A cruz está vazia?
A CRUZ ESTÁ VAZIA?
(Teto Machado)
Há um livro de Leonardo Boff, cujo título é "Como pregar a Ressurreição numa sociedade de crucificados"?
Modificando a pergunta: É possivel pregar a Ressurreição numa sociedade de crucificados? Esse título e essa questão já nos colocam diante de uma situação em que a resposta não pode ser um simples sim ou não.
Historicamente nos deparamos frente ao fato de que a cruz, que não mais existe, estava vazia e o sepulcro, onde Jesus foi colocado, também. Mas, para a reflexão cristã, para além do fato, transcendendo a realidade e o tempo, isso encerra o problema do drama humano?
Para além da História (numa hipótese disso ser possível), teologicamente pensando, o Jesus histórico, que nasceu, cresceu e viveu em Nazaré da Galileia, quando percorreu as estradas e montanhas da Palestina, construiu seu discurso para além, de sua realidade temporal. Era uma proclamação, um anúncio da chegada de algo que ali se inaugurava, mas não se.encerrava, como o Reino de Deus, presente já nesse mundo, mas não totalmente. Era o discurso do já e ainda não. Seu discurso era escatológico.
O fechamento de tudo, a plenificação dessa chegada definitiva do Reino de Deus, já anunciado, já iniciado, se daria em meio a fenômenos que conhecemos como a segunda vinda, o Juízo Final, antecedido pelo Armagedon.
E tudo culmina, naquele começo, na "plenitude dos tempos" da Paz Romana, com a paixão, morte e ressurreição de Jesus, que colhemos como a dádiva divina maior da Redenção humana.
Mas aquele Joshua Ha'Nozri, em seu Querigma, seu discurso escatológico, não se afastou da dimensão humana, dos problemas de seu povo e de seu tempo. Não era um alienado, falando de céu e inferno, como muitos de seus pretensos seguidores de hoje, mas voltava-se cheio de piedade, compaixão e ternura para com as pessoas oprimidas, subjugados, empobrecidas e excluídas de sua sociedade. Detestava ser "milagreiro", mas operava, excepcionalmente, certas intervenções, por misericórdia para com o sofrimento alheio.
E quando afirmou que, no momento final todos seremos julgados, não pela fé interesseira de salvação, mas pelo amor desinteressado, gratuito ao pobre, preso, doente, faminto, sedento, transformou o ser humano aviltado em sua dignidade de filho de Deus, em seu Sacramento Vivo. Quem não consegue ver isso, em sua dura pregação?
Então, para além do tempo circunscrito àquele da "plenitude dos tempos", da "Paz Augusta Romana", para o Tempo de Deus que se chama hoje, como os empobrecidos, deserdados do mundo, sentindo-se abandonados pelo Criador, recebem uma mensagem de resgate, uma promessa, já cansados de tantas, já tão desiludidos?
Quando Friedrich Nietzsche gritou que Deus estava morto, escandalizou uma geração. Um certo tipo de Deus, não parece estar vivo, nem merecer viver, pois é ausência, silêncio, indiferença, maldade cúmplice da crueldade humana que se estabeleceu dominante sobre a terra e no eterno fluxo da História.
Jesus está morto, na cruz, enquanto simboliza sua solidária presença no pobre, miserável, violentado que aí está, nessa realidade, frente a nossos olhos.
Ressuscitou, mas ainda não, nessas realidades de paixão, crucificação, sofrimento e morte, que ainda existem entre nós.
É possível pregar a Ressurreição para ainda crucificados, somente na dimensão da Esperança. Afinal, a "Caixa de Pandora" foi aberta e apenas ela restou, presa, no ultimo instante.
E com o espirito angustiado, os semblantes expressando dor, urgência, pedido de socorro e misericórdia, com os crucificados desse mundo, voltemos para Jesus Cristo Ressuscitado e, com as palavras de Paulo de Tarso, clamemos: "Maranathá"! Vem, Senhor Jesus!