TODOS OS HOMENS SÃO FILHOS DE DEUS

“Todos os homens são irmãos e filhos do mesmo Deus, que chama para ele todos os que seguem as suas leis, qualquer que seja a forma pela qual se exprimam.” (O Livro dos Espíritos, questão 654)

No cristianismo tradicional, os seus adeptos são os únicos credenciados para se afirmarem filhos de Deus. Essa opinião é baseada em alguns textos Bíblicos, como por exemplo, João 1:12 onde se lê: “Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus”. Aos demais seres humanos está reservado a condição de serem apenas criaturas, destituídas da comunhão divina e da salvação.

Para se entender essa e outras passagens é necessário compreender o contexto e as motivações dos discípulos de Jesus naquele momento, antes de se utilizar, nos dias atuais, de um conceito exclusivista e contrário à própria fraternidade Cristã.

Os Apóstolos como homens de seu tempo e, por conseguinte, impregnados pelas mitologias de seu povo, utilizaram o mito do primeiro casal e sua queda como base para suas reflexões. Acreditavam que Adão ao perder a filiação divina (Lucas 3:38) por ocasião do pecado original, transmitiu aos seus descendentes essa ruptura com o Eterno. Assim, os homens tornaram-se criaturas em busca de reconciliação com o seu criador.

Até mesmo os judeus que eram chamados de povo de Deus não detinham essa prerrogativa, pois se consideravam filhos de Abraão (Lucas 3:8), igualando-se nesse sentido (de criaturas) aos gentios.

Para os Apóstolos, Jesus era o elo que faltava para essa reconciliação. Se Adão legou aos humanos um pecado hereditário, Jesus resgataria essa falta pelo sacrifício da própria vida (Romanos 5: 8-19). Reconduzindo todos os que crerem em seu sacrifício ao status de legítimos filhos de Deus.

Acontece que as descobertas da ciência demonstram a inexistência dos personagens de Adão e Eva comprovando a sua origem mitológica e simbólica. Invalidando por consequência, o resultado de sua queda.

Jesus por sua vez, não poderia substituir essas ideias mitológicas sem prejuízo para a sua missão. Não podendo revelar conceitos científicos que somente ao futuro estava reservado, teve que submeter-se às opiniões da época e trabalhar com o material que dispunha, para que a sua mensagem pudesse ser assimilada e disseminada mais facilmente.

A Doutrina Espírita concordando com a ciência, não ensina o pecado original nem o sacrifício de substituição na cruz, quer dizer, Adão e Eva não existiram e Jesus não morreu para apagar o pecado original nem nos substituiu nos pecados individuais. Logo, todos os seres humanos são filhos de Deus e herdeiros dos Céus, isto é, todos têm condições de chegar aos planos espirituais mais elevados, através da evolução e da reencarnação.

São as diferenças evolutivas que dividem os filhos de Deus entre aqueles que já fazem a vontade do Pai, se conduzindo no caminho do bem e estando em maior sintonia com Ele ou como disse Paulo: “são guiados pelo espírito de Deus” (Romanos 8:14). E os que por vontade própria se afastam dessa sintonia, não realizando a reforma interior. O retorno ao caminho do correto agir através do arrependimento reforça os laços com os Espíritos do Senhor, volvendo o homem ao equilíbrio de sintonia mental com o Deus, por meio da oração sincera e da caridade.