O Espiritismo
O Espiritismo
Desde a Antiguidade os seres materializados, ou seja, os vivos se comunicam com entidades etéreas ou os ditos mortos. Todas as lendas e histórias de tempos idos registram comunicações entre homens e “deuses”. As mitologias e os próprios relatos bíblicos são uma constante descrição de manifestação ou aparições de espíritos chamados de anjos que traziam mensagens para os humanos, por exemplo, as pitonisas e especialmente os fatos descritos no primeiro livro de Samuel 28-7,20, Tobias 5-4,2 e seguintes.
Assim, o espiritualismo manifestado através de fenômenos extraordinários ou extra-sensoriais como, curas, aparições de mortos, comunicação com os espíritos, ou os chamados milagres, é tão antigo quanto o próprio homem. Na pré-história encontramos os homens primitivos ao redor do feiticeiro, médium ou sensitivo, que além do conhecimento de outros segredos, realizava curas, previa o futuro e falava com espíritos.
A velha Pérsia foi o berço do zoroastrismo, uma das mais antigas crenças, que já pregava a sobrevivência da alma. Na antiga China se faziam reuniões secretas onde na presença do deus dragão, aconteciam materializações.
Na Índia, o povo hindu desenvolveu poderes extra-sensoriais de efeitos físicos como levitação e transporte. Na Grécia, os antigos filósofos estudavam e praticavam desde a hipnose, incorporações e desdobramentos até fenômenos de telepatia. Platão, na sua obra intitulada Fédon, propôs a teoria sobre a transmigração das almas e Sócrates, dizia que o homem devia se conhecer melhor.
Aristóteles estudou quiromancia e chegou a afirmar que as linhas das mãos provêm da influência dos céus no destino dos homens. Na Roma antiga, as vestais eram sacerdotisas médiuns, possuidoras de poderes extraordinários de adivinhação e cura. A capacidade de realizar proezas dos magos e iniciados do antigo Egito foi igual às de Moisés.
Os conhecimentos científicos, místicos e esotéricos como a alquimia, astrologia, cabala, magnetismo e a própria reencarnação, sempre foram estudados e praticados por grupos fechados de alguns iniciados como os Essênios, a Maçonaria, Rosacruzes, Templários, etc. visto que além da repressão sistemática que sempre sofreram as demais pessoas nem sempre estão preparadas para entendê-los ou usá-los adequadamente, por isso, mantidos ocultos.
O próprio Cristo, enquanto doutrinava também alertava: “Tenho muito ainda para vos dizer, mas por enquanto não estais preparados. João, 16-12”.
As verdades ocultas da bíblia formam a “cabala” a cujos conhecimentos poucos têm acesso. Os hebreus consultavam o urim e tumim e seus profetas e videntes falavam com anjos e previam o futuro.
Na Idade Média, a Inquisição, perseguiu os alquimistas, que foram os precursores da moderna química e física. De acordo com a avaliação e parecer do Santo Ofício, os paranormais, sensitivos, místicos ou médiuns, poderiam ser taxados de bruxos ou de santos. Se fossem considerados bruxos iam para a fogueira, e se santos, eram cultuados.
As bruxas medievais eram mulheres muito bonitas, possuidoras de alta sensibilidade psíquica e acentuada mediunidade. O tribunal da inquisição para criar um clima de terror entre o povo passou a descrevê-las com corpos e rostos horrendos tal qual entendiam ser suas almas.
A aurora da noite dos mil anos da Escolástica começa a afastar os fantasmas da inquisição e os incansáveis pesquisadores recomeçam seus estudos e se aprofundam nas pesquisas sobre as forças ocultas e suas manifestações. Foi nessa época que o filósofo, matemático, cientista e estudioso dos fenômenos extra-sensoriais René Descartes, lançou a sua teoria de que o ponto de contato entre o espírito e o corpo é a glândula pineal.
Nos fins da Idade Moderna, lá pelo ano de 1775, surge o médico alemão Franz Mesmer, que estuda as forças magnéticas e cura seus pacientes pela imposição de mãos.
Apesar de sempre existirem, as manifestações espiríticas só começaram a ser estudadas a partir de 1829 conforme nos relata o Dr. Kerner. A partir de 1848 o físico e químico inglês Wilian Crookes, se aprofunda nas pesquisas metapsíquicas e faz experiências mediúnicas com as Irmãs Fox e com Daniel Home. Em 1849 as Irmãs Fox, fazem as primeiras demonstrações públicas no Corinthian Hall na cidade de Rochester. Curiosamente, foi depois dessa época que começaram aparecer nas rodas sociais americanas e européias os fenômenos das mesas girantes até então utilizadas apenas como distração.
Em 1854, Hyppolite Leon Denizar Rivail, o Allan Kardec, toma conhecimento e se interessa pelos fenômenos das mesas girantes, faz experiências com muitos médiuns e vai codificando os resultados das suas conclusões. Em 1857 Kardec, publica o Livro dos Espíritos e lança os princípios da Doutrina Espírita, hoje conhecida como Espiritismo.
Nessa mesma época, Jean Baptiste Roustaing, um contemporâneo, e depois, discípulo de Kardec se interessa também pelas pesquisas espiritistas faz experiências, conferências, escreve vários artigos e publica “Os quatro evangelhos” livro este que difere um pouco das orientações kardecistas, mas que tem a mesma essência.
Por volta de 1859 aparece Jean Martin Charcot, neurologista francês estudioso e pesquisador da alma que faz curas pela hipnose. Em 1868 surge o americano Andrew Jackson Davis que, em transe, faz revelações surpreendentes sobre o cosmos e sobre o corpo humano.
Em 1875 depois de estudar cientificamente médiuns famosos como as Irmãs Fox, Daniel Home e muitos outros casos de fenômenos espíritas, Willian Crooks se diz convencido da existência, da comunicabilidade e da materialização de espíritos.
Em 1883 Camille Flammarion, astrônomo francês produz um trabalho sobre a sobrevivência do espírito e a pluralidade dos mundos habitados. Na mesma época, Frederic Willian Henri Myers, escritor e filósofo inglês, estudioso da psicologia e da metafísica confirma os estudos de Flammarion e declara como certa a sobrevivência da alma.
Em 1892, Charles Robert Richet, médico francês, estuda os fenômenos parapsicológicos adentra na metapsiquica e diz haver aí uma força estranha não totalmente conhecida.
Em 1897 o famoso criador da psicanálise, o psiquiatra austríaco, Sigmund Freud, se interessa pelos problemas do ocultismo e passa esse seu interesse, pelo desconhecido, para o suíço também psiquiatra Carl Gustav Jung e Jung vai em busca de maiores conhecimentos esotéricos nos fenômenos religiosos orientais pelos quais começa a pautar toda a sua psicologia.
Entre os anos de 1918 e 1980, o psicólogo americano John Broadus Watson e o parapsicólogo também americano Joseph Banks Rhine, se aprofundam no fenômeno da percepção extra-sensorial e se declaram incapazes de afirmar se a origem desse fenômeno é física ou espiritual. Assim, a história do Espiritismo é uma parte da história do conhecimento humano.
Apesar de sempre combatido, e na melhor das hipóteses, apenas tolerado, o Espiritismo segue o seu inexorável curso. Entre os seus inimigos mais ferrenhos, estão as religiões cristãs que vêem nele um suposto concorrente e alguns pseudo-parapsicólogos que tentam provar a todo custo que espíritos não existem e que qualquer fenômeno extra-sensorial é resultante apenas do “poder da mente”.
Segundo a opinião de alguns estudiosos os maiores inimigos do espiritismo são os próprios espiritistas que divididos em duas alas se digladiam entre si.
De um lado, estão os espíritas ortodoxos, que não se afastam uma linha do Pentateuco kardequiano, não querem nem ouvir falar em umbanda, apometria, divinismo, candomblé e muito menos que estes segmentos espiritualistas sejam denominados de espiritismo.
Foi essa ala que inventou o neologismo “achismo” para classificar, pejorativamente, qualquer informação sobre o espiritismo que não esteja fundamentada nas obras básicas espíritas, ou para dizer que a pessoa que informa não sabe sobre o que está falando.
Do outro lado, a ala dos espíritas progressistas, bem mais liberal, chega até admitir que a doutrina kardecista já esteja meio ultrapassada e por isso aceitam divergências dentro da própria doutrina.
Essa mesma ala, bastante tolerante e por isso dizemos serem os verdadeiros espíritas, concorda que mexeu com espíritos é espiritismo porque independente de codificação ou de denominação os espíritos sempre se manifestaram.
Em seus Centros e Casas já se pratica uma mescla de saravá, kardecismo, reiki, apometria, etc. inclusive, usando roupas brancas e até adereços próprios do candomblé e pontos da umbanda na mais perfeita harmonia.
Essa divisão, que não é nova dentro do espiritismo, tem sua origem nas filiações obrigatórias as Federações que querem manter o controle e a contribuição dos centros filiados.
Por entender que o espiritismo, sendo universal, não tem donos nem chefes, a maioria dos Centros ou Casas espíritas se nega a filiar-se ou se submeter ao crivo da entidade mater.
Na prática, isso significa que o espiritismo na sua pureza original, está cada dia mais restrito e praticado apenas por poucos Centros ortodoxos tradicionais.