Batei, Batei e Não Abrir-se-vos-á

-Sobre diferenças sociais

-Sobre a natureza divina

-Sobre sorte e azar

Não sei se em mim habitam grilos ou cigarras, mas há dias em que o cantar da minha alma fica repetitivo, "chatinho", inconsolável! Acreditem: tento fazer calar a minha alma, mas qualquer esforço neste sentido é inútil!

Existem religiosos, cujo discurso "pseudo-cristão" é pautado pela crença de que as diferenças sociais exacerbadas no mundo e, inclusive, dentro das igrejas, é algo aceitável. Segundo essa tal crença de alguns "crentes", tais diferenças entre privilégios e privações ocorrem simplesmente porque "D'us quer". Para mim, esta ideologia é insanidade pura!

Para que se esclareça sobre o que estamos falando, vamos imaginar uma "historinha gospel", conforme a narrativa que se segue:

"Era uma vez um sacerdote que habitava no Reino da Bispolândia e tinha muita grana. Esse tal sacerdote havia conquistado, carros, casas, viagens, roupas caras, muita diversão, confortos de toda ordem. Nenhuma dessas conquistas tinha a ver com herança, mega sena ou trabalho. Era tudo o "fruto da sua boa obra", já que se tratava de um sacerdote.

Na comunidade religiosa que este tal homem liderava como 'apóstolo-bispo-pastor-patriarca', ou talvez, como 'querubim ungido da guarda', havia muitos fiéis necessitados, com sérias dificuldades. Alguns desses fiéis, embora dizimistas, não tinham como pagar suas contas de luz, água, gás, impostos e aluguel. Pior... Havia fiéis que estavam sem dinheiro até pra comprar a mistura pra colocar na marmita!

Na mesma comunidade em que o tal sacerdote vivia 'suave na nave' e que havia fiéis vivendo sem nenhuma condição digna de vida, também tinha um empresário, não muito assíduo nos cultos, mas que vez por outra dava o ar da sua graça.

Em um belo dia, de sol para alguns e de chuva para outros, esse tal empresário, resolveu presentear esse tal sacerdote com uma 'lembrancinha' especial. O sacerdote ganhou um super carro pra fazer companhia para os outros super carros que ele já tinha na sua ampla garagem de uma ampla mansão.

Enquanto isso... No Reino da Bispolândia...

Os fiéis continuavam a passar privações e o sacerdote continuava a receber privilégios! E tudo isso, todas essas diferenças entre privações e privilegios, é só porque 'D'us quer'.

Assim sendo, nem todos viveram felizes para sempre"!

Essa "historinha gospel" tão comum e tão cruel foi para dizer que hoje o cantar da minha alma ficou ainda mais "chatinho" e inconsolável! Esse cantar fica repetindo perguntas, fica desmentindo respostas, fica desconstruindo explicações.

Por falar em explicações a serem desconstruídas, soube que fora da historinha e dentro da vida real e absurda há quem diga: "Ganhei o carro, aceitei! Não vendi, não dividi, não ajudei aos pobres! Não fiz nada disso, porque isso não resolve! Se alguém também quiser a vida de privilégios que eu tenho é só orar como eu, jejuar como eu, ser tão bom e tão crente como eu. Se precisar de milagre, se necessitar de cura, ou de uma porta aberta, basta bater e 'shazan', abrir-se-vos-á"!

Diante dessa inverdades que se perpetuam dentro das igrejas, minha alma não consegue parar de perguntar: "Por que D'us quer fazer milagre pra José, mas não quer fazer milagre pra João? Isso tem a ver com a natureza de D'us? Ou tem a ver com a natureza de José que é melhor do que a natureza de João"?

Encerro aqui esse cantar da minha alma dizendo que para mim isso nem tem resposta, nem tem explicação. Talvez privilégios e privações sejam só questão de sorte ou azar. Ou talvez não!

Entretanto, de algo eu tenho certeza: Não existe evangelho, que não seja social! Não existe cristianismo, que não seja de Cristo! Não existe Cristo se não houver amor! Não existe amor, se houver tais diferenças!

Privilégios e privações... A culpa é de quem?

Patrícia Carnieto
Enviado por Patrícia Carnieto em 10/02/2017
Reeditado em 11/02/2017
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