O caso assombroso do Grigio
O CASO ASSOMBROSO DO GRIGIO
Miguel Carqueija
"(...) Durante os primeiros dias de seu ministério ele correu perigo tanto por causa de bandidos, que pensavam que ele tinha dinheiro, como por parte de comerciantes e funcionários públicos da cidade, que se ressentiam de suas tentativas de organizar e educar sua futura mão-de-obra barata. Ao longo dos anos, Dom Bosco sobreviveu a diversos atentados contra sua vida. Eles poderiam ter sido bem-sucedidos não fosse pelas repetidas - e quase inexplicáveis - intervenções do enorme Grigio. Quando Bosco estava em perigo, o grande cachorro aparecia do nada para perseguir seus atacantes. Assim que a ordem era restabelecida, ele simplesmente se virava e ia embora.
Com o passar dos anos, a reputação de Bosco cresceu e nem ladrões nem funcionários locais ousavam tocá-lo. O poderoso Grigio, que sempre era atraído pelos problemas, simplesmente desapareceu, sem nunca mais ser visto."
(100 Cães Que mudaram a Civilização - Os Cães Mais Influentes da História, de Sam Stall - editora Prumo Momentos)
Quem foi Dom Bosco? Foi simplesmente o italiano São João Bosco, um dos santos mais importantes do século XIX, grande educador e humanista, fundador das Escolas Salesianas. Filho de Margarida e Francisco, Dom Bosco nasceu em 1815, numa aldeia do município de Castelnuovo d’Asti (norte da Itália) e faleceu em 1888, após uma longa vida dedicada a Deus, à Igreja e aos pobres e deserdados da vida, especificamente os meninos de rua que abundavam na região de Turim.
A obra educativa de Dom Bosco – que tirava crianças e adolescentes das ruas onde aprendiam vícios e lhes dava teto, alimento e ensino, e lugar na sociedade – é tão importante que criou o sistema salesiano, inspirado em São Francisco de Sales. A história deste sacerdote, que lutou contra a penúria de recursos para suas obras e realizou verdadeiros milagres de caridade, sendo muito ajudado pela própria mãe, é em tudo e por tudo extraordinária. Dele se divulga muito a profecia sobre Brasília, a cidade que ele anteviu num dos seus sonhos. Todavia, nada parece mais extraordinário que a história do cachorro, o grande, negro e fiel Grigio (cinzento) que veio do nada e voltou para o nada, isto é o mistério, e que durante anos protegeu a vida do santo contra os muitos atentados que os homens maus lhe armaram.
A existência real do Grigio não pode ser contestada, o próprio santo escreveu sobre ele, embora evitando se comprometer com alguma explicação audaciosa. Somente declarou que não era um cachorro comum. Os livros “Dom Bosco”, de M. Pelissier, e “Dom Bosco: uma biografia nova”, de Terésio Bosco (sacerdote italiano nascido em 1931 e que deve ter parentesco com o santo), além de paginas na internet, referem-se ao cão. Entretanto é peculiar que, quando se fala em Dom Bosco, só raramente haja menção ao Grigio. Isso porque, evidentemente, a simples existência do Grigio, considerando as suas singularidades, é embaraçosa.
Pelissier fala claramente em “cachorro fantasma”. O fato de Grigio não ter origem conhecida; de sua longevidade inexplicável; de não aceitar comida ou, segundo foi testemunhado, sequer cheirá-la; de se retirar para local ignorado quando deixava de ser necessário; e de ter se evadido misteriosamente de uma casa fechada; tudo isso parece levar a uma explicação sobrenatural. Afinal, animais sobrevivem à morte? No livro de Terésio Bosco o capítulo dedicado ao Grigio intitula-se “E Deus enviou um cão”.
Neste capítulo o autor transcreve anotações do próprio Dom Bosco, que assim se refere ao primeiro encontro com o cão extraordinário:
“Uma noite escura eu voltava para casa sozinho, não sem um pouco de pavor, quando vejo ao meu lado um cão alto que à primeira vista me causou medo; mas, fazendo faceirices como se eu fosse o seu dono, logo ficamos bons amigos e acompanhou-me até o oratório. Isto aconteceu muitas outras vezes. Posso dizer que o Grigio me prestou importantes serviços. Vou expor o que é pura verdade.
Em fins de novembro de 1854, numa noite chuvosa e coberta de neblina, eu vinha sozinho da cidade. A certa altura percebo que dois homens caminhavam a pouca distância, na minha frente. Apertavam ou reduziam o passo, conforme eu acelerasse ou diminuísse o meu andar. Tentei voltar atrás, mas era muito tarde: com dois saltos, em silêncio, lançaram-me um manto na cabeça. Procurei evitar que me enrolassem, queria gritar, mas não consegui. Naquele momento apareceu o Grigio. Uivando, lançou-se com as patas sobre o rosto de um e logo ferrou os dentes em outro.
(...) O Grigio continuava uivando feito um lobo enraivecido. Foram-se embora bem depressinha e o Grigio, permanecendo ao meu lado, acompanhou-me até em casa.”
Convém lembrar que, naquela época como ainda mais na nossa, haviam adultos que se aproveitavam dos jovens para aproveitá-los na vida criminosa e não olhavam com bons olhos alguém que, como Dom Bosco, se dedicava a uma obra redentora dessa mesma juventude. E nos seus trajetos o padre costumava passar por trechos desertos.
M.Pelissier narra que certa ocasião o Grigio (no que deve ter sido a sua maior façanha) enfrentou sozinho e pôs para correr toda uma súcia de malfeitores que haviam tentado cercar o padre. Imagino como devem ter ficado as roupas dos sujeitos.
O Grigio foi amplamente conhecido pela mãe de Dom Bosco e pelos frequentadores de seu oratório.Um deles, o estudante Carlos Tomatis, deixou este depoimento:
“Era um cão de aspecto verdadeiramente espantoso. Muitas vezes Mamãe Margarida exclamava, ao vê-lo: “Oh, o grande animal.” Tinha um aspecto quase de lobo, focinho comprido, orelhas retas, pelo pardo, um metro de altura.”
Outra testemunha, Miguel Rua, conta que certa noite Dom Bosco resolveu sair para resolver algum assunto, mas esbarrou com o Grigio estendido na soleira da porta. E não houve jeito de passar, pois o cão rosnava até para ele. E era uma época de ameaças ao santo. Então Margarida, mãe de Dom Bosco, e que se opusera àquela saída, pronunciou uma frase que ficou famosa:
“Se t’veuli nen scoutemi mi, scouta almen il can; seurt nen.”
“Se não queres me ouvir, ao menos ouve o cachorro; não saias de casa.”
Posteriormente o santo ficou sabendo da presença, emboscados por perto, de elementos armados dispostos a matá-lo.
Ainda segundo o relato de Dom Bosco, ele viu o Grigio pela última vez em 1866, quando, em companhia de outro padre, seguia à noite pela estrada de Murialdo a Moncucco (o santo costumava andar a pé; apesar de haver gente que afirme frivolamente que a Igreja é riquíssima, Dom Bosco era pobre) em direção à casa de certo Luís Moglia, e acabaram se perdendo. Pois não é que o Grigio apareceu e os guiou por três quilômetros, até chegarem ao destino? De fato o Grigio aparecia do nada, quando se fazia necessário, como se fosse (perdoem a comparação jocosa) o Chapolin Colorado (com a diferença de que o Grigio não fazia lambança). Mas o melhor vem agora: o cão entrou com os dois sacerdotes. Mas quando o dono da casa resolveu levar comida para ele... já não o encontrou. Assim escreve Dom Bosco:
“Todos ficaram admirados porque nenhuma porta, nenhuma janela fôra aberta, e os cães da casa não deram nenhum alarme.”
Mas nem aquela foi a última vez, já que posteriormente a esse escrito do sacerdote, o Grigio tornou a aparecer.
Que extraordinária graça o Todo Poderoso concedeu a esse homem iluminado, enviando um poderoso animal do Além para protegê-lo e à sua obra abençoada, que floresceu e dá seus frutos até os dias de hoje!
Rio de Janeiro, 19 e 20 de novembro de 2016.
(pintura existente na casa-mãe dos Salesianos em Turim: Dom Bosco, sua mãe Margarida e o Grigio)
O CASO ASSOMBROSO DO GRIGIO
Miguel Carqueija
"(...) Durante os primeiros dias de seu ministério ele correu perigo tanto por causa de bandidos, que pensavam que ele tinha dinheiro, como por parte de comerciantes e funcionários públicos da cidade, que se ressentiam de suas tentativas de organizar e educar sua futura mão-de-obra barata. Ao longo dos anos, Dom Bosco sobreviveu a diversos atentados contra sua vida. Eles poderiam ter sido bem-sucedidos não fosse pelas repetidas - e quase inexplicáveis - intervenções do enorme Grigio. Quando Bosco estava em perigo, o grande cachorro aparecia do nada para perseguir seus atacantes. Assim que a ordem era restabelecida, ele simplesmente se virava e ia embora.
Com o passar dos anos, a reputação de Bosco cresceu e nem ladrões nem funcionários locais ousavam tocá-lo. O poderoso Grigio, que sempre era atraído pelos problemas, simplesmente desapareceu, sem nunca mais ser visto."
(100 Cães Que mudaram a Civilização - Os Cães Mais Influentes da História, de Sam Stall - editora Prumo Momentos)
Quem foi Dom Bosco? Foi simplesmente o italiano São João Bosco, um dos santos mais importantes do século XIX, grande educador e humanista, fundador das Escolas Salesianas. Filho de Margarida e Francisco, Dom Bosco nasceu em 1815, numa aldeia do município de Castelnuovo d’Asti (norte da Itália) e faleceu em 1888, após uma longa vida dedicada a Deus, à Igreja e aos pobres e deserdados da vida, especificamente os meninos de rua que abundavam na região de Turim.
A obra educativa de Dom Bosco – que tirava crianças e adolescentes das ruas onde aprendiam vícios e lhes dava teto, alimento e ensino, e lugar na sociedade – é tão importante que criou o sistema salesiano, inspirado em São Francisco de Sales. A história deste sacerdote, que lutou contra a penúria de recursos para suas obras e realizou verdadeiros milagres de caridade, sendo muito ajudado pela própria mãe, é em tudo e por tudo extraordinária. Dele se divulga muito a profecia sobre Brasília, a cidade que ele anteviu num dos seus sonhos. Todavia, nada parece mais extraordinário que a história do cachorro, o grande, negro e fiel Grigio (cinzento) que veio do nada e voltou para o nada, isto é o mistério, e que durante anos protegeu a vida do santo contra os muitos atentados que os homens maus lhe armaram.
A existência real do Grigio não pode ser contestada, o próprio santo escreveu sobre ele, embora evitando se comprometer com alguma explicação audaciosa. Somente declarou que não era um cachorro comum. Os livros “Dom Bosco”, de M. Pelissier, e “Dom Bosco: uma biografia nova”, de Terésio Bosco (sacerdote italiano nascido em 1931 e que deve ter parentesco com o santo), além de paginas na internet, referem-se ao cão. Entretanto é peculiar que, quando se fala em Dom Bosco, só raramente haja menção ao Grigio. Isso porque, evidentemente, a simples existência do Grigio, considerando as suas singularidades, é embaraçosa.
Pelissier fala claramente em “cachorro fantasma”. O fato de Grigio não ter origem conhecida; de sua longevidade inexplicável; de não aceitar comida ou, segundo foi testemunhado, sequer cheirá-la; de se retirar para local ignorado quando deixava de ser necessário; e de ter se evadido misteriosamente de uma casa fechada; tudo isso parece levar a uma explicação sobrenatural. Afinal, animais sobrevivem à morte? No livro de Terésio Bosco o capítulo dedicado ao Grigio intitula-se “E Deus enviou um cão”.
Neste capítulo o autor transcreve anotações do próprio Dom Bosco, que assim se refere ao primeiro encontro com o cão extraordinário:
“Uma noite escura eu voltava para casa sozinho, não sem um pouco de pavor, quando vejo ao meu lado um cão alto que à primeira vista me causou medo; mas, fazendo faceirices como se eu fosse o seu dono, logo ficamos bons amigos e acompanhou-me até o oratório. Isto aconteceu muitas outras vezes. Posso dizer que o Grigio me prestou importantes serviços. Vou expor o que é pura verdade.
Em fins de novembro de 1854, numa noite chuvosa e coberta de neblina, eu vinha sozinho da cidade. A certa altura percebo que dois homens caminhavam a pouca distância, na minha frente. Apertavam ou reduziam o passo, conforme eu acelerasse ou diminuísse o meu andar. Tentei voltar atrás, mas era muito tarde: com dois saltos, em silêncio, lançaram-me um manto na cabeça. Procurei evitar que me enrolassem, queria gritar, mas não consegui. Naquele momento apareceu o Grigio. Uivando, lançou-se com as patas sobre o rosto de um e logo ferrou os dentes em outro.
(...) O Grigio continuava uivando feito um lobo enraivecido. Foram-se embora bem depressinha e o Grigio, permanecendo ao meu lado, acompanhou-me até em casa.”
Convém lembrar que, naquela época como ainda mais na nossa, haviam adultos que se aproveitavam dos jovens para aproveitá-los na vida criminosa e não olhavam com bons olhos alguém que, como Dom Bosco, se dedicava a uma obra redentora dessa mesma juventude. E nos seus trajetos o padre costumava passar por trechos desertos.
M.Pelissier narra que certa ocasião o Grigio (no que deve ter sido a sua maior façanha) enfrentou sozinho e pôs para correr toda uma súcia de malfeitores que haviam tentado cercar o padre. Imagino como devem ter ficado as roupas dos sujeitos.
O Grigio foi amplamente conhecido pela mãe de Dom Bosco e pelos frequentadores de seu oratório.Um deles, o estudante Carlos Tomatis, deixou este depoimento:
“Era um cão de aspecto verdadeiramente espantoso. Muitas vezes Mamãe Margarida exclamava, ao vê-lo: “Oh, o grande animal.” Tinha um aspecto quase de lobo, focinho comprido, orelhas retas, pelo pardo, um metro de altura.”
Outra testemunha, Miguel Rua, conta que certa noite Dom Bosco resolveu sair para resolver algum assunto, mas esbarrou com o Grigio estendido na soleira da porta. E não houve jeito de passar, pois o cão rosnava até para ele. E era uma época de ameaças ao santo. Então Margarida, mãe de Dom Bosco, e que se opusera àquela saída, pronunciou uma frase que ficou famosa:
“Se t’veuli nen scoutemi mi, scouta almen il can; seurt nen.”
“Se não queres me ouvir, ao menos ouve o cachorro; não saias de casa.”
Posteriormente o santo ficou sabendo da presença, emboscados por perto, de elementos armados dispostos a matá-lo.
Ainda segundo o relato de Dom Bosco, ele viu o Grigio pela última vez em 1866, quando, em companhia de outro padre, seguia à noite pela estrada de Murialdo a Moncucco (o santo costumava andar a pé; apesar de haver gente que afirme frivolamente que a Igreja é riquíssima, Dom Bosco era pobre) em direção à casa de certo Luís Moglia, e acabaram se perdendo. Pois não é que o Grigio apareceu e os guiou por três quilômetros, até chegarem ao destino? De fato o Grigio aparecia do nada, quando se fazia necessário, como se fosse (perdoem a comparação jocosa) o Chapolin Colorado (com a diferença de que o Grigio não fazia lambança). Mas o melhor vem agora: o cão entrou com os dois sacerdotes. Mas quando o dono da casa resolveu levar comida para ele... já não o encontrou. Assim escreve Dom Bosco:
“Todos ficaram admirados porque nenhuma porta, nenhuma janela fôra aberta, e os cães da casa não deram nenhum alarme.”
Mas nem aquela foi a última vez, já que posteriormente a esse escrito do sacerdote, o Grigio tornou a aparecer.
Que extraordinária graça o Todo Poderoso concedeu a esse homem iluminado, enviando um poderoso animal do Além para protegê-lo e à sua obra abençoada, que floresceu e dá seus frutos até os dias de hoje!
Rio de Janeiro, 19 e 20 de novembro de 2016.
(pintura existente na casa-mãe dos Salesianos em Turim: Dom Bosco, sua mãe Margarida e o Grigio)