PALAVRAS, INTENÇÕES E AÇÕES

Jesus ensina numa parábola o devido valor das palavras, intenções e ações. Disse que um pai tinha dois filhos e os manda trabalhar na vinha. O primeiro diz que irá, mas não vai. O segundo diz que não quer ir, mas termina indo. Jesus conclui a parábola perguntando: “Qual dos dois filhos fez a vontade do Pai?”

Com isso Ele demonstra que o importante não são as palavras, nem as intenções. O primeiro falou que ia, mas não foi. O segundo disse que não queria ir, não tinha intenção de ir, mas terminou indo. Então, prevaleceu a ação. O segundo filho fez a vontade do Pai.

Também tem aquela parábola das 10 virgens onde 5 delas esperam o noivo à noite com sua lâmpadas abastecidas de óleo, enquanto as outras 5 não cuidaram desse abastecimento. Com o decorrer da noite faltou o óleo daquelas que não se precaveram, que não agiram para deixar também suas lâmpadas abastecidas. Em vão pediram as colegas o óleo necessário, pois elas não iriam ficar desabastecidas à espera de evento tão significativo. Elas tiveram que ir em busca do óleo e quando chegaram o noivo havia chegado e estava com suas colegas.

Esta é outra lição que demonstra a importância da ação, e que cada pessoa deve agir para se capacitar a receber a devida honraria espiritual. Ninguém que faz suas ações e se torna capacitado, pode transferir essa capacitação a quem não agiu.

Julgamos as outras pessoas pelas obras, pelo o que fazem ou deixam de fazer, pelo que dizem ou deixam de dizer, mas nós mesmos, nos julgamos, só pelas intenções e quase sempre nos justificamos.

O padre Rodrigo Hurtado, diz que Santo Inácio desenvolve este tema numa meditação chamada “três binários” (que nós diríamos hoje dos três caminhos). É uma meditação termômetro, para medir como está nosso amor para com Cristo, nossa decisão de segui-lo.

A ideia é a seguinte: “se você quer seguir Jesus, tem que desempoeirar algo que recebeu lá no seu batizado faz muito tempo”. Ou seja, reavivar a sua capacidade de discernimento entre o bem e o mal e o amor por Deus, acima de qualquer outra coisa no mundo. Isso porque, com o passar do tempo, nosso coração encontra “outros amores” e nossa capacidade de discernimento vai se nublando.

Santo Inácio apresenta nessa meditação três cenários, nos quais pode se encontrar nossa vontade.

O primeiro cenário é aquele que ele chama de “covardes”. São aqueles que não se atrevem ainda a tomar uma decisão por Cristo. Até gostariam, mas esse “gostaria” não é ainda um “quero”. É um estado de desejo ambíguo. Quer querer, mas ainda não quer.

O segundo cenário é aquele das pessoas que tomaram a decisão de lutar contra o vício ou de mudar alguma conduta de pecado, mas querem mudar de tal jeito que o pecado continue. Poderíamos dizer que eles querem o objetivo: se livrar do vício do álcool, por exemplo, mas não querem os meios para alcançar esse objetivo, ou seja, se encontrar com os amigos que sempre bebem com ele, frequentar os Alcoólicos Anônimos, evitar ficar perto de bebidas alcoólicas, etc. É a luta pelo desprendimento. Queremos deixar algo mas estamos apegado aquilo. Santo Inácio chama este grupo de “trapaceiros”. Querem fazer a vontade do Pai, mas também a vontade deles. E isso não é possível. Este é o grupo dos que tentam muitas vezes deixar o pecado e voltam continuamente a repeti-lo. Querem o objetivo, mas não os meios.

Em terceiro lugar está o cenário dos “comprometidos”. São aqueles que querem desprender-se do pecado e estão dispostos a utilizar-se de todos os meios que sejam necessários para alcançar este objetivo. Esses têm um amor verdadeiro por Jesus. Esses são os que conseguem testemunhar com os fatos, com obras, suas boas intenções.

Esta é uma boa classificação para enquadrarmos aqueles que já conhecem as lições do Mestre e pensam em segui-las. Do meu lado, fazendo uma auto avaliação, posso ver que tenho uma classificação no geral e outra no particular, com cada um dos pecados que reconheço e que desejo enfrentar. Por exemplo, a gula e a preguiça. Já tomei a decisão de lutar contra eles, de mudar a conduta, mas continuo a agir de forma que eles continuam. Posso ser considerado como um trapaceiro. Por outro lado, o ciúme, que um dia eu exibia, hoje não existe nenhum vestígio. Aqui posso me considerar como comprometido.

Então, fazendo um tipo de retrospecto de tudo que faço ou deixo de fazer no meu repertório comportamental dirigido às ações ensinadas pelo Cristo, me considero situado entre trapaceiro e comprometido, me esforçando a cada dia para deixar de ser trapaceiro e me tornar totalmente comprometido. O estágio de pureza espiritual. Sei que uma só encarnação não será possível atingir esse estágio, mas lutarei persistentemente em cada encarnação que o Pai me oferecer.