A SIMBOLOGIA DO ANEL PRETO

A SIMBOLOGIA DO ANEL PRETO

Antônio Mesquita Galvão

A partir do encontro de Puebla, no México (1979), quando a Igreja da América Latina oficializou sua “opção pelos pobres”, muitos segmentos (teólogos, bispos, padres, religiosos, jovens e católicos em geral) adotaram o uso de um anel preto, uma espécie de aliança, como símbolo dessa opção. De lá para cá, embora não tenha uma relação direta, o uso do anelzinho passou a identificar os simpatizantes da “teologia da libertação”.

Historicamente, essa peça, chamada de “anel de tucum” é um anel feito da semente do tucum, uma espécie nativa da Amazônia que é utilizado por fiéis cristãos como símbolo do compromisso preferencial das igrejas, especialmente da Católica, com os pobres.

O anel tem sua origem no Império do Brasil, quando jóias feitas de ouro eram utilizadas em larga escala por membros da elite dominante para ostentarem sua riqueza e poder. Os negros e índios, não tendo acesso a tais metais, criaram o anel de tucum como um símbolo de pacto matrimonial, de amizade entre si e também de resistência na luta por libertação. Era um símbolo clandestino cuja linguagem somente eles compreendiam.

No século XX o uso do anel de tucum foi resgatado por fiéis cristãos, com o objetivo de simbolizar a “opção preferencial pelos pobres”, especialmente por fiéis católicos após as Conferências Episcopais de Medellín e de Puebla.

O anel de tucum foi tema de documentário homônimo dirigido por Conrado Berning em 1994. No filme, o bispo católico Dom Pedro Casaldáliga, um dos entrevistados, explica da seguinte maneira a utilização do anel: “Este anel é feito a partir de uma palmeira da Amazônia. É sinal da aliança com a causa indígena e com as lutas populares. Quem carrega esse anel significa que assumiu essas causas e as suas consequências. Você toparia usar o anel? Olha, isso compromete, viu? Muitos, por causa deste compromisso foram até a morte”.

De fato, houve muitas barreiras – eu até diria perseguições – contra os que usavam o referido anel, por parte de autoridades religiosas e alguns dirigentes de movimentos leigos da classe média alta. Eu senti em mim tais perseguições. Eu uso o anel preto até hoje, há mais de trinta anos...

De uma feita vi uma garota, caixa de um supermercado, em Canoas, com um desses no dedo. Perguntei se ela sabia o significado. “É para simbolizar a opção cristã pelos mais fracos” disse. Mais recentemente descobri outra simbologia do anel: um cantor, desses da onda sertaneja, incentivou suas fãs a usar o objeto no dedo como sinal de compromisso, uma espécie de “noivado”, uma fidelidade entre o “ídolo” e as admiradoras.

Cuidado, portanto: nem todo aquele que usa o anel preto fez opção pelos pobres.

Biblista, filósofo e Doutor em Teologia Moral