QUATRO VISÕES DA CRUZ

A letra é dura e fria, por isso o escritor deve procurar alguma maneira de fazer essa letra ficar gravada na mente do leitor. A Bíblia é um livro, a principio igual a todos os livros, não tendo em si mesmo poderes místicos. Ao lermos a Bíblia, notamos entretanto que em muitos momentos o como ela é visual, em algumas passagens. Ao lermos algumas passagens cria-se em nós uma imagem mental do que o autor está falando e isso garante ficar mais gravado em nossa mentes o que ele gostaria que ficasse guardado por nós. Eu quero pensar com você na Cruz e em quatro momentos que são plásticos, visuais, quase um desenho.

1 - O HOMEM COM CANTARO – LUCAS 22.7-13

Ao entrar em Jerusalém, para tomarem a ultima páscoa, os discípulos perguntaram onde iriam preparar a páscoa e Jesus disse que eles teriam um sinal. Ao entrarem na cidade um homem carregando um vaso com água estaria passando e a ele eles deveriam seguir. Carregar água era tido na época como um oficio menor, feminino e infantil. Homens não carregavam água, só as mulheres e as crianças. Esse era um enorme sinal inusitado e muito fácil de se localizar, pois seria quase impossível um homem estar carregando em alguma vasilha água.

Com esse sinal, Jesus aponta que Deus procura homens e mulheres diferenciados, diferentes, no modo de agir, de falar, de se vestir, de ser. Esse era um homem que ia contra a sociedade da época, talvez até contra suas crenças. Era um homem humilde, com certeza, com qualidades a se descobrir ainda.

Jesus havia dito que entrando na cidade, veriam um homem com um cântaro, um vaso nas costas, levando água, a ele segui-o. Esse homem representa o Espírito Santo, levando Jesus e os discípulos até o local da Ceia, onde nem Jesus sabia onde seria. E se o homem representa o Espírito Santo, então a água representa a Palavra de Deus e a mensagem fica clara agora. Se virem um homem carregando a Palavra de Deus, siga-o.

2 – CARREGANDO A CRUZ – LUCAS 9.23

Algumas pessoas entendem que carregar a cruz é carregar alguém, a sogra, por exemplo. Imagine então um homem pegando a sogra e colocando ela nas costas e indo para um lado e para o outro com a velha nas costas. Ou imagine uma mulher de uns cinquenta quilos, colocando o marido de cento e cinquenta quilos, levando o marido nas costas. Eu imagino que ela não vai conseguir levar o balofo e ele vai cair das suas costas e coo uma bola ele, gordinho, sai quicando, como uma bola, e depois sai rolando no chão.

Cada um deve carregar a sua Cruz, aponta Lucas. Toda a humanidade é pecadora, tendo recebido a Lei do Pecado em si, conforme Paulo fala em Romanos 6. Vamos imaginar então uma criança de uns três anos de idade, carregando uma cruzinha, feita de dois gravetos de uma árvore, ou uma irmã bem velhinha, fiel a vida toda a Jesus, levando uma cruz de ouro, ou uma jovem, ou um jovem levando a sua cruz. Dá pra imaginar um mundo de pessoas levando a Cruz. Um levando a Cruz pra cá, outro pra lá. Pessoas dormindo com a Cruz, acordando com ela. Na hora de tomar o café a Cruz está do seu lado. Esse é um mundo de cruzes. Esse é um mundo de Cruz.

Outra visão comum é pensar que a Cruz é o seu problema. Sendo assim podemos pensar em pessoas levando a dor nas costas, ou uma infinidade de contas a pagar, ou uma palavra bem grande, escrita em letras garrafais: desemprego, ou família desestruturada, ou a palavra mágoa, em letras enormes, ou guerra interior, ou a maior de todos os palavrões: pecado.

Mas a Cruz, apesar de ouvirmos coisas assim em nossos púlpitos, não é nada disso. Nós não carregamos o outro nas costas, nossa Cruz não é isso, assim como nós não carregamos nossos problemas nos ombros. A Cruz que carregamos é o Eu, o que identifica cada pessoas da outra, o que faz distinção entre uma e outra. O Eu são as manias, as razões, os aprendizados, os pecados, as mágoas, os dilemas, as vitórias de cada um. O Eu é o que me diferencia de você e você de mim. Todos somos iguais e todos somos diferentes. Todo ser humano tem cabeça, dois braços, duas pernas e respeitando o corpo do home e o da mulher, todo mundo é igual. Um homem é igual a outro homem e uma mulher é igual a outra mulher. Entretanto cada um de nós é um individuo. Cada um de nós é um mundo a parte.

O que carregamos, a nossa Cruz, é o nosso Eu. Sendo assim a visualização que temos é de uma enorme palavra Eu, que carregamos nas costas e essa é a nossa Cruz. A minha Cruz é o meu Eu, e a sua Cruz é o seu Eu. O Eu, o que me diferencia do outro é o nosso problema.

O nosso eu precisa ser carregado, como uma Cruz, para o local de morte. Esse é o nosso dilema cristão: sabemos que devemos morrer para o mundo, mas nós vivemos ressuscitando o mundo em nós. Apesar de saber, a gente vai lá, na caixa do esquecimento e resgatamos o pecado, que pensávamos ter vencido. Vivemos resgatando o pecado na grande caixa do esquecimento. Alguns escolhem ainda que pecado praticar hoje.

Carregar a Cruz é muito dolorido, além de causar uma enorme crise em nós. Tudo o que somos, fomos, ou queremos ser, precisa agora passar pelo crivo de Deus e devo esquecer quem sou e me anular, para que Cristo viva em nós. É aquela velha ideia de que o Céu vai ser chato e o Inferno parece mais colorido. Temos a ideia de um Céu Zen, bicho grilo e de um Inferno agitado, colorido, festeiro. Mesma ideia é transposta para o cotidiano, pois temos a ideia de que ser cristão é chato, Zen, monótono. Na Igreja não tem pagode. Temos a ideia de que os amigos tranqueiras são mais coloridos e vivem mais a vida. Essas ideias se mostram falsas a gente sabe, mas ainda assim, abandonar todo um estilo de vida é muito complicado, principalmente porque a gente só percebe o mundo através da nossa convivência com o mundo. Eu percebo o mundo através de mim, assim é com você.

Mas é isso que a Bíblia orienta: Devemos carregar a nossa Cruz, o nosso Eu, para a morte na Cruz. Carregamos a Cruz, para que ela possa matar o nosso Eu. Carregar a Cruz é uma lembrança presente, de que existe algo em mim que precisa morrer. Enquanto na Terra é um eterno carregar a Cruz. A obra da regeneração, de o Espírito formar uma nova criação em nós, é mesclada com a obra da Cruz. É necessário morrer algo em nós – e sempre haverá algo pra morrer – para que possamos ressuscitar nova criatura. Carregar a Cruz é carregar para a morte. A Cruz é uma lembrança de morte. Há um peso de morte sobre o cristão. O Eu, precisa morrer.

3 – A ESCADA NA CRUZ – GN 28

Falar da morte do Eu, nos carrega obrigatoriamente até a próxima visualização, que é a escada, sendo uma das escadas mais famosas da Bíblia, a escada de Jacó. Onde lemos que um dia onde Jacó passava pelo deserto, ele teve a visão de uma escada que tocava o chão e ia até o Céu e anjos subiam e desciam por ela. O significado da escada de Jacó, é que agora há um contato, um caminho verticalizado (de baixo pra cima, ou de cima pra baixo). Deus mostrou a Jacó um caminho, onde ele Deus pode descer e falar com Jacó e Jacó pode subir e falar com Deus. Uma escada é um caminho de acesso.

O simbolismo da escada está totalmente relacionado com a relação entre o Céu e a terra. A escada é o símbolo de ascensão e de valorização, associada ao simbolismo da verticalidade: Deus no Céu e eu na Terra; Eu na Terra e Deus no Céu. A escada fala da minha relação com Deus e da relação de Deus comigo. A horizontalidade, pelo contrário é olhar para o lado e perceber o outro. Na escada eu não percebo o outro, eu percebo Deus e sou percebido por Ele. No entanto, a escada simboliza uma via de comunicação nos dois sentidos, tanto ascendente, como descendente. Tudo o que simboliza uma perca está relacionado com a descida e tudo o que está relacionado com progresso, está relacionado com subida.

A escada nos apresenta ainda outros fatores, ela está bem presente na Bíblia, com o sentido simbólico de graus e degraus que correspondem a diferentes níveis. A nossa Cruz tem graus e degraus e níveis de crucificação, da morte do Eu.

Tendo em consideração a relação simbólica da escada, como um elemento que une a terra e o Céu, Cristo e a Cruz são simbolicamente uma escada. A escada mais famosa da Bíblia, não é a escada de Jacó, mas Cristo e a Cruz, onde enxergamos isso mais forte em Cristo na Cruz, na crucificação.

Mas ainda vemos uma visualização, ou entendemos algo. Alguns gostariam de ter uma escada móvel, dobrável, para sacar do bolso para aqueles momentos onde a Cruz se torna pesada demais. A ideia é subir e descer da Cruz conforme a nossa conveniência, o dia e o horário. Imagine uma escada de madeira branca, bem confeccionada, com boa pintura, posta aos pés da sua Cruz, pronta, para o momento que você quiser descer dela e subir no salto. Imagine ainda quando vai chegando o fim de semana a gente desce da Cruz e quando vai chegando a hora do culto a gente vai subindo na Cruz – meio a contragosto, diga-se. Tem gente profissional, preparados com uma escada no bolso e saca e a estende, sem dó, na sua Cruz e desce dela. Alguns sobem, mas essa turma é de poucos, a maioria desce. Vamos imaginar que quando aparecer uma festa, alguns descem pela escada posta ao lado da Cruz e quando aparecer o irmão na sua casa, imediatamente o cara sobe correndo pela escada. Se for o pastor então, que venha de surpresa, ele dá pulos, tentando subir de mais de um degrau por vez, pra mostrar o quanto ele é convertidinho. E tem os caras sem escada. São os crentes que perderam a sua escada faz tempo e já assumiram olhar a sua Cruz de longe. Cruz é bom – dizem eles – para os outros, eu prefiro levar a vida do meu jeito. Com os irmãos a gente dá uma subida rápida na Cruz, com os amigos a gente desce. Eu ainda imagino um crente na Cruz, acenando para os que estão embaixo chamando-o: Espera ai gente, já estou descendo e a gente vai lá pra balada.

Na escada Cristo, na escada a Cruz, somos percebidos por Deus e percebemos Deus. Há uma interação, uma intimidade entre ambas as partes. Quanto mais eu subo na escada, nos seus degraus, mais eu quero subir. O contrário também é verdade: aquele que começa a descer, se não vigiar, vai descer cada vez mais, até notar que já desceu todos os degraus da sua Cruz. Na escada percebemos melhor a Bíblia que diz que dois andando juntos, um vai influenciar o outro e como Deus não muda, andar com Deus vai nos mudar. E quanto mais eu subo a escada da minha Cruz, mais eu quero subir. Lembrando de Jacó na sua escada, quanto mais eu subo os degraus: Cristo, mais eu vou ouvindo melhor as Palavras que ele me diz. Quanto mais perto do fim da escada, do topo, melhor eu enxergo a visão.

4 – DEUS CRUCIFICADO

Essa é uma imagem impressionante: Deus crucificado. Mas onde começou isso? Um dia na Eternidade Passada, houve a conversa mais importante para nós, humanidade. A Trindade se reuniu e começaram a conversar. Deus Pai disse:

- Gente, eu estou pensando em criar umas coisas ai, o uqe vocês acham? – E como os três são Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, então eles perceberam na hora o que Deus Pai dizia.

- Opa, parece legal. – Disse o Espírito Santo.

- Também achei bom. – Disse Jesus.

- Que tal a gente criar uns anjos, com asas e tal. E vamos criar as estrelas, o som, a musica, o perfume.

- Nossa, já estou até sentindo o cheiro. – Disse Jesus imaginando o perfume.

- Vamos criar os planetas, a praia, o golfinho, o jacaré, o gato, a flor. Vamos ainda criar, a razão, os sentimentos, a Bíblia. Que tal o Beija-flor e o leão, o ouro e a prata, o Sol e o buraco negro?

- Tudo parece bom, disse o Espírito Santo.

- Vamos criar o homem. – Ai baixou um clima pesado e durante alguns milésimos de segundo eternos, ninguém disse nada.

- O homem é complicado. – Disse Jesus. Eu vejo guerras, um irmão matando o outro, a inveja, o ciúmes, as traições, os assassinatos em massa, ou individuais. Eu vejo o homem roubando o outro homem, a filha com ódio da mãe. O pai fugindo de casa. Vejo os governos dominando milhares e milhões. Vejo a fome e a miséria, a ciência usada para o mal.

- Só se eu bolar um plano. – Disse Deus.

- Qual? – Responderam os outros dois.

- Se vou fizer a Lei que toda alma que pecar morrerá, então vai ser necessário algum de nós morrer por eles. Jesus, eu tenho uma boa e uma má noticia pra você.

- A boa primeiro. – Disse o Salvador.

- A boa é que você vai descer lá na Terra e andar na praia e abraçar a criança e comer a comida deles e falar com eles.

- Opa! Estou nessa. – Disse Jesus levantando o dedo, em sinal de positivo. – E a má noticia?

- Bem, a má, é que você vai ter que morrer no lugar deles e vai doer um pouquinho.

- Tá bom, beleza, show! – Disse Jesus levantando o polegar em sinal de positivo.

- Eu te ajudo. – Disse o Espírito Santo.

A Cruz é um símbolo de substituição. Deus desceu na Terra e morreu em nosso lugar. A Cruz, também é símbolo de perdão de pecados. Devemos olhar para a Cruz e perceber que lá estão os nossos pecados. Eu não preciso mais andar pecando, pois os meus pecados já estão lá, crucificados. Se estamos ainda pecando, um dia não estaremos mais. E se pecados é porque não entendemos ainda o que é a Cruz.

Um ultimo fato importante é que a Cruz é um símbolo que exterioriza e interioriza. A Cruz é um símbolo que nos conduz para fora e nos conduz para dentro. A cruz na sua função social conduz a Igreja para fora, onde estão os perdidos e é o anelo, o chamado religioso para dentro da comunhão com os oprimidos e perdidos. E no sentido reverso, ela é um símbolo que chama os oprimidos e os ímpios para a Igreja e, por meio dela, para a comunhão com o Deus crucificado.

Quando crucificado, direitinho, se sentindo bem mortinho para o mundo, portanto cheio do Espírito, nem é necessário Jesus nos lembrar do Ide por todo o mundo e pregai a toda criatura, a gente vai sem mandar mesmo. E quanto mais crucificado, mais eu quero pregar aos que não tem o entendimento que eu tenho. E quanto mais crucificado, mais eu entendo os dilemas do outro, de quem não sou eu. E vai ficando fácil ajudar a levar a Cruz do outro, como fez um homem, ao ajudar Jesus e a levar a sua Cruz, durante alguns passos, os finais.

Olhe que imagem linda: Jesus não estava aguentando levar a sua Cruz e um homem o ajudou a levar até o local da crucificação. Pode ser que algumas cruzes estejam muito pesadas e se está pesada irmão, é porque você está lutando pra não morrer, o pecado ainda está forte, os atrativos do mundo ainda estão fortes. Se a Cruz está pesando, é que o Eu não quer morrer. Mas não é também uma questão se ele quer morrer ou não, ele tem que morrer, para que possamos ressuscitar uma nova criatura. A nossa tendência é descer da Cruz, não faça isso, não abra mão pelo pecado por mias breve que seja. E se não tiver jeito e o pecado avançou um pouco, volte-se para a casa do Pai imediatamente. Pega correndo a sua Cruz e vai mortificando as obras da carne, com a razão, com o entendimento, com a fé. Não é também pela religião, com faça isso, não faça aquilo, é pela fé na Palavra.

Fica na paz de Cristo.

Paulo Sergio Larios

pslarios
Enviado por pslarios em 13/11/2017
Reeditado em 14/11/2017
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