Uma visão filosófica do perdão
Uma visão filosófica do perdão
“Ao Senhor nosso Deus pertencem a misericórdia e o perdão...”
Dn 9.9
O fato de sermos livres pensadores não nos atribui o poder de não parametrizarmos nossos conceitos e valores, especialmente no que diz com a sabedoria secular/milenar de nossos antepassados.
Diante de tal juízo, um tema que merece considerações resultantes de profunda reflexão é o PERDÃO para o qual o escritor sagrado dedicou inúmeras citações e apontamentos, como o que serve de antífona a este escrito.
Tenho para mim que o perdão é uma nobre faculdade que nos foi atribuída para que estabeleçamos uma forte ligação com o Grande Arquiteto do Universo, numa clara e inequívoca demonstração de humildade e respeito aos seus ensinamentos.
Diferentemente da desculpa, que resulta de nossas relações interpessoais, sem o envolvimento com o Sagrado, o perdão é o ato pelo qual a Criatura abdica o seu juízo subjetivo acerca de suposta ofensa em favor do Divino, deixando de julgar a conduta, posto que ao Sagrado caiba a escusa do delito.
Enquanto na desculpa fica isento de culpa o “infrator”, no perdão ocorre a transferência do juízo de apreciação ao Sublime, ficando os ombros da “vítima” livres da análise da conduta censurada. É a atitude de confiança absoluta da criatura em ralação ao Criador, haja vista que aquela, por convicção, cede a Ele o julgamento de qualquer conduta eventualmente nociva aos valores que defende, libertando-se, por corolário, da mágoa e da dor existentes.
É por isso que o Mestre Jesus, ao ser questionado por Pedro se deveria este perdoar sete vezes, recebeu Dele a assertiva: “Eu não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes” (Mt 18, 21-28).
Dito isso, concito todos a perdoar, fazendo desse convite um ósculo sagrado em cada um e em todos, de maneira que, com tal atitude, sigamos os ensinamentos do Mestre da Galileia com humildade e obediência ao Sagrado.