OS RITUAIS SAGRADOS – Costumes estranhos em nome da fé
“Se não fossem culturalmente aceitos, a maior parte de nossas crenças e ritos religiosos seriam considerados distúrbios mentais” (John F. Schumaker)
Assim que nossos ancestrais começaram a formar opiniões sobre o mundo sobrenatural, eles criaram uma série de cerimônias e ritos mágicos cujos objetivos principais eram lhes dar poder sobre o ambiente hostil, bem como atrair a simpatia e afastar a ira de entidades espirituais, que com o tempo seriam identificadas como deuses ou divindades. Infelizmente, nem sempre a religião foi usada para melhorar o ser humano. Algumas vezes, ela propiciou cenas lamentáveis que nenhum religioso esclarecido há de se orgulhar.
Canibalismo. Em muitas ocasiões, o homem primitivo comia carne humana, e nem sempre foi para saciar a fome. Às vezes, a intenção era adquirir poderes do indivíduo canibalizado. Os astecas ficaram famosos por comer guerreiros de tribos inimigas. Alguns autores viram na eucaristia cristã um resquício de antigas práticas pagãs de canibalismo, onde o corpo e o sangue de um deus alimentavam a tribo inteira. Os antigos egípcios comiam bolachinhas redondas, feitas de pão sem levedura, representando o corpo de Osíris, o deus sol, que, de acordo com a tradição, havia morrido e ressuscitado.
Sacrifícios humanos. Bebês deficientes, meninas virgens e inimigos capturados em combates eram servidos em holocausto às divindades. Os antigos judeus chegaram a sacrificar humanos em honra a Javé, como consta em Juízes 11,31. Mas o mais comum era oferecer animais ao deus judaico, que apreciava o aroma da carne assada (Levítico 1,9).
Expiação dos pecados. Em certo período da Idade Média o cristão podia se livrar dos pecados pagando indulgências ao papa, que podiam ser em forma de dinheiro, galinhas e cabritos, que eram trazidos de longas distâncias. O Kaparot é um ritual judaico que consiste em transferir os pecados do devoto a uma galinha. O penitente diz, muito sério, enquanto gira o galináceo sobre a própria cabeça: “Em vez de que eu seja castigado e destruído neste mundo, deixe que seja esta galinha”.
Sucção de sangue do pênis de bebês. Os hassídicos, judeus ultraortodoxos, sugam o sangue do pênis de bebês no ato da circuncisão, uma cerimônia que eles juram ser por ordem de Deus.
Sati. Em algumas culturas antigas a mulher era enterrada ou queimada viva junto ao marido falecido. Nem sempre era um ato voluntário. Para que ela não herdasse os bens do marido, a família dele a obrigava cometer suicídio. No hinduísmo esse ritual é chamado de “sati”. Há notícias de que algumas viúvas na Índia ainda seguem o costume.
Autoflagelação. Na República das Filipinas, país asiático reduto do catolicismo, para celebrar a sexta-feira da Paixão, muitos devotos permanecem durante horas crucificados, enquanto outros se flagelam com bambus e chicotes, deixando as costas em carne viva. Dentro da Opus Dei, instituição ultraconservadora da Igreja católica, muitos de seus integrantes aplicam chicotadas nas próprias costas pelo menos uma vez por semana; outra modalidade disciplinadora é o uso do cilício, uma espécie de cinto com pontas de ferro, cuja dor infligida sobre a pele serve para bloquear os desejos sexuais. O livro “Por que um santo?”, escrito pelo monsenhor Slawomir Oder, revela que o papa João Paulo II fazia uso regular do cilício para imitar o sofrimento de Cristo. Humano que era, também devia ter suas tentações. Xiitas (uma vertente do islamismo) se autoflagelam na celebração da Ashura.
A nudez dos monges digambara. Os jainistas veem na nudez uma virtude. Só reprovam o nu exibicionista. Digambara significa “vestido de espaço”, e a intenção de andar sem roupa é mostrar à sociedade que o desapego é o caminho para atingirmos a verdadeira paz de espírito.
Há outros costumes que ainda hoje são observados em nome da fé, mas que seriam casos de polícia ou tratamento psiquiátrico se não tivessem a chancela da religião.