A segurança dos salvos no juízo final
“Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.” (Jo 5.24).
Essa declaração de Jesus nos conforta profundamente, não há dúvidas. Ela nos dá uma verdadeira segurança quanto ao destino eterno dos salvos; denota uma realidade tão sublime de sua posição que, conquanto haja duras provações e dificuldades em sua caminhada, a sua fé não se abala facilmente, os receios são todos dirimidos, há somente gozo, paz e satisfação. Além disso, somos estimulados a perseverar, pois, convictos de que a nossa situação no porvir já está resolvida, a confiança no presente assume um papel fundamental no exercício constante da fé.
No entanto, observo como muitas pessoas – até mesmo pessoas boas e piedosas - não entendem ou não aceitam definitivamente essa verdade. A impressão que se tem é de que para grande parte dos cristãos essa promessa não foi endereçada à Igreja de Cristo, haja vista afirmarem que muitos salvos comparecerão no juízo final, a fim de serem julgados, podendo, inclusive, receber da boca de Jesus a amargosa sentença: “Apartai-vos de mim, malditos, pois não vos conheço!”.
Isso é lamentável, porquanto esse entendimento rouba a paz de muitas pessoas que creem e seguem a Cristo. O Mestre deixou bem claro que quem ouve a sua palavra e crê naquele que o enviou tem a vida eterna. Ora, o verbo “ter” está no presente. A pessoa não passa a ter a vida eterna só após a morte. A vida eterna decorre da união verdadeira com próprio Senhor. Cristo afirma que aqueles que já a receberam não entrarão em juízo, por quê? Porque já passaram da morte para a vida. O cristão, desde que ande lado a lado com o seu salvador e morra unido a ele, estará para sempre garantido ante a face de Deus; jamais perderá a sua posição de salvo, haja o que houver.
É discutível a maneira como a Igreja se apresentará na ocasião do julgamento do Grande Trono Branco. Sabemos que os santos se assentarão junto de Jesus, em seu trono (Ap 3.21); sabemos também que eles hão de julgar o mundo e os anjos (1Co 6.2-3), mas como isso se dará ninguém sabe ao certo. Todavia, na qualidade de réu, jamais se apresentarão, uma vez que nenhuma condenação há para os que estão em Jesus Cristo, nem antes e nem depois da morte (Rm 8.1).
Diante disso, muitos poderão argumentar: mas e quanto ao fato de
Jesus ter dito: “Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade (Mt 7.22-23)?” Esse versículo não está afirmando a possibilidade que haverá, nesse dia, de muitos salvos perderem a sua salvação? Na verdade, não. Jesus está deixando bem claro que essas pessoas, embora tenham feito muitas maravilhas em teu nome, não se mantiveram unidas a ele fielmente até ao fim de suas vidas, visto que “praticavam a iniquidade”.
Ainda que um dia elas tenham crido em Jesus, operado milagres em teu nome, como prova de que o conheciam (Mt 12.30), passaram a praticar o pecado conscientemente, permanecendo nele sem se arrepender, pois na expressão “Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade” o verbo “praticar” denota uma ação constante, uma permanecia no ato, e a própria Bíblia afirma que um verdadeiro salvo, depois de regenerado por Deus, não pode viver na pratica do pecado como se fosse um hábito, já que nele figura a natureza divina (2Pe 1.4; 1Jo 3.8-10).
A iniquidade é o pecado praticado conscientemente; na Bíblia, esse termo alude ao pecado do crente, portanto aqueles que não levam uma vida de santidade jamais poderão ver a Deus (1Ts 5.23; Hb 12.14). Fica claro então que as pessoas apresentadas no versículo já estavam perdidas antes mesmo de compareceram à solene ocasião. Não haveria possibilidade de alteração, em hipótese alguma, de seu destino eterno. Apenas estariam tomando conhecimento do porquê de já estarem sentenciadas às cadeias eternas. Os salvos em Jesus, após a morte – ou até mesmo o arrebatamento da Igreja -, estarão para sempre com o senhor onde quer que ele estiver (1Ts 4.17); não haverá mais riscos de perda de vida eterna, pois estarão livres não só do domínio do pecado, mas também de sua presença.
O que está reservado aos salvos é o julgamento no Tribunal de Cristo – não confunda com Juízo final, o qual, como o próprio nome já diz, ocorrerá no final de todas as coisas -, neste é que deverão prestar contas. No tribunal de Jesus não serão julgados os pecados do crente, visto que estes já foram julgados na cruz. O que será julgado, evidentemente, são as obras, mas só para efeito de galardão (Rm 14.10; 1Co 3.8-15; 2Co 5.10). Depreende-se, por conseguinte, que Tribunal de Cristo e Juízo final não são as mesmas coisas; são eventos distintos que ocorrerão em momentos diferentes. O primeiro é destinado ao salvos e ocorrerá logo após o arrebatamento da Igreja; já o segundo, após o reinado milenar de Jesus Cristo nesta Terra.
De acordo com a Bíblia, o mal do homem é, sem dúvidas, não pensar no seu fim (Lm 1.9). Após a morte não haverá possibilidade de mudança no destino eterno de quem quer que seja, pois: “Caindo a árvore para o sul ou para o norte, no lugar em que cair, aí ficará.” (Ec 11.3). Existe, por isso, uma enorme necessidade de nos prepararmos ainda nesse mundo, pois enquanto há vida há esperança (Ec 9.4). É bem verdade que a morte de um cristão também pode ocorrer de forma trágica (Mt 14), uma vez que a Bíblia não determina a maneira como partiremos desse mundo. No entanto, o que importa mesmo é já estarmos salvos pela graça de Cristo, pois no dia da ressurreição receberemos novos corpos, isso nos foi prometido (1Co 15.51-55). As escrituras também deixa claro que Deus valoriza a partida dos seus santos, independentemente de como ela se dê (Sl 116.15).
Com isso posto, devemos tomar muito cuidado com as abordagens incabíveis a partir de determinadas passagens bíblicas, pois o que nela está escrito deve ser entendido à luz de seu contexto. Tudo o que é pregado nos púlpitos das igrejas precisa ser analisado de acordo com as Sagradas Escrituras, a fim de se confirmar se a tal exposição é verdadeira (At 17.11). A Bíblia é análoga, ou seja, ela interpreta a si mesma; logo, não há contradições e nem erros. Os cristãos que se prezam necessitam ser assíduos nos estudos bíblicos, pois há muitas interpretações erradas, que deixam vários irmãos piedosos à mercê da insegurança e da incerteza. Pregadores que não têm compromisso com a palavra de Deus não se preocupam em ensinar as verdades bíblicas como elas são, e isso implica distorções das escrituras e confusão grave à maioria das pessoas que se encontram desatentas. É preciso vigiar.