PROCUREM O SENHOR...
PROCUREM O SENHOR!
Na iminência do exílio, quando a cidadania de Israel foi arrasada, a esperança defraudada e a fé do povo completamente destroçada, a voz do profeta freteniu no sentido de uma tomada de decisão radical contra o desastre nacional que se aproximava. Foi nessa época que o Dêutero-Isaias alertou:
Procurem Javé enquanto ele se deixa encontrar; chamem por ele enquanto está perto. Que o ímpio deixe o seu caminho e o homem maldoso mude os seus projetos. Cada um volte para Javé e ele terá compaixão; volte para o nosso Deus, pois ele perdoa com generosidade (55,6s).
O que preconizou o profeta apontava para a necessidade de uma conversão do povo, uma mudança de comportamento, uma vez que seus pecados e infidelidades haviam despertado a ira de Deus, a ponto de enviar seus profetas para alertar o povo da ruína iminente, nas mãos do invasor caldeu, que iria provocar uma fragorosa derrota e um exílio sem precedentes que desestabilizaria para sempre o Reino de Israel. Nesta perícope de Is 55 me recordo com carinho o Padre Manoel Lima, meu professor de Exegese, em João Pessoa (PB), 1983.
As causas do descontentamento divino eram a violência geral, a ambição, os crimes pessoais, os adultérios, os assassinatos, a desconsideração com os pobres, os sofridos, os órfãos e as viúvas. A monarquia não pensava no povo, só visando auferir lucros em cima da população carente, enriquecer e desperdiçar o dinheiro público, igual aos dias de hoje. Os sacerdotes e os profetas não se preocupavam com as coisas de Deus; apenas ambicionavam poder, riquezas e tranquilidade. Na derrota do Estado eles foram diretamente responsabilizados pelo fracasso.
Os meus projetos não são os projetos de vocês, e os caminhos
de vocês não são os meus caminhos - oráculo de Javé (v.8).
É claro, os projetos de Deus são amor, perdão, partilha, solidariedade e nenhum desses valores fazem parte do repertório dos ímpios. Para quem assume os projetos do mundo acontece algo semelhante a uma retração de Deus. Ele como que se esconde diante dos agentes dos males cometidos, rejeita a violência, a idolatria, o avanço contra as terras dos pobres, e a vida dos ímpios não prospera, suas orações se perdem no ar, não são atendidas e todo o mal que praticam recai sobre eles mesmos. O luxo das cortes e das casas dos ricos era um acinte contra a pobreza e a miséria do povo, tal qual ocorre hoje. Por conta disto, o profeta expressa a desconformidade de Deus contra tão abominável comportamento.
Tanto quanto o céu está acima da terra, assim os meus caminhos
estão acima dos caminhos de vocês, e os meus projetos estão
acima dos seus projetos (v. 9).
Pois o povo não deu atenção às denúncias e invectivas do profeta e um tempo de dores e trevas se abateu sobre as pessoas e a nação. Assim também hoje, as coisas vão de mal a pior: a vida social, política, familiar é pautada pelo desleixo, pelo desinteresse e pelo individualismo, fatores estes cada vez mais sensíveis em nosso modelo social. As mesmas crises que existiam em Israel do século V a.C. se fazem presentes hoje, no meio de nós. A vida social está cada vez esfacelada, com a violência, a corrupção e o desinteresse dos homens públicos pelo bem comum. Igualmente as autoridades religiosas de hoje, de forma análoga às do templo de Jerusalém do passado, só se preocupam com dinheiro, poder e bem estar, deixando o povo à míngua de uma espiritualidade que possibilite um encontro vivo e efetivo com Deus. Para buscar a Deus e encontrá-lo é preciso, como ensina o salmista, ter mãos limpas e corações puros, não ter língua para a calúnia nem cometer qualquer ato que prejudique o próximo, não confiar nos ídolos e nem jurar falso (cf. Sl 24).
Quando as coisas não dão certo para nós, não adianta reclamar: é sinal de que não estamos buscando a Deus de forma correta. Ele só se deixa encontrar por quem tem coração contrito, espírito fiel e atitudes coerentes. Conforme o profeta, a Palavra nos revela a necessidade de fidelidade ao projeto de Deus.
Da mesma forma como a chuva e a neve, que caem do céu e para
lá não voltam sem antes molhar a terra, tornando-a fecunda e
fazendo-a germinar, a fim de produzir semente para o semeador e
alimento para quem precisa comer, assim acontece com a minha
palavra que sai de minha boca: ela não volta para mim sem efeito,
sem ter realizado o que eu quero e sem ter cumprido com sucesso
a missão para a qual eu a mandei (vv. 10-11).
É salutar que se identifique o projeto que Deus tem para nós. Esse projeto é revelado à humanidade através da Palavra que, gerando acontecimentos, realiza o projeto divino. A sabedoria do ser humano consiste em procurar Javé, isto é, converter-se a ele. Para prosperar em sua vida material e espiritual, o crente necessita buscar a Deus com todo o coração:
Enquanto buscou a Deus, o Senhor Javé fez com que ele (rei Osias)
prosperasse (2Cr 26,5).
Se quisermos a intervenção de Deus e estivermos com o coração fechado, atitudes orgulhosas e gestos interesseiros, nossa oração não será ouvida e o Senhor não se deixará encontrar. Para a prosperidade de nossa vida são necessárias algumas atitudes:
1. Decisão de vontade: eu quero!
2. Acreditar naquilo que busca: eu creio!
3. Reconhecer a soberania de Deus: ele é o Senhor!
4. Desejar fazer a vontade dele: O que queres de mim?
5. Estar com o coração e a mente abertos para o “novo” de Deus: Fala Senhor, teu servo escuta!
Assim, tudo quanto o justo fizer, prosperará (cf. Sl 1).
Essa prosperidade é a bênção que o Senhor prometeu disponibilizar fielmente aos que dele se aproximam, buscando-o com fé e amor filial. Deus não retira a bênção do homem; a gente é que a joga fora pela soberba, pela indiferença e pela impiedade. Depois, para encontrá-lo o trabalho será muito maior. Deus não suporta a soberba porque esta lembra o diabo (cf. Pv 6,16. Tg 4,6). É contra esses percalços que se insurge a voz dos profetas, alertando que no tempo certo o Senhor virá para retribuir a cada um conforme as suas obras.
O Senhor não tardará, nem terá paciência com os injustos,
enquanto não quebrar as costas dos cruéis e tomar vingança das
nações; enquanto não exterminar a multidão dos orgulhosos e
quebrar o cetro dos injustos, enquanto não retribuir a cada um
conforme as suas ações e julgar as ações humanas segundo as
intenções de cada um (Eclo 35, 19-22).
Que atitudes devemos tomar para buscar a Deus e encontra-lo? Diversas são as opções, entre as quais cabe ressaltar a oração, a leitura e meditação da Palavra de Deus, a recepção dos sacramentos (especialmente Penitência e Eucaristia), as obras em favor do Reino, a caridade para com os necessitados, a justiça com os oprimidos, etc. É a atitude de nossa fé que vai nos aproximar de Deus e fazer que o encontremos. Jesus nos recomenda que o alívio para nossa vida está nele:
Venham a mim todos os que estão afadigados e oprimidos que eu
os aliviarei, pois minha carga é leve e meu jugo suave (Mt 11, 27s).
É interessante observar que Jesus não está se retraindo, mas, pelo contrário, se oferecendo a todos para dar um sentido à vida humana. É preciso que a gente se abra à Graça e tome posse da bênção. Aqui o Senhor se mostra disponível a tantos quantos o procurarem com fé e confiança. Para tipificar essa disponibilidade ele afirma:
Peçam e receberão; busquem e encontrarão; batam e a porta se
abrirá...
Aqui Jesus dá a pista do encontro através de três verbos reveladores: peçam, busquem e batam. Ora, só pede, busca e bate na porta quem tem fé. E ele complementa: “tudo o que vocês pedirem ao meu Pai – com fé – ele atenderá” A fidelidade de Javé nos mostra que ele não sossegará...
...enquanto não fizer justiça ao seu povo e o alegrar com a sua
misericórdia. A misericórdia é bem-vinda no tempo da aflição,
como as nuvens de chuva no tempo da seca (Eclo 35,23s).
Muito mais do que você procurar o Senhor, é inconteste saber que vivemos em tempos em que ele ainda está se deixando encontrar. O maior desejo não é que o crente o busque, mas é Ele que quer encontrá-lo e está se expondo para que nós o encontremos. Uma vez que ele se deixa encontrar, busquemos o Senhor... Busquemo-lo e não percamos a chance. Deseje do fundo do seu coração. O Pai está chamando e procurando verdadeiros adoradores que o adorem em espírito e em verdade. Diga ao Senhor que você quer e deseja ser este adorador. Diga para ele que você aceita esta graça, mesmo achando que não é digno e que não tem a capacidade para ser um adorador e que nem entende bem o que é isso. Diga ao Senhor: “Eu quero ser um adorador! Eu quero viver a adoração!”. Deus tem dado oportunidades a todos. Não perca esse kairós oportuno. Hoje você pode clamar por ele. Ele te ouvirá e te salvará. O tempo da salvação é agora.
Procurem Javé enquanto ele se deixa encontrar; chamem por ele
enquanto está perto.