A Paixão segundo São Lucas
A PAIXÃO SEGUNDO SÃO LUCAS
Miguel Carqueija
Conforme a tradição o evangelista Lucas, autor também dos Atos dos Apóstolos, era médico e de origem grega. Como outro evangelista, São Marcos, não está entre os doze Apóstolos originais, nem na formação definitiva após a defecção e suicídio de Judas Iscariotes, quando, como se sabe, este último foi substituído por São Matias. Mesmo assim, sendo evangelistas canônicos, Lucas e Marcos merecem ser vistos como apóstolos, da mesma forma que São Paulo, o “Apóstolo dos Gentios”.
Lucas relata a fraqueza de Pedro, que porém seria o primeiro Papa, previamente escolhido por Jesus. É um episódio que frisa bem como o homem é fraco ainda em suas melhores intenções e que tudo deve a Deus, em quem convém por toda a confiança e não nas próprias forças. Com efeito São Pedro chegou a declarar: “Senhor, estou pronto a ir contigo tanto para a prisão como para a morte.”, e a isso Nosso Senhor respondeu: “Digo-te, Pedro, não cantará hoje o galo até que três vezes hajas negado que me conheces” (Lc 22, 33-34). Após a prisão de Cristo este foi levado à casa de Caifás, então Sumo Sacerdote. Pedro ficou no pátio junto dos criados, aquecendo-se no fogo. Várias pessoas julgam reconhecê-lo como um dos que acompanhavam Jesus, e Pedro, já acovardado, negou veementemente. O canto do galo ot raz à realidade; “Saiu dali e chorou amargamente” (Lc 22,62). Existe até uma tradição, mas que não podemos afirmar, de que as lágrimas vincaram o rosto de Pedro, que assim teria ficado marcado pelo resto da vida, por seu profundo arrependimento.
Fica claro no julgamento do Conselho que o verdadeiro motivo da condenação não foi político e sim religioso, pois Jesus afirma: “doravante o Filho do homem estará sentado à direita do poder de Deus”. À pergunta “Logo, tu és o Filho de Deus?” vem a taxativa resposta: “Sim, eu sou” (Lc 22, 69-70).
As alegações feitas ao Governador da Judeia, Pôncio Pilatos, são pois deliberadamente falsas. Ao representante do poder romano as razões religiosas pouco importavam, daí o esforço para apresentar Jesus como um rebelde, um líder revolucionário que ameaçava a ordem constituída. Pilatos queria inocentar Jesus, mas temendo que o enredassem com Roma procurou tirar o corpo fora. Aproveitando a presença de Herodes, que tinha jurisdição na Galileia, Pilatos enviou-lhe Jesus. Levado por vã curiosidade Herodes interrogou o prisioneiro: “Dirigiu-lhe muitas perguntas, mas Jesus nada respondeu” (Lc 23,9). Herodes manda-o então de volta a Pilatos. Daí surgiu a expressão “de Herodes a Pilatos”, que hoje se refere a quem sofre pelas repartições públicas. Porém o entrecho já revela um vício muito comum na política, o dos conchavos: “Naquele mesmo dia Pilotes e Herodes fizeram as pazes, pois antes eram inimigos um do outro” (Lc 23,12).
É significativa a declaração de Pilatos: “Apresentaste-me este homem como agitador do povo, mas interrogando-o eu diante de vós não o achei culpado de nenhum dos crimes de que o acusais” (Lc 23,14). Mas o tumulto crescia e a turba, aos gritos de “Crucifica-o! Crucifica-o!” conseguiu intimidar o juiz, que ainda tenta a barganha de Barrabás: soltar um ou outro. A canalha, como sabemos, preferiu Barrabás. A covardia de Pilatos se consuma com o ridículo ato de lavar as mãos, conforme narrado no Evangelho de São Mateus (Mt 27,24).
Jesus foi crucificado entre dois malfeitores, um dos quais manifestou arrependimento, repreendendo até o outro que blasfemava: “Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício? Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos crimes, mas este não fez mal algum.” E acrescentou: “Jesus, lembra-te de mim quando tiveres entrado no teu reino.” Jesus respondeu-lhe: “Em verdade te digo que hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 39-43). Este trecho, além de confirmar a imensa misericórdia de Deus, desmente a tese protestante de que não existe vida entre a morte do corpo e o Juízo Final.
Por fim o próprio centurião romano, que presidia a execução, deu o seu testemunho: “Vendo o centurião o que acontecia, deu glória a Deus e disse: “Na verdade, este homem era um justo” (Lc 23,47).
Meditemos, neste período pascoal, no sofrimento e dores de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pensemos no quanto Ele fez para nos salvar. Devemos nós, agora, desperdiçar este manancial de graças?
Rio de Janeiro, 30 de março de 2018, Sexta-Feira Santa.
(imagem do Santo Sudário)
A PAIXÃO SEGUNDO SÃO LUCAS
Miguel Carqueija
Conforme a tradição o evangelista Lucas, autor também dos Atos dos Apóstolos, era médico e de origem grega. Como outro evangelista, São Marcos, não está entre os doze Apóstolos originais, nem na formação definitiva após a defecção e suicídio de Judas Iscariotes, quando, como se sabe, este último foi substituído por São Matias. Mesmo assim, sendo evangelistas canônicos, Lucas e Marcos merecem ser vistos como apóstolos, da mesma forma que São Paulo, o “Apóstolo dos Gentios”.
Lucas relata a fraqueza de Pedro, que porém seria o primeiro Papa, previamente escolhido por Jesus. É um episódio que frisa bem como o homem é fraco ainda em suas melhores intenções e que tudo deve a Deus, em quem convém por toda a confiança e não nas próprias forças. Com efeito São Pedro chegou a declarar: “Senhor, estou pronto a ir contigo tanto para a prisão como para a morte.”, e a isso Nosso Senhor respondeu: “Digo-te, Pedro, não cantará hoje o galo até que três vezes hajas negado que me conheces” (Lc 22, 33-34). Após a prisão de Cristo este foi levado à casa de Caifás, então Sumo Sacerdote. Pedro ficou no pátio junto dos criados, aquecendo-se no fogo. Várias pessoas julgam reconhecê-lo como um dos que acompanhavam Jesus, e Pedro, já acovardado, negou veementemente. O canto do galo ot raz à realidade; “Saiu dali e chorou amargamente” (Lc 22,62). Existe até uma tradição, mas que não podemos afirmar, de que as lágrimas vincaram o rosto de Pedro, que assim teria ficado marcado pelo resto da vida, por seu profundo arrependimento.
Fica claro no julgamento do Conselho que o verdadeiro motivo da condenação não foi político e sim religioso, pois Jesus afirma: “doravante o Filho do homem estará sentado à direita do poder de Deus”. À pergunta “Logo, tu és o Filho de Deus?” vem a taxativa resposta: “Sim, eu sou” (Lc 22, 69-70).
As alegações feitas ao Governador da Judeia, Pôncio Pilatos, são pois deliberadamente falsas. Ao representante do poder romano as razões religiosas pouco importavam, daí o esforço para apresentar Jesus como um rebelde, um líder revolucionário que ameaçava a ordem constituída. Pilatos queria inocentar Jesus, mas temendo que o enredassem com Roma procurou tirar o corpo fora. Aproveitando a presença de Herodes, que tinha jurisdição na Galileia, Pilatos enviou-lhe Jesus. Levado por vã curiosidade Herodes interrogou o prisioneiro: “Dirigiu-lhe muitas perguntas, mas Jesus nada respondeu” (Lc 23,9). Herodes manda-o então de volta a Pilatos. Daí surgiu a expressão “de Herodes a Pilatos”, que hoje se refere a quem sofre pelas repartições públicas. Porém o entrecho já revela um vício muito comum na política, o dos conchavos: “Naquele mesmo dia Pilotes e Herodes fizeram as pazes, pois antes eram inimigos um do outro” (Lc 23,12).
É significativa a declaração de Pilatos: “Apresentaste-me este homem como agitador do povo, mas interrogando-o eu diante de vós não o achei culpado de nenhum dos crimes de que o acusais” (Lc 23,14). Mas o tumulto crescia e a turba, aos gritos de “Crucifica-o! Crucifica-o!” conseguiu intimidar o juiz, que ainda tenta a barganha de Barrabás: soltar um ou outro. A canalha, como sabemos, preferiu Barrabás. A covardia de Pilatos se consuma com o ridículo ato de lavar as mãos, conforme narrado no Evangelho de São Mateus (Mt 27,24).
Jesus foi crucificado entre dois malfeitores, um dos quais manifestou arrependimento, repreendendo até o outro que blasfemava: “Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício? Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos crimes, mas este não fez mal algum.” E acrescentou: “Jesus, lembra-te de mim quando tiveres entrado no teu reino.” Jesus respondeu-lhe: “Em verdade te digo que hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 39-43). Este trecho, além de confirmar a imensa misericórdia de Deus, desmente a tese protestante de que não existe vida entre a morte do corpo e o Juízo Final.
Por fim o próprio centurião romano, que presidia a execução, deu o seu testemunho: “Vendo o centurião o que acontecia, deu glória a Deus e disse: “Na verdade, este homem era um justo” (Lc 23,47).
Meditemos, neste período pascoal, no sofrimento e dores de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pensemos no quanto Ele fez para nos salvar. Devemos nós, agora, desperdiçar este manancial de graças?
Rio de Janeiro, 30 de março de 2018, Sexta-Feira Santa.
(imagem do Santo Sudário)