Dom Aloísio, inspiração e ternura
Padre Geovane Saraiva*
Neste tempo precioso que antecede o Natal do Senhor, na alegre e visível esperança da frágil criança na manjedoura de Belém, sem esquecer o coração humano, no desejo de vê-los (os corações humanos) como se fossem manjedouras espalhadas pelo mundo inteiro, é que recordamos aquele que há nove anos partiu para a casa do Pai: Dom Aloísio Lorscheider (23/12/2007). Fonte de inspiração, ternura, solidariedade, paz e justiça, vemo-lo totalmente despojado e abandonado em Deus, confiando-Lhe seu destino. Quem teve a graça de conhecer Dom Aloísio, e com ele conviveu e trabalhou, pôde atestar sua enorme bondade: “Só sua presença já fazia bem”.[1]
Agradecemos ao Senhor por um franciscano que descobriu o verdadeiro rosto de Deus, e nele traçou passos de sua vida, a partir da referida realidade misteriosa, ao afirmar numa linguagem tão poética quanto profética, com enorme encanto de doçura e sabedoria: “Sempre fiquei muito impressionado e atraído pelo amor quente e apaixonado que São Francisco dedica a Deus. Parece que no beijo do leproso ele entendeu, como Saulo no caminho de Damasco, a doação total de Deus a nós em seu Filho Jesus Cristo. Custou a Francisco não só descer do cavalo fogoso, que no momento montava, mas muito mais do cavalo do orgulho e da vaidade com que ele queria conquistar o título de grande e nobre”.[2] Francisco de Assis o levou, certamente, a encontrar Deus, seu grande tesouro, que com Ele viveu e existiu, e para Ele voltou.
O Advento foi um tempo litúrgico intensamente assimilado por ele, com sua vida voltada à contemplação do mistério da encarnação, ensinando-nos que tal envolvimento no mistério de amor requer de nossa parte uma ascese disciplinada e misericordiosa, para enfrentar as tempestades e os ventos contrários. Acolher como dom a graça da disposição interior para entrar na barca nossa de cada dia, desafiadora travessia da vida, foi que o Cardeal Lorscheider sempre ensinou, dizendo-nos alto e em bom tom com a própria vida, marcada de gentileza, ternura e força profética, que a vida, além de coragem, pede aceitação da revelação da ação divina, vivamente presente nas ações humanas.
Somos agradecidos ao bom Deus por sua vida como sendo uma dádiva do céu para o povo brasileiro, especialmente sua fecunda presença de 22 anos entre o povo cearense. Por isso mesmo, renderemos graças ao bom Deus, na Missa das 18 horas de 23 de dezembro de 2016, na Paróquia de Santo Afonso, Parquelândia – Fortaleza-CE. Jamais nos esqueçamos da importância do Cardeal Lorscheider na história recente da Igreja, de modo especial pela sua força profética em edificar o Reino de Deus, com sua sensibilidade pastoral, clareza diante dos desafios, sem jamais faltar-lhe a ternura e a esperança do Bom Pastor, Nosso Senhor Jesus Cristo.
*Pároco de Santo Afonso e vice-presidente da Previdência Sacerdotal, integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza - geovanesaraiva@gmail.com
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[1] Miguel Brandão, livro “A ternura de um pastor”, p. 28
[2] Dom Aloísio Lorscheider, OFM, Revista “Grande Sinal”, 1982.