O ANEL DE TUCUM
O ANEL DE TUCUM
Antônio Mesquita Galvão
Quando me referi tempos atrás nos espaços da mídia onde tenho coluna, sobre o “anel de tucum”, o anelzinho preto que aparece no anular dos seguidores das doutrinas libertárias da América Latina, fiz questão de enfatizar o significado desse objeto, que aponta para uma opção radical pelos pobres e excluídos deflagrada pela Igreja Católica no fim da década de 70, quando o Encontro de Puebla traçou as bases daquela opção evangélica. De lá para cá a maioria das Igrejas Cristãs do subcontinente abraçou a causa dos oprimidos.
Depois que publiquei o artigo sobre o significado do referido anel, em jornais, revistas e portais da Internet, recebi muitos comentários, a maior parte deles favorável ao tema exposto e ao conteúdo de solidariedade que ele preconiza. Alguns leitores informavam desconhecer o real sentido daquele anel-aliança.
No entanto, chamou a minha atenção a manifestação anônima de um cidadão, em uma rede social que, revelando total ignorância do assunto colocado, dizendo tratar-se de uma apologia à ideologia marxista, uma vez que o deputado Jean Wyllys e outros militantes do PSOL ostentavam o anel de tucum em seus dedos, como forma de identificar seu “esquerdismo”. A aleivosia do calhorda nem me tocou, pois Jesus ao optar pelos excluídos de seu tempo assumiu uma posição de “esquerda” (que lhe custaria a morte na cruz) contrariando o legalismo dos “alinhados” à direita de judeus e romanos. Jesus não era contra a lei, mas um crítico da hipocrisia de alguns.
O anelzinho preto hoje é feito de plástico ou de chifre, mas o original era confeccionado a partir do tucum, fibra de uma palmeira da Amazônia. Expressivos teólogos, pastores protestantes e católicos e servos de Deus, no Brasil e Exterior, como Dom Helder Câmara, Dom Paulo Evaristo Arns, Leonardo Boff e o Beato Dom Oscar Romero, Arcebispo de El Salvador assassinado em 1980 quando celebrava a missa, e outros, todos usavam o referido anel no dedo, como testemunho de sua opção.
Curiosamente, também descobri um outro uso para o anel em questão. Um cantor sertanejo, Luan Santana resolveu instituir o anel preto como distintivo de suas fãs, a simbolizar um “noivado” anímico entre o artista e admiradores. Esta informação surpreendente me foi revelada por uma garota, caixa de um supermercado, em Porto Alegre.
Acho que esse novo costume, um sucedâneo do uso original que confundiu meu desavisado leitor. Ele deve ter visto o anelzinho no dedo de algum militante de partido político de esquerda e confundido com o senso de libertação do meu.
Filósofo, Escritor e Doutor em Teologia Moral