O APÓSTOLO PAULO E A IMORTALIDADE DA ALMA

O Apóstolo dos gentios era um judeu da seita dos fariseus, os quais acreditavam na imortalidade da alma. O credo farisaico pode ser constatado na seguinte passagem:

“Porque os saduceus dizem que não há ressurreição, nem anjo, nem espírito; mas os fariseus reconhecem uma e outra coisa. - E originou-se um grande clamor; e, levantando-se os escribas da parte dos fariseus, contendiam, dizendo: Nenhum mal achamos neste homem, e, se algum espírito ou anjo lhe

falou, não lutemos contra Deus.” (Atos 23:8-9)

No texto, verifica-se que diante da celeuma com os saduceus, os fariseus partem na defesa de Paulo, que reivindicou a sua origem farisaica diante de um tribunal. Argumentando que o apóstolo poderia ter entrado em contato com um anjo ou um espírito, os fariseus testemunham que nenhum mal viam nisso e justificam que essa comunicação poderia ter tido origem divina.

Estando os termos “espírito” e “anjo” destacados separadamente, fica claro que para os fariseus, uma revelação poderia ter sido dada tanto por um como pelo outro.

Assim, por espírito não entenderam os fariseus ser um “demônio”, visto que não queriam lutar “contra Deus”. Também não aludiam ao Espírito Santo ou o próprio Deus, pois o termo indeterminado “algum” quer dizer que poderia ser qualquer espírito.

Bem, se Paulo estava preso por testemunho de Jesus é admissível que os Fariseus a quem o apóstolo se dirigia, sendo imortalistas, acreditaram que Paulo vira o Espírito de um morto ou Jesus desencarnado, já que não acreditavam na missão messiânica do Nazareno e tampouco na sua ressurreição física.

Esse ponto de vista dos fariseus em apoio a Paulo comprova que a doutrina da alma imortal e a probabilidade da comunicação com os mortos, era ponto pacífico entre os adeptos da maior seita judaica daquele período.

Dessa forma, no pensamento Paulino, que tinha no farisaísmo a sua base judaica, a independência da alma ou espírito em relação ao corpo era um fato. Em outra passagem Paulo reafirma essa posição independente quando afirma:

“É por isso que, vivos ou mortos, nos esforçamos por agradar-lhe. Porque teremos de comparecer diante do Tribunal de Cristo. Ali, cada um receberá o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito enquanto estava no corpo” (2 Coríntios 5: 9-10)

Novamente a declaração “no corpo” [1] é utilizada por Paulo em oposição a “fora do corpo”, pois, se antes estava no corpo é porque diante do tribunal de Cristo estará sem o corpo físico, estando agora revestido de um corpo espiritual [2] ou perispírito, como é denominado no Espiritismo.

Outro ponto interessante desse texto é quando Paulo afirma: “vivos ou mortos, nos esforçamos por agradar-lhe”, confirmando que após a morte há consciência e trabalho pelo próprio aperfeiçoamento. Ideia sancionada em outra carta paulina:

“Mas chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos; À universal assembléia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e 'aos espíritos dos justos aperfeiçoados'.” (Hebreus 12:22-23)

[1] Ver nosso outro artigo: PAULO E O FENÔMENO DE SAÍDA FORA DO CORPO

[2] “Semeia-se corpo natural, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual.” (1 Coríntios 15:44)