Entre Máscaras & Bundas (parte 2)

-Sobre prostituição infantil

-Sobre carnaval

-Sobre a inércia da igreja

-Sobre a dialética entre máscaras religiosas e bundas carnavalescas.

Eu questionei e vou continuar questionando a incisiva intolerância dos evangélicos ao carnaval e seus foliões. Não somos melhores ou mais merecedores de "um tal céu eterno de glórias" só por sermos do tipo "crentes religiosos". Nada nos dá o direito torto de julgar e condenar quem pula o carnaval a "um tal inferno eterno de dores"!

Tenho visto religiosos encutindo em si mesmos e na sociedade a ideia de que o carnaval com suas práticas culturais "entrega a chave das cidades a entidades demoníacas que causam tragédias" e fico me perguntando: Qual a parte eficiente desse tipo de raciocínio místico no quesito melhorar o mundo ou qualquer coisa do tipo?

Em um desses meus questionamentos sobre não julgar o outro e nem se colocar em posição superior por conta da religião, alguém me disse que a questão não era essa, que o cerne não deve ser o comportamento da igreja, mas o comportamento dos carnavalescos.

Fico bege! Fico pasma! Como assim? A reflexão comportamental só tem valor quando o reflexivo parte de si mesmo e não do outro. As mudanças partem de nós e não dos outros. O que adianta ficar pontuando o comportamento dos outros e não o nosso próprio?

Eu sou igreja, não sou carnavalesca! Portanto, vou criticar a igreja, vou refletir sobre nossos comportamentos enquanto igreja que afirmamos ser.

Até quando vamos perpetuar essa postura dúbia, inerte, não pensante, não reflexiva, acusadora do outro e socialmente irresponsável? Tão fácil culpar "o carnaval e seus capetas" pelas mazelas sociais! Tão fácil criticar e condenar as "bundas carnavalescas" nas avenidas! Tão fácil manter essa atitude tão auto protetora que esconde as faces da igreja atrás das "máscaras religiosas"!

Eu vou continuar questionando os erros e acertos do sistema religioso "entre máscaras e bundas"!

Prostitutas, alcoólicos, drogaditos precisam de amor e não de condenação e palavras tão duras que os condenam ao inferno. São menos culpados do que cristãos hipócritas como muitos que existem.

A prostituição, o tráfico, as orgias, bebedices e glutonarias não ocorrem só no carnaval. Isso ocorre até no Natal, na Páscoa, na semana chamada santa, no Rosh Hashanah e também todos os dias.

E a igreja? A igreja continua se escondendo atrás de um falso moralismo preconceituoso e puritano, sem qualquer vergonha na própria cara e sem qualquer atitude efetiva de amor.

Faço um trabalho de apoio e ajuda em zonas de prostituição da minha cidade. Em uma dessas tais zonas encontrei uma menina de 9 anos que atende pelo codinome "Sheila". Ela cobra apenas $10,00 pra vender o seu corpo infantil. Disse-me o seguinte: "Tia, até que vc é uma pastora mais legal do que outros, mas não paga tão bem"! As outras deram risada e eu perguntei o porquê dela dizer isso. Uma outra menina de 13 anos que também se prostitue no mesmo local me respondeu naturalmente: "Tia, ela tem um cliente especial que adora "chupetas". Ele paga $35,00 por cada uma. Mas ele também é pastor"!

Por isso, meus amigos. depois de anos entrando em favelas, zonas de prostituição e biqueiras de drogas, vendo a miséria física e espiritual em nosso país, eu não culpo o carnaval. Prefiro culpar a igreja por não fazer absolutamente nada de efetivo por ninguém e ainda se colocar no papel de julgar os outros.

O buraco é bem mais embaixo! Tão baixo como a altura de uma criança!

O que vocês pensam a respeito disso?

Patrícia Carnieto
Enviado por Patrícia Carnieto em 27/02/2017
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