O QUE A BÍBLIA FALA... DA SAUDE PUBLICA
INTRODUÇÃO
UM dos maiores problemas mundiais é a respeito da saúde publica. Mas o que a Bíblia nos fala a respeito da saúde. Acredito que esse estudo ultrapassa apenas mostrar como a Bíblia via isso no Antigo Testamento e no Novo Testamento, mas vai a partir daí nos explicar alguns fatos a respeito da Palavra que nós pregadores gostaríamos de saber, para ensinar melhoro povo de Deus.
A BÍBLIA E A SAÚDE
Num primeiro momento, notamos que Jesus Acreditava que a doença é o resultado da transgressão das leis de Deus e que portanto a saúde é sinônima de uma relação com Ele e obediência a essas leis, e que a cura do corpo nunca é puramente física, nem a cura da alma puramente espiritual, mas que ambas se relacionam.
A SAUDE NA ANTIGUIDADE
A literatura registra que entre os povos sem escrita, as pessoas associavam as enfermidades a causas sobrenaturais. Havia um consenso comum que a doença fazia parte das crenças religiosas e os deuses era quem os causava.
O CONCEITO DA SAUDE EM ISRAEL
Percebe-se que há no judaísmo bíblico um predomínio de elementos religiosos sobre o conceito de saúde e doença. Para o entendimento hebraico não são os demônios os responsáveis pelas doenças. A doença é entendida como uma punição, mas esta vem diretamente de Deus.
Por outro lado, os que são obedientes a Yahweh têm outra recompensa: “Servireis ao Senhor vosso Deus e Ele abençoará o vosso pão e a vossa água, e tirará do vosso meio as enfermidades.”
A essência dessa obediência estava relacionada à observância do código mosaico de saúde (Lv. 19-27; Dt. 22-26). Mas a saúde, como produto final destas leis, apresenta-se como secundária. A verdadeira razão é obter um valor moral superior ao que se observava nas nações estrangeiras: “Vocês serão santos para Mim, o Senhor vosso Deus, porque Eu sou Santo.”
De um modo geral, o conceito de saúde e doença na cultura hebraica, é que Yahweh castiga os ímpios com sofrimento, conforme se pode perceber a partir da narrativa encontrada no livro de Jó. Segundo os amigos de Jó, a retribuição divina é a resposta para as inquietudes de Jó sobre o seu estado de saúde, que eles acusaram como sendo pecado em Jó. Essa mentalidade ainda ocorre hoje em dia.
Por sua vez, o tratamento para as doenças também procede de Deus, o qual é descrito como “quem perdoa todas as iniqüidades e quem cura todas as tuas enfermidades” ou como “o Senhor que te sara.” A figura do médico quase não aparece no Antigo Testamento. Em alguns relatos, observa-se a figura do profeta intermediando
a cura.
Percebe-se que a tradição judaica, vê a cura como um processo de
restauração, em que as áreas física, mental, espiritual e social, precisam
ser reparadas. Nos salmos (41:3 e 4; 30:3-6) a oração de cura sempre
está relacionada à confissão do pecado. Assim a mentalidade primária do
povo judeu, sem a interferência da cultura helena, concebia a saúde como
um estado de equilíbrio e bem-estar entre o corpo, a mente, as emoções e
a espiritualidade.
O CONCEITO DE SAÚDE E DOENÇA NO NOVO TESTAMENTO
O conceito de saúde e doença no Novo Testamento, deve ser entendido a partir de
uma análise da influência dos escritos do Antigo Testamento, one defende-se a idéia de que a fonte de saúde e bem estar é Deus. O quadro retratado em Gn. 1-2, de um
ambiente que fora criado em uma perfeita ordem e estado, sobre o qual as palavras do próprio Yahweh expressam “que era muito bom” (Gn. 1:35), dão uma ideia da perfeição da criação de Deus, sobretudo, o homem, que Deus o fez conforme a sua imagem e semelhança, em perfeita simetria e em perfeito estado de saúde (Gn. 2:7, 21-22). 46
A OMS (Organização Mundial de Saúde) conceitua o termo saúde, como um completo bem estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doenças. Sendo assim o desemprego é uma forma de doença social, assim como a corrupção. Contudo, essa definição não abrange toda a visão bíblica, a qual inclui o fator espiritual como essencial para que o bem estar humano de fato possa se efetivar, visto que Deus é o doador de um estado perfeito. Assim a saúde é vista como o resultado de uma relação de aliança com Deus. A doença, portanto, é vista como quebra da relação com Deus,
o que deu lugar aos processos degenerativos (Gn. 3). Por outro lado, a fidelidade para
com Yahweh e sua lei traz proteção contra a doença, nas diversas formas
em que ela se apresenta (Êx. 15:26; 23:20–26; Dt. 7:12–15; Pv. 3:7, 8).
O profeta Jeremias fala a respeito de um concerto de paz, entre
Deus e Seu povo. Esse concerto se concretiza nos relacionamentos inter-pessoais, no próprio estilo de vida, como reflexo de uma completa submissão à vontade de Deus, a qual traria um completo bem-estar físico, mental, social e espiritual. No relato da cura da mulher com um fluxo de sangue, as palavras de Jesus: “Filha a tua fé te salvou, vai em paz, e sê curada deste teu mal”( Mc . 5:34) apontam claramente para o conceito de saúde integral, o bem-estar não somente do corpo, mas também da alma. Isto se torna claro pelo uso do termo “paz”, que remete à palavra shalom, a qual, , diz respeito ao fato de que saúde é mais do que um estado de ausência de doenças, mas uma plenitude saudável em todas as áreas de nossas vidas.
A literatura bíblica relata diversos tipos de enfermidades que acometeriam as pessoas, assim como as crendices e alguns procedimentos de cura propostos para as mesmas. Assim, é possível encontrar referências a doenças oftalmológicas (Êx. 4:11; 2 Rs 6:18; Mc. 8:22-26; 10:46-52); mudez e surdez (Lv. 19:14; Mc. 7:32-33), problemas cutâneos (Lv. 13:30, 39), incluindo a lepra, sobre a qual existe a dúvida se ela era a hanseníase atual, epidemias (Êx. 9:14; 1 Sm. 6:4), paralisia (Mt. 9:2; Mc. 2:3, Lc. 5:18), epilepsia (Lc. 9:39, Mc. 9:17-18), acidente vascular cerebral (I Sm. 25: 36), febre (Lv. 26:24-41; Dt. 28:15-68), furúnculos (Ex. 9:8-12), gonorreia (Lv. 15:2), diarreia (2 Cr. 21:14-18), etc. A fi m de alcançar a cura para essas doenças, o indivíduo precisava entrar num plano de cooperação com Deus, o que pode notar a partir dos registros encontrados nos cinco primeiros livros do Antigo Testamento, e suas leis sanitárias, algumas das quais são discriminadas abaixo.
- Devia-se enterrar os excrementos humanos ( Dt. 23:13:14);
- Devia-se cuidar da conservação dos alimentos (Êx. 16:19; Lv. 11:31-40; 19:5-8);
- Devia-se prevenir da transmissão de enfermidades, com o asseio pessoal e lavagem das roupas (Gn. 35:2; Êx. 19:10; Lv. 17:15,16);
- Devia-se isolar das pessoas que estavam com problemas dermatológicos, ou com enfermidades genitais, que apresentassem fluxo (corrimento);
- Devia-se esterilizar as armas e materiais utilizados nas guerras, com o fim de evitar contaminação (Nm. 31:21-24);
- Exigia-se exclusividade sexual para o cônjuge, com o propósito de evitar as enfermidades sexuais;
- Com referência às leis dietéticas, o livro de Gênesis, nos capítulos, 1:29, 30; 3:18, aponta que Deus estabeleceu uma dieta vegetariana;
- Para a cura das enfermidades relacionadas às emoções, foi prescrito o sistema de sacrifícios, o qual trazia perdão e paz, conforme se pode aprender a partir do seu simbolismo.
O CONCEITO DE SAÚDE E DOENÇA NAS CURAS DE JESUS NO NT
Não seria possível falar sobre o conceito de saúde e doença no NT sem mencionar os relatos das curas realizadas por Jesus, as quais revelam o seu conceito sobre as mesmas. O Talmude relata várias crendices dos judeus sobre o processo de cura, tais como o uso de couve, beterraba, ervas secas, tripas, útero, e fígado. Alguns também consideravam que peixes pequenos eram importantes. Sobre os sinais de recuperação, acreditava-se que: espirros, suor, entranhas abertas, emissão seminal, sono e sonhos eram animadores. Por outro lado, dez fatores podiam aumentar as enfermidades: comer carne, gordura de carne assada, frango, ovo assado, pimenta, agrião, leite ou queijo, barbear-se e usar balneários.
Com base no NT, pode-se afirmar que Jesus nunca utilizou os métodos helenísticos de tratamento. Seu método era simples, algumas palavras e um toque. Ele observava a doença, considerando sua causa. Quanto aos curandeiros gregos, estes faziam uso do método de isolamento, transes hipnóticos e encantamentos. Em suas curas Jesus buscava sempre estabelecer uma ligação entre o homem e Deus. Desse modo, para que um doente pudesse receber a cura, ele deveria exercer fé, a qual era demonstrada com uma vida de obediência.
No Novo Testamento uma das palavras mais usadas para cura é soteria, a qual também pode ser traduzida como salvação. Mateus confirma esse pensamento, ao incluir em sua narrativa, a cura da sogra de Pedro e de outros enfermos ( Mt. 8:14-17).
Desse modo, observa-se que Jesus associava suas curas ao poder de Deus, e sempre o perdão dos pecados estava associado com o milagre. Apos curar o aleijado do tanque de Betesda, Joao relata: “Depois Jesus encontrou-o no templo, e disse-lhe: Eis que ja estas são; nao peques mais, para que não te suceda alguma coisa pior.” ( Jo 5:14).
Ao se analisar a cura do cego de Jerico, observa-se que Jesus sempre realizava os seus milagres com a colaboração dos sofredores. Marcos 10:46-52 relata que o cego “deixando a sua capa, levantou-se e foi ate Jesus” (Mc 10:50). Essa atitude demonstra que o enfermo tinha algo a fazer a fim de contribuir para o processo de cura. No entanto, essa contribuição fica desprovida de poder em si mesma, uma vez que Deus é o grande medico (Sl. 103:3). Jesus anula, portanto, qualquer possibilidade de cura atraves de poderes magicos, como se acreditava na epoca.
Jesus busca dar esperança às pessoas e curá-las de suas enfermidades. Uma vez que a palavra traduzida para saúde (Shalom) requer um estado de integralidade, em todas as áreas do ser humano, (social, física, mental e espiritual), não se pode considerar saudável uma pessoa que cansada e sobrecarregada. Parece claro que a comunidade cristã do primeiro século demonstrava grande preocupação com a saúde. O último dos discípulos de Jesus demonstra essa preocupação ao registrar na sua terceira carta: “Amados, acima de tudo faço votos pela tua prosperidade e saúde. (3 Jo. v.2).
Os escritos paulinos também fazem referências ao cuidado que se deve ter com a saúde (1 Cor. 3:16-17; 10:31). O livro do Apocalipse, por sua vez, reflete a confiança apostólica de que o planeta será restaurado à condição de perfeição criada por Yahweh, na qual não havia lugar para doenças.
A mensagem de Apocalipse 14 apresenta um convite segundo o qual os moradores da Terra são convocados a dar glórias a Deus. O apóstolo Paulo, na Primeira Carta aos Coríntios, busca a atenção dos ouvintes para o fato de que glorificar a Deus implica também o cuidado com o corpo: Acaso não sabeis que o vosso corpo é o santuário do Espírito Santo, que habita em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos. Porque fostes comprados por preço. Agora, pois glorificai a Deus no vosso corpo. I Co 6:19-20.
Na mesma carta, Paulo diz claramente que se pode glorificar a Deus quando se come, bebe, ou se faz qualquer outra coisa (I Co 10:31), e essas ações estão diretamente relacionadas à saude. Assim a expressão: “tudo para a glória de Deus”, está relacionada aos bons hábitos de saúde que precisam ser praticados para manter o organismo em condição de vencer as constantes ameaças a que o corpo está susceptível. Deste modo, inclui-se também a prática da atividade física, uma vez que ela desenvolve resistência necessária para as atividades do cotidiano, agindo como um fator protetor de doenças degenerativas.
O ar puro é inerente à vida, e se faz necessário que o ser humano respire ar puro, sem poluição. o uso do sol facilita os processos bioquímicos do organismo, combate os parasitas, e é anti-depressivo; o descanso físico proporcionado pelo sono, permite ao organismo se regenerar das conseqüências metabólicas, promotoras de radicais livres.
Paulo toca novamente na questão do cuidado ao corpo em sua epístola aos tessalonicenses. Ele demonstra o seu desejo de que “o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda do Senhor Jesus Cristo”( I Ts. 5:23). Bruce, ao comentar essa epístola, assegura que a interpretação desse desejo de Paulo, deve estar relacionada à ideia de que os fiéis devem buscar preservar a sua mente, emoções, e o corpo. Vê-se assim o desejo de Jesus de ver os seus seguidores em busca de um estado de saúde integral, descrito a partir do termo shalom, no Antigo Testamento.
Paulo demonstra esse pensamento na Epístola aos Tessalonicenses, (I Ts. 5,23), quando ora para que o Deus da Paz santifique os fiéis de Tessalônica, almejando que a santidade seja notada na vida destes através de uma inteira obediência à Palavra de Deus. Essa santificação permeia todo o ser de uma pessoa, incluindo o corpo que deve ser conservado a cada dia, até a parousia.
Sendo assim o homem tem responsabilidades com seu corpo e deve mantê-lo saudável. Drogas, bebidas, fumo, falta de asseio, sono, vestimenta inadequada, passar frio à toa por exemplo, e falta de descanso são um atentado quanto ao seu corpo e portanto não aceitável perante Deus.
O mesmo princípio é visto no livro de Apocalipse. Diversos comentaristas concordam que a palavra glória, contida em Apocalipse tem a ver com a guarda dos mandamentos de Deus e o respeito para com a Sua palavra.
O entendimento de Paulo sobre dar glória a Deus é caracterizado nas ações da vida diária, principalmente quando se come se bebe e se faz alguma ação que conserve o templo do Espírito Santo. ( I Co 10:31).
Amém
Paulo Sergio Larios
BIBLIOGRAFIA:
A saúde e doença na antiguidade: A influência do conceito grego-romano sobre o juadismo bíblico e o Novo Testamento. Jair Junio Miranda