ASPECTOS DA ECLESIOLOGIA NAS CARTAS CATÓLICAS

INSTITUTO DOM VICENTE ZICO

CURSO DE TEOLOGIA (VIII período)

CARTAS CATÓLICAS

Professor: Pe. Josué Nascimento

Aluno: Jonas Matheus Sousa da Silva

Ananindeua-PA, 31 de outubro de 2017.

*ASPECTOS DA ECLESIOLOGIA NAS CARTAS CATÓLICAS

As sete cartas chamadas católicas, são assim denominadas por não terem um destinatário próprio, nomeado – como as comunidades as quais o apóstolo Paulo fez escrever suas epístolas; mas destinam-se a todas as comunidades cristãs que vivem entre as últimas duas décadas do I século da era cristã e a primeira década do II. Segundo a introdução às epístolas católicas na Bíblia de Jerusalém (2006, p. 2102):

"Sete epístolas do Novo Testamento que não são de Paulo foram reunidas bem cedo numa mesma coleção, não obstante suas origens diversas; são: uma de são Tiago, uma de são Judas, duas de são Pedro, três de são João. Seu título muito antigo, de ‘católicas”, deriva, sem dúvida, do fato de a maioria delas não ser dirigida a comunidades ou pessoas particulares, mas visar aos cristãos em geral".

Conforme Alberto Casalegno, SJ, no Livro “E o Cordeiro os vencerá” (2017), os cristãos das comunidades daquele contexto (que é o mesmo do livro do Apocalipse), combatiam certas ideologias que penetravam na mentalidade dos cristãos sendo prejudicial para a a integridade da fé recebida dos apóstolos e para a vivência da retidão moral.

Despontavam os primeiros fermentos da gnose, que desprezava toda a matéria, inclusive o corpo como maus e concebiam a salvação da alma pelo conhecimento, avaliando como bons só os valores e entes espirituais. Neste sentido, o docetismo afirmava que o corpo de Jesus Cristo não passava de uma mera aparência ou espectro, negando a encarnação do Verbo de Deus (cf. Jo 1; I Jo 4).

Outras ameaças eram das corporações de ofícios romanas que asseguravam os direitos dos trabalhadores nelas associados desde que participassem dos seus eventos como as bacanais em homenagem a Baco, deus do vinho; nelas efetivavam-se orgias luxuriosas, embriaguez e gula, etc. Muitos membros destas comunidades cristãs se viam tentados a participar para assegurar seus trabalhos.

Assim, a concepção docetista e pré-gnóstica eram bem vindas para aliviar as suas consciências; dado que o corpo não contava por ser matéria e não seria salvo, então não haveria problemas de se entregarem a tais excessos ao mesmo tempo que participavam das comunidades cristãs. Para Casalegno (2017, p. 24):

"Embora recusassem essa doutrina, muitos cristãos podiam aceitar certa mentalidade de comodismo, implícita nessa nova perspectiva da existência, que os estimulava a rebaixar a importância do comportamento ético, pensando ser suficiente, para garantir sua identidade cristã, uma fé abstrata, capaz de adaptar-se às várias circunstancias da vida concreta da sociedade romana, com o perigo de cair no indiferentismo e na tibieza".

Outra ameaça, era o culto à “deusa Roma” e ao Cezar. Domiciano se intitulou “senhor e deus”. Mas para a fé cristã só é digno de adoração o único Deus, o Pai, com o Seu Filho e o Espírito. As autoridades constituídas, deve-se apenas o respeito e a obediência no que se refere a manutenção da ordem política e legislativa e no que não ferem os interesses divinos. (cf. Rm 13; I Pd 2, 13ss).

As sete cartas são intituladas pelos personagens apostólicos aos quais os hagiógrafos quiseram atribuir a autoria seja por seu influxo fundacional nas comunidades a que se destinam, seja por uma impostação de estilo pseudo-epigráfico para dar força ao documento perante a aceitação das comunidades.

Assim, temos as cartas católicas: Tiago; I e II Pedro; I, II e III João, e Judas. Veja-se, agora, aspectos eclesiológicos que despontam em cada uma delas:

TIAGO

A Igreja, em continuidade com as doze tribos de Israel, por tanto, em sua raiz na fé do Povo da Promissão, está na diáspora. É uma comunidade de peregrinos rumo a pátria celeste (cf. Carta a Diogneto). É uma comunidade de irmãos em torno da sabedoria que consiste em receber e praticar a Palavra de Deus, resistindo às provações.

A comunidade, solidária com a situação dos pobres do seu contexto, vê bem que a fé se traduz em gestos concretos de caridade. Neste sentido os cristãos também utilizam das suas palavras cotidianas para promover a paz e a comunhão. Os abastados devem ser solidários com os carentes. A comunidade é governada por presbíteros; eles repetem o gesto do Senhor (cf. Mc 6, 13), ungindo os enfermos com o óleo acompanhado da oração da fé para transmitir a salvação e a cura ao membro da comunidade que se encontra enfermo. Confiantes na espera escatológica, praticam a caridade fraterna, também expressa pela mútua correção.

I PEDRO

Destinada as comunidades dispersas pela Ásia, a comunidade eclesial participa do perdão de Deus, através da aspersão do sangue de Cristo, cordeiro imaculado e pré-existente. A comunidade é assim guardada pelo divino poder. Por isso, deve manter a alegria mesmo nas provações, com foco no fim prometido: a salvação.

A comunidade, movida pelo Espírito orienta os neófitos para permanecerem sóbrios e firmes na esperança cristã. Ela é a Chamada (Ekklésia; Gahal) pelo Deus santo à santidade: é porção consagrada a Deus. Neste chamado que a constitui, ela deve prestar ouvidos (ob-audire) à verdade, recebendo a purificação e frutificando na prática da caridade na verdade. Com Cristo pedra viva, eleita e preciosa, cada discípulo apertando-se estreitamente a Cristo (pedra angular), constituem um “edifício espiritual”; oferecendose a Deus num sacerdócio santo.

Assim, a Igreja, estreitamente unida a Cristo, torna-se raça eleita, sacerdócio régio, nação santa Novo Povo que pertence de modo particular a Deus, alcançando a sua misericórdia. Os cristãos são estrangeiros neste mundo, pois sua pátria é Deus; por isso devem brilhar por um bom comportamento. Sujeitando-se a ordem da sociedade terrestre, mas sempre com o temor a Deus como critério. Assim, os cristãos são pessoas livres que se põe a serviço de Deus.

Na comunidade, há escravos e senhores, que devem guiar-se em suas relações pela caridade de Cristo. Constituída por irmãos, a comunidade deve ser unanime, compassiva, plena de amor fraterno, misericórdia e humildade; pronta para dar razão de sua esperança, não obstante as perseguições; pondo os olhos no sacrifício redentor do Senhor e na gloria prometida; por isso vivem em autodomínio, sobriedade e votados a oração. Participam dos sofrimentos de Cristo nas provações, sob o Espírito de Deus que paira sobre a Igreja.

A comunidade é guiada por presbíteros, que têm seu princípio organizativo na autoridade petrina que é exemplar na conduta pastoral, sob o supremo Pastor. Os jovens devem respeitar os presbíteros, não criar divisões. A comunidade deve estar firme na fé e vigilante para não ceder ao diabo, que atua nas heresias e maus comportamentos....

II PEDRO

A Igreja recebeu pela fé transmitida pelos apóstolos, o conhecimento do Senhor. Assim vivem na pratica da piedade, justificados pelo Salvador, fogem da concupiscência para participarem da natureza divina (Theopoiesis).

A Igreja com seus membros purificados pelo sacrifício do Senhor, é uma comunidade fraterna que busca consolidar a Sua vocação e eleição.

Assim devem resistir as heresias perniciosas dos falsos mestres e evitar as bacanais ou banquetes que pervertem os costumes; pois são servos de Cristo, não das concupiscências. A Igreja espera a renovação de todas as coisas, no Dia escatológico do Senhor que acrisolará o criado.

I JOÃO

A Igreja está em comunhão com o Verbo encarnado e com o Espírito da Verdade; assim ela recebe vida plena e testemunha o amor de Deus manifestado na salvação realizada por Jesus Cristo.

Assim os discípulos caminham na luz de Cristo que receberam no Batismo. Confessam os seus pecados para receberem o perdão, fruto da morte e ressurreição do Senhor. Crescendo na relação com Cristo, regem-se pelo preceito da caridade para com o próximo que manifesta o Seu amor à Deus. Os membros da Igreja devem fugir da tríplice concupiscência e resistir às falsas doutrinas, dos anti-Cristos, sobretudo dos Docetistas; preservando suas condutas dos ídolos.

A Igreja, propriedade de Deus, recebe em seus membros a mesma unção que Recebeu Jesus – o Espírito. Nisto há uma imagem corporal da Igreja, já trabalhada por Paulo (cf. I Cor 12).

O amor entre os discípulos deve ser em ação e verdade; disto brota o dever da correção fraterna em vista de conduzir o outro ao caminho da salvação.

II JOÃO

A comunidade é Senhora Eleita, ou seja, desposada com Cristo. Os seus membros são os filhos. Então a Igreja é família de Deus, regida pelo amor. Deve resistir às falsas doutrinas dos anti-Cristos.

III JOÃO

A comunidade está sob a guia do presbítero, que a ama na verdade, assim como ao seu líder Gaio. Os membros da Igreja devem viver em caridade e verdade; não obstante alguns líderes ambicionem posto de honra.

JUDAS

A Igreja é constituída de membros chamados, amados pelo Pai e guardados na misericórdia de Cristo.

Não obstante infiltrem-se na comunidade, homens licenciosos, de costumes depravados, e que apregoam doutrinas que negam a fé recebida dos apóstolos; falando mal dos seus sucessores; eles causam constrangimento e procuram seus interesses, a gula e a secção, na celebração das ágapes.

A comunidade recebe o amor preveniente de Deus; seus membros devem edificarem-se (metáfora edilícia) reciprocamente pelo Espírito Santo, no amor e na fé. Devem buscar persuadir, com misericórdia, os hesitantes a se firmarem no caminho do Senhor.

REFERÊNCIAS

BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2006.

CASALEGNO, Alberto. E o Cordeiro os vencerá: leitura exegético-teológica do livro do Apocalipse. São Paulo: Loyola, 2017.

HARRINGTON, Wilfrid J. Chave para a Bíblia. 9.ed. São Paulo: Paulus, 2008.

SOUSA DA SILVA Jonas Matheus
Enviado por SOUSA DA SILVA Jonas Matheus em 31/10/2017
Reeditado em 31/10/2017
Código do texto: T6158161
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.