Vocação: Insanidade ou Lucidez.

-Sobre mim

-Sobre você

-Sobre a omissão clerigal

-Sobre essa "merda" gospel

Eu sempre me envolvi e acreditei no evangelho social. Desde os tempos em que estava me graduando na Faculdade​ Teológica Batista ded São Paulo (FTBSP) que esta sempre foi a vertente da minha prática ministerial.

A vocação é algo muito forte e capaz de levar pessoas a praticarem atos que, ou resultam de uma insanidade total, ou resultam de uma lucidez ininteligível e inexplicável. Quanto a mim, abdiquei de inúmeras oportunidades boas para seguir com esse tal "chamado vocacional".

O que ocorreu ao longo de tantos anos envolvida com o evangelho social é que fui menos mãe, menos mulher, menos esposa, menos profissional para ser mais pastora. Não me perguntem que sentimento tenho em relação a isto. Por favor, não perguntem.

É inútil, é exaustivo, é ineficiente descrever tantas histórias!

Faz cerca de 5 anos que estou em situação de vulnerabilidade bastante complicada porque minha filha mais nova foi diagnosticada com três Síndromes Raras.

Em razão disso, idealizei, elaborei e redigi um projeto social para criação de uma ONG denominada D.N.A. Rarus para prestar assistência aos familiares de Deficientes​ e de pessoas com Síndromes Raras.

Aqui em nosso país os processos de criação, formalização, abertura, divulgação e o operacional de uma organização não governamental, sem fins lucrativos, são dotados de inúmeras dificuldades, sobretudo na ausência ou deficiência de recursos humanos e financeiros.

Na D.N.A. Rarus estamos suscetíveis a vivenciar e lidar com situações que envolvam desde um desconforto até a morte de crianças com enfermidades graves. Mas isto parece não ter nenhuma relevância no Reino da Gospelândia.

Digo isto, porque muitos pastores poderiam ajudar mas não ajudam por questões de placas de igreja, de divergências teológicas e outras bobagens, que poderiam ser deixadas de lado, para que crianças deficientes e com síndromes raras não ficassem sem cadeiras de rodas, sem cadeiras de banho, sem fraldas, sem cilindros de oxigênio, sem medicação e até sem alimento.

Essas intolerâncias religiosas e este desamor irresponsável entre pseudos cristãos que se dizem pastores me fez tão mal ao ponto de eu me arrepender de um dia ter seguido pela trilha do que eu mesma entendi ser o meu chamado. Não valeu a pena até agora! Talvez nunca valerá! Ninguém consegue vencer o sistema.

No entanto, ainda me resta amor e um pingo exausto de resiliência. Isto é o que fortalece o meu engajamento na luta, por uma melhor qualidade de vida para quem faz parte de uma família como a minha, vitimizada por um ou mais diagnósticos difíceis que envolvam Deficiências Várias e/ou Síndromes Raras.

Encerro aqui meu texto desconfortável com o peito apertado e angustiado, com secura na boca e nó na garganta, com um sentimento de total desprezo por essa inconsciência social misturada com intolerância religiosa e desafetos que pontuam as posturas, as escolhas, as ações e as omissões dos líderes das igrejas "evangélicas".

Sempre disse e vou repetir: Não existe verdadeiro evangelho que não seja social! Também não existe um tipo de amor que faça acepção de necessitados ou que imponha condições, de cunho pessoal e injusto, para prestar assistência efetiva aos que tem demandas urgentes.

Sou Pastora Progressista, Humanista no sentido humanitário, Teóloga adepta da Teologia da Libertação proposta pelo Frei Leonardo Boff.