho estivesse se desvanecendo. (2Co 3.7).
O “Espírito” representa a “Nova Aliança estabelecida pelo sangue de Cristo” derramado na cruz do calvário, e que nos foi revelada através do Espírito Santo e escrita em nossos corações. “Vós mesmos tendes demonstrado que sois uma carta de Cristo, resultante de nosso ministério, escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de corações humanos”! E é por intermédio de Cristo que temos tamanha confiança em Deus. Ele nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; porquanto a letra mata, mas o Espírito vivifica! Não será o ministério do Espírito muito mais glorioso”? (2Co 3.3,4,6,8).
Portanto, a “letra que mata” era justamente isso! A Antiga Aliança, o código penal mosaico utilizado pela nação de Israel, durante o surgimento da Lei. A passagem em questão nada tem a ver com o estudo da Bíblia e da Teologia.
Quando no início da minha caminhada cristã, ou seja, quando era novo convertido, eu ouvia meus pastores dizerem que meditar na Palavra de Deus era tão essencial e indispensável para a vida cristã, quanto comer e respirar. No entanto, quando eu tomei a decisão de começar a estudar teologia, ouvi coisas absurdas, como por exemplo: Olha, não estuda teologia não porque a sua "fé vai esfriar", os "dons do Espírito", e o "poder de Deus" vão desaparecer da sua vida". Quanta bobagem! O estudo profundo das Escrituras, bem como da Teologia nunca matou ninguém espiritualmente, pelo contrário, o mundo tem sido transformado pelo poder do Espírito de Deus que tem cpacitado homens a ensinar com profundidade a Sua Palavra. Paulo, por exemplo, em seus primeiros anos no cristianismo, admitiu em seus escritos que ele aprendeu o Evangelho com o Senhor Jesus (Gl 1.11,12,17), na Arábia, logo após sua conversão. Porém, por causa da perseguição dos gregos, Paulo foi enviado para Tarso, onde ficou dez anos em anonimato estudando as Escrituras (At 9.26-31). Prova disso, temos na reação de Festo, dainte da defesa do Evangelho que Paulo fez: "Estás louco, Paulo! As muitas letras te fazem delirar!" (At 26.24). Em outras palavras: "Paulo você está maluco de tanto estudar!" Depois disso o rei Agripa ponderou: "Crês tu que em tão pouco tempo pode persuadir-me a converter-me em um cristão"? Diante disso Paulo declarou: "Seja em pouco, ou muito tempo, suplico a Deus que não somente tu, ó rei, mas todas as pessoas que hoje me ouvem se torne como eu, todavia, livres dessas algemas!" (At 26.28,29).
Portanto, quem utiliza a expressão “a letra mata, mas o espirito vivifica”, a fim de justificar algum ensino doutrinário humano e anti-bíblico, do tipo: a "letra da teologia" mata o fervor espiritual, ou para falar contra os servos de Deus que anseiam por sua Palavra, que estudam com profundidade, meditando nela dia e noite (Js 1.8), demostra total negligência para com as coisas de Deus e apresenta uma bela desculpa para não estudar as Escrituras, "para não estudar Teologia" e assim crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. (2 Pe 3.18).
Dessa forma, eu gostaria de encerrar o assunto com as palavras de Charles Haddon Spurgeon, que viveu no século XIX, teólogo protestante reformado, conhecido como príncipe dos pregadores! “Se você deseja conhecer Deus, você deve conhecer Sua Palavra; se você deseja compreender seu poder, você deve ver como Ele opera em sua Palavra; se você deseja conhecer seu propósito antes que de fato venha a acontecer, você só pode descobrir pela Sua Palavra”.
“Examinais as Escrituras”.
JESUS FAZ A DIFERENÇA.