ESTUDOS MAÇÔNICOS- A MAÇONARIA E A VIRTUDE DA CARIDADE
“Agora, porém, permanecem essas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; de todas, porém, a maior é a caridade.”
Coríntios, ;13;1.
Entre as virtudes do homem verdadeiro,
São três que alcançam a maior qualidade;
Não podem ser compradas com dinheiro,
E nunca arrefecem quando chega a idade.
Formando os alicerces da nossa estrutura,
Como vigas mestras de um espírito forte.
É remédio seguro que nos garante a cura,
E também a bússola que nos dá um norte.
A fé é como o pão que nos dá o sustento,
A água que estanca nossa sede espiritual;
E a esperança é o ar que nos dá o alento.
O que apóstolo disse é a grande verdade:
–Ter fé e esperança é coisa fundamental;
E de todas as virtudes, maior é a caridade.
♀
A frase que dá abertura a este texto é do apóstolo Paulo, o verdadeiro responsável pela disseminação do cristianismo pelo mundo todo. Não fosse apóstolo, provavelmente a doutrina pregada por Jesus talvez não passasse de mais um registro na história das doutrinas religiosas, marcada com a alcunha de heresia judaica, como muitas que surgiram entre os dois primeiros séculos antes da vinda de Jesus e nos dois séculos que se seguiram após a sua morte.
Paulo era um rabino judeu, versado nas escrituras e supostamente um profundo conhecedor da cultura religiosa judaica. Demonstra-o nos seus escritos. Deve ter tido conhecimento também da parte esotérica que o judaísmo encerra. O Cristo de Paulo se identifica mais com o Cristo dos gnósticos do que com o dos evangelhos sinóticos. Aliás, foi Paulo que transformou o Messias judeu no Cristo universal. Para os doze discípulos, e provavelmente para as pessoas que o ouviram, a missão de Jesus era restrita ao povo de Israel. Não tinha nada a ver com romanos, gregos, capadócios, egípcios, sírios e outros povos que compunham o cosmopolita império romano. Não é demais lembrar que foi o evangelista Lucas, aliás, discípulo de Paulo, que transformou os iletrados camponeses, pescadores e operários, que compunham o séquito de discípulos de Jesus em missionários internacionais, no episódio do Pentecostes. Nesse dia, por obra do Espírito Santo, um grupo de indivíduos que mal falava o seu gutural aramaico passou a falar, por verdadeiro milagre, todas as línguas do império romano. Verdade histórica ou metáfora literária (como querem os céticos), essa foi a passagem do cristianismo de mera seita herética judaica para religião de cunho internacional.
Jesus, provavelmente, também era um rabino. Não porque Maria e outras mulheres o chamassem de rabi, mas pelo conhecimento profundo que ele mostrava ter das escrituras judaicas. Era um conhecimento que ia muito além da vulgata liberada nas sinagogas, que os judeus eram (e são, ainda hoje, em alguma medida) obrigados a conhecer. Talvez por isso Paulo, também um rabino de conhecimento iniciático, o tenha entendido melhor que os seus discípulos originais. Então ele formatou o cristianismo que se espalhou pelo mundo e fez de Jesus, não apenas o Messias judeu, emblemático herói que alguns judeus esperam até hoje, mas o Cristo universal, misterioso arquétipo do Salvador do mundo, que todos os povos antigos, de uma forma ou de outra, cultuavam.
Paulo formatou a ética do cristianismo e deu a ele um profundo conteúdo de misticismo e espiritualidade. Dado o caráter francamente iniciático dos seus conceitos sobre a divindade de Jesus, não podemos deixar de pensar que a fonte onde ele se abeberou para elaborá-los foi a Cabala.Voltaremos, num próximo artigo, a tratar desse tema para justificar as nossas assertivas. Por ora queremos dizer que um dos principais temas tratados pela filosofia desenvolvida pela Cabala é a caridade. Caridade que o apóstolo Paulo coloca como a maior de todas as virtudes. Caridade verdadeira, que nasce do sentimento de fraternidade que deveria existir entre todas as pessoas. Não a caridade farisaica que se pratica unicamente com a esperança de uma retribuição midiática ou social. Essa caridade, o próprio Jesus condenou nos fariseus. “ Não façais como os fariseus”, disse ele, “ que quando dão esmolas fazem soar trombetas pelas esquinas, para que todos vejam o quanto são bondosos. Em verdade vos digo, que já tiveram a sua recompensa". Paulo, ele mesmo um fariseu, deve ter pensado muito nesse ensinamento do seu mestre. E por isso cunhou a frase que dá fechamento ao soneto que transcrevemos na abertura deste texto.
Uma metáfora cabalística ilustra bem esse tema:
O rabi Schimeon Bem Iohai, o grande codificador da Cabala, recebia constantemente a visita do espírito do profeta Elias, e com ele se consultava.
─ Quando virá o Messias─ perguntava o rabi ao espírito do profeta toda vez que se encontravam.
─ Hoje mesmo você o verá ─ respondeu, um dia, o espírito de Elias, já cansado daquela insistente pergunta.
─ Onde o verei ─ perguntou, eufórico, o rabi.
─ Vá até a porta de Jafa e ali o verás ─ disse o profeta.
O rabi Schimeon foi até a porta de Jafa e ficou ali o dia inteiro, esperando pela vinda do Messias. Mas só viu um monte de mendigos e leprosos, uns pedindo esmolas, outros coçando suas chagas purulentas. E no meio dessa turba de indigentes, um desconhecido de aparência humilde tentava mitigar o sofrimento deles, ofertando alimentos e roupas a uns, carinho, atenção e remédios para outros. Ao voltar para casa, á noite, ele interpelou o espírito do profeta.
─ Tu mentiste para mim. Fiquei o dia inteiro na porta de Jafa, como indicaste e não vi o Messias.
─ Não viste porque não quiseste. Não estava lá um homem prestando socorro aos aflitos? Pois eu te digo que o reino do Messias é o reino da caridade. Se queres que o Messias venha todos os dias, pratique a caridade. Ensine-a aos seus discípulos.”
Esta é uma boa deixa para lembrar aos Irmãos para reforçarem as contribuições ao Hospital. Afinal de contas, o Irmão Hospitaleiro simboliza, na Loja, o grande Irmão São João de Rodes, fundador do Hospital dos cruzados em Jerusalém, que se tornou mais tarde a Grande Ordem dos Cavaleiros do Hospital de São João, que muitos historiadores maçons têm como a verdadeira origem da Maçonaria atual. Esse grande Irmão, que era filho do rei de Rodes, para fundar e manter esse hospital, esmolava nas praças e portas da cidade de Jerusalém. Por isso ficou conhecido como "São João, o Esmoler". Essa, talvez, seja uma das razões de as Lojas maçônicas serem chamadas de Lojas de São João. Essa Ordem, que foi a responsável pela fundação de vários hospitais, que deram origens inclusive ás Santas Casas de Misericórdia, sobrevive ainda hoje com o nome de Cavaleiros de Malta, prestando um relevante serviço na área da saúde em todo o mundo.
Maçonaria não é só política e espiritualidade corporativista. É, fundamentalmente, prestação de serviço á comunidade. É socorrer os aflitos e assistir os necessitados. Não é sem razão, pois, que ela era considerada, pelos Irmãos do Século das Luzes, um sucedâneo da Cavalaria Medieval, cuja divisa era a defesa do fraco e do oprimido.
“Sem Caridade não há Salvação”, disse o grande São Vicente de Paula. E o apóstolo Paulo, ao colocar a caridade acima de todas as demais virtudes, sem dúvida, tinha razão.
“Agora, porém, permanecem essas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; de todas, porém, a maior é a caridade.”
Coríntios, ;13;1.
Entre as virtudes do homem verdadeiro,
São três que alcançam a maior qualidade;
Não podem ser compradas com dinheiro,
E nunca arrefecem quando chega a idade.
Formando os alicerces da nossa estrutura,
Como vigas mestras de um espírito forte.
É remédio seguro que nos garante a cura,
E também a bússola que nos dá um norte.
A fé é como o pão que nos dá o sustento,
A água que estanca nossa sede espiritual;
E a esperança é o ar que nos dá o alento.
O que apóstolo disse é a grande verdade:
–Ter fé e esperança é coisa fundamental;
E de todas as virtudes, maior é a caridade.
♀
A frase que dá abertura a este texto é do apóstolo Paulo, o verdadeiro responsável pela disseminação do cristianismo pelo mundo todo. Não fosse apóstolo, provavelmente a doutrina pregada por Jesus talvez não passasse de mais um registro na história das doutrinas religiosas, marcada com a alcunha de heresia judaica, como muitas que surgiram entre os dois primeiros séculos antes da vinda de Jesus e nos dois séculos que se seguiram após a sua morte.
Paulo era um rabino judeu, versado nas escrituras e supostamente um profundo conhecedor da cultura religiosa judaica. Demonstra-o nos seus escritos. Deve ter tido conhecimento também da parte esotérica que o judaísmo encerra. O Cristo de Paulo se identifica mais com o Cristo dos gnósticos do que com o dos evangelhos sinóticos. Aliás, foi Paulo que transformou o Messias judeu no Cristo universal. Para os doze discípulos, e provavelmente para as pessoas que o ouviram, a missão de Jesus era restrita ao povo de Israel. Não tinha nada a ver com romanos, gregos, capadócios, egípcios, sírios e outros povos que compunham o cosmopolita império romano. Não é demais lembrar que foi o evangelista Lucas, aliás, discípulo de Paulo, que transformou os iletrados camponeses, pescadores e operários, que compunham o séquito de discípulos de Jesus em missionários internacionais, no episódio do Pentecostes. Nesse dia, por obra do Espírito Santo, um grupo de indivíduos que mal falava o seu gutural aramaico passou a falar, por verdadeiro milagre, todas as línguas do império romano. Verdade histórica ou metáfora literária (como querem os céticos), essa foi a passagem do cristianismo de mera seita herética judaica para religião de cunho internacional.
Jesus, provavelmente, também era um rabino. Não porque Maria e outras mulheres o chamassem de rabi, mas pelo conhecimento profundo que ele mostrava ter das escrituras judaicas. Era um conhecimento que ia muito além da vulgata liberada nas sinagogas, que os judeus eram (e são, ainda hoje, em alguma medida) obrigados a conhecer. Talvez por isso Paulo, também um rabino de conhecimento iniciático, o tenha entendido melhor que os seus discípulos originais. Então ele formatou o cristianismo que se espalhou pelo mundo e fez de Jesus, não apenas o Messias judeu, emblemático herói que alguns judeus esperam até hoje, mas o Cristo universal, misterioso arquétipo do Salvador do mundo, que todos os povos antigos, de uma forma ou de outra, cultuavam.
Paulo formatou a ética do cristianismo e deu a ele um profundo conteúdo de misticismo e espiritualidade. Dado o caráter francamente iniciático dos seus conceitos sobre a divindade de Jesus, não podemos deixar de pensar que a fonte onde ele se abeberou para elaborá-los foi a Cabala.Voltaremos, num próximo artigo, a tratar desse tema para justificar as nossas assertivas. Por ora queremos dizer que um dos principais temas tratados pela filosofia desenvolvida pela Cabala é a caridade. Caridade que o apóstolo Paulo coloca como a maior de todas as virtudes. Caridade verdadeira, que nasce do sentimento de fraternidade que deveria existir entre todas as pessoas. Não a caridade farisaica que se pratica unicamente com a esperança de uma retribuição midiática ou social. Essa caridade, o próprio Jesus condenou nos fariseus. “ Não façais como os fariseus”, disse ele, “ que quando dão esmolas fazem soar trombetas pelas esquinas, para que todos vejam o quanto são bondosos. Em verdade vos digo, que já tiveram a sua recompensa". Paulo, ele mesmo um fariseu, deve ter pensado muito nesse ensinamento do seu mestre. E por isso cunhou a frase que dá fechamento ao soneto que transcrevemos na abertura deste texto.
Uma metáfora cabalística ilustra bem esse tema:
O rabi Schimeon Bem Iohai, o grande codificador da Cabala, recebia constantemente a visita do espírito do profeta Elias, e com ele se consultava.
─ Quando virá o Messias─ perguntava o rabi ao espírito do profeta toda vez que se encontravam.
─ Hoje mesmo você o verá ─ respondeu, um dia, o espírito de Elias, já cansado daquela insistente pergunta.
─ Onde o verei ─ perguntou, eufórico, o rabi.
─ Vá até a porta de Jafa e ali o verás ─ disse o profeta.
O rabi Schimeon foi até a porta de Jafa e ficou ali o dia inteiro, esperando pela vinda do Messias. Mas só viu um monte de mendigos e leprosos, uns pedindo esmolas, outros coçando suas chagas purulentas. E no meio dessa turba de indigentes, um desconhecido de aparência humilde tentava mitigar o sofrimento deles, ofertando alimentos e roupas a uns, carinho, atenção e remédios para outros. Ao voltar para casa, á noite, ele interpelou o espírito do profeta.
─ Tu mentiste para mim. Fiquei o dia inteiro na porta de Jafa, como indicaste e não vi o Messias.
─ Não viste porque não quiseste. Não estava lá um homem prestando socorro aos aflitos? Pois eu te digo que o reino do Messias é o reino da caridade. Se queres que o Messias venha todos os dias, pratique a caridade. Ensine-a aos seus discípulos.”
Esta é uma boa deixa para lembrar aos Irmãos para reforçarem as contribuições ao Hospital. Afinal de contas, o Irmão Hospitaleiro simboliza, na Loja, o grande Irmão São João de Rodes, fundador do Hospital dos cruzados em Jerusalém, que se tornou mais tarde a Grande Ordem dos Cavaleiros do Hospital de São João, que muitos historiadores maçons têm como a verdadeira origem da Maçonaria atual. Esse grande Irmão, que era filho do rei de Rodes, para fundar e manter esse hospital, esmolava nas praças e portas da cidade de Jerusalém. Por isso ficou conhecido como "São João, o Esmoler". Essa, talvez, seja uma das razões de as Lojas maçônicas serem chamadas de Lojas de São João. Essa Ordem, que foi a responsável pela fundação de vários hospitais, que deram origens inclusive ás Santas Casas de Misericórdia, sobrevive ainda hoje com o nome de Cavaleiros de Malta, prestando um relevante serviço na área da saúde em todo o mundo.
Maçonaria não é só política e espiritualidade corporativista. É, fundamentalmente, prestação de serviço á comunidade. É socorrer os aflitos e assistir os necessitados. Não é sem razão, pois, que ela era considerada, pelos Irmãos do Século das Luzes, um sucedâneo da Cavalaria Medieval, cuja divisa era a defesa do fraco e do oprimido.
“Sem Caridade não há Salvação”, disse o grande São Vicente de Paula. E o apóstolo Paulo, ao colocar a caridade acima de todas as demais virtudes, sem dúvida, tinha razão.