OS PROFISSIONAIS DA PALAVRA

Na minha adolescência, li uma obra intitulada “A arte de persuadir falando”. Ensinava como falar de modo a convencer quem ouvia. Nem por isso eu me tornei apto a tal.

Algumas pessoas têm uma capacidade distinta para falar. O fazem com desembaraço, articulando bem as palavras e os pensamentos, e com isso convencem com relativa facilidade os que lhe ouvem.

Contaram-me que na Grécia antiga houve um filósofo com grande capacidade discursiva. E por isso convidaram-no a discursar sobre determinado tema. Ele, consciente da sua capacidade, perguntou então para aqueles que lhe propuseram a tarefa, se eles queriam que ele falasse contra ou a favor da tese. Disseram-lhe que ele falasse a favor. E ele o fez com eloqüência tal que convenceu os que lhe ouviam. A seguir ele propôs falar contra a tese defendida, tendo convencido do contrário os seus ouvintes.

A arte de falar é denominada de retórica, e de homilética a arte de pregar. E tanto uma como outra pode ser aprendidas através do estudo, do exercício e da persistência.

Já vi advogados participando em tribunais de julgamento de réus, defendendo-os de forma aguerrida. E isso de tal forma que nos impressionou. Mas o réu não merecia a apologia que foi feito em defesa da sua causa. O advogado que assim procedeu estava sendo pago e buscava, forcejando, fazer jus ao que lhe fora comissionado, bem como não perder a causa, buscando com isso também méritos para si, se projetando como causídico. Agia como profissional e entendia que assim devia proceder.

Diante de Deus isso não é louvável. Pois quem sem lei pecar, sem lei perecerá. E quem sob a lei pecar, pela lei será julgado. Ele não justifica o pecado, ainda que o faça quanto ao pecador quando este se arrepende e o aceita como seu único salvador.

Como no meio jurídico, também existem os profissionais do evangelho e dos púlpitos. Pregadores que discursam com tanta eloqüência que convencem multidões, mas são como os produtores de filmes sobre a paixão de Cristo: fazem sua platéia se emocionar, mas não seguem aquilo que os seus filmes transmitem no sentido positivo. Porque o fazem profissionalmente ou por interesse financeiro.

Jesus falou de pessoas que percorriam o mar e a terra para fazer um prosélito, e depois disso os fazia duas vezes filhos do inferno. Mt. 23:15. Por quê?

Porque o inferno é a sepultura. E com a atitude deles, os que foram por eles persuadidos a se filiarem ao seu dogma, iriam morrer duas vezes, não sendo, portanto, destinados a vida eterna, mas à condenação eterna, tendo a sua parte com os pecadores.

Segundo o que o Senhor inspirou a Davi, os que habitarão no monte do Senhor serão outros, veja:

"Senhor, quem habitará no teu tabernáculo? Quem morará no teu santo monte? Aquele que anda em sinceridade, e pratica a justiça, e fala verazmente, segundo o seu coração; aquele que não difama com a sua língua, nem faz mal ao seu próximo, nem aceita nenhuma afronta contra o seu próximo; aquele a cujos olhos o réprobo é desprezado; mas honra os que temem ao Senhor; aquele que, mesmo que jure com dano seu, não muda. Aquele que não empresta o seu dinheiro com usura, nem recebe peitas contra o inocente; quem faz isto nunca será abalado." Sl. 15:1-5.

Outrossim, aquele que condena o justo e justifica o ímpio, ambos são abomináveis a Deus. Pv. 17:15.

As Escrituras falam de pessoas que tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória de Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Rm. 1:21-23.

Na verdade eles não são pregadores da palavra, mas profissionais da palavra. Não fazem pregações, porque o que dizem não é suficiente para juntar como faz o prego, nem para firmar como a peça pregada, mas discursam por salários e por glória própria; para serem aplaudidos e receberem felicitações com tapinhas nas costas. Cuidado senhores discursistas!

Disse Jesus: "Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Observai, pois, e praticai tudo o que vos disserem; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não praticam. Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles porém, nem com o dedo querem movê-los. E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas dos seus vestidos, e amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas. E as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens – Rabi, Rabi." Mt. 23:2-7.

O apóstolo Paulo, nada obstante ser pregador e conhecedor das letras, disse:

"E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor. A minha palavra, e a minha pregação, não consistiu em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder; para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus. Todavia falamos sabedoria entre os perfeitos; não porém a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo que se aniquilam; mas falamos a sabedoria de Deus oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória." I Co. 2:1-7.

E disse mais o apóstolo: "Porque não ousaria dizer coisa alguma que Cristo por mim não tenha feito, para obediência dos gentios, por palavra e por obras; pelo poder dos sinais e prodígios, na virtude do Espírito de Deus; de maneira que desde Jerusalém, e arredores, até ao Ilírico, tenho pregado o evangelho de Jesus Cristo." Rm. 15:18 e 19.

O apostolado dos apóstolos era confirmado com os sinais e maravilhas que se faziam pela mão deles. O ministério do apóstolo Paulo, igualmente o era.

Dizem as Escrituras: "Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto como o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes na sabedoria de Deus pela loucura da pregação." I Co. 1:19 e 20.

A ciência vai acabar, bem como o poder dos santos. Mas o poder e a glória de Deus permanecerão, bem como o amor, a fé e a esperança. I Co. 13:8 e 13; Ap. 13:7.

Não é suficiente falar, é preciso provar que Deus está com você. Demonstre, se você é capaz. Cure, limpe, além de falar línguas. Pois disse Jesus: "E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão." Mc. 16:17 e 18.