Homilia Pe. Ângelo Busnardo- XXIV Dom. Comum (Os Méritos de Cristo/Pecado/Salvação)

XXIV DOMINGO COMUM

11 / 09 / 2016

Ex.32,7-11.13-14 / 1Tm.1,12-17 / Lc.15,1-32

Moisés estava no monte Sinai recebendo de Deus os dez mandamentos. No acampamento, Israel fundiu um bezerro de ouro e começou a adorá-lo. Deus é extremamente zeloso e não admite ser trocado por um ídolo: 7 O Senhor falou a Moisés: “Vamos! desce, pois corrompeu-se o teu povo que tiraste do Egito. 8 Bem depressa desviaram-se do caminho que lhes prescrevi. Fizeram um bezerro fundido, prostraram-se e ofereceram sacrifícios diante dele, dizendo: ‘Israel, aí tens os teus deuses, que te fizeram sair do Egito’” (Ex.32,7-8). A proposta de Deus era exterminar Israel e começar novamente a formação de um povo como fizera ao chamar Abraão. Se Moisés tivesse apoiado a proposta divina, Deus teria exterminado tanto os idólatras como aqueles que não se envolveram com a idolatria, mas nada fizeram para impedir que parte do povo se tornasse idólatra: 9 O Senhor disse a Moisés: “Já vi que este povo é um povo de cabeça dura. 10 Deixa que a minha cólera se inflame e os consuma. Mas de ti farei uma grande nação” (Ex.32,9-10).

Entre o povo estavam Maria e Aarão que era responsável pelo povo na ausência de Moisés. Atendendo à interseção de Moisés, Deus evitou o extermínio de Israel: 11 Moisés aplacou o Senhor seu Deus e disse: “Por que, ó Senhor, se inflama a tua cólera contra o teu povo que libertaste do Egito com grande poder e mão forte? 12 Por que deveriam os egípcios comentar: ‘Foi com propósitos sinistros que os libertou do Egito, para matá-los nas montanhas e exterminá-los da face da terra’? Renuncia ao furor da tua ira e desiste de fazer mal a teu povo (Ex.32,11-12).

Moisés desceu da montanha, trazendo as tabuas de pedra onde estavam escritos os dez mandamentos. O quinto mandamento dizia: “Não matarás”. Moises quebrou as tabuas da lei, reuniu a parte do povo que se mantivera fiel e os mandou matar todos os idólatras: 25 Moisés, vendo que o povo estava sem freio, pois Aarão lhes tinha soltado as rédeas para zombaria dos inimigos, 26 postou-se à entrada do acampamento e gritou: “Quem for do Senhor, venha até mim!” E todos os levitas juntaram-se a ele. 27 Ele lhes disse: “Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Cinja cada um a espada na cintura. Circulai pelo acampamento e matai, de porta em porta, mesmo parentes, amigos ou vizinhos”. 28 Os levitas fizeram o que Moisés mandou, de modo que naquele dia tombaram cerca de três mil homens do povo (Ex.32,25-28). Parece uma contradição. Deus proibiu de matar e Moisés manda matar. Não há contradição. Se os parentes e amigos de uma pessoa assassinada matassem o assassino seria vingança. Mas a autoridade legitimamente constituída tem a obrigação de exterminar os assassinos para proteger a sociedade. Se Moisés não tivesse purificado o povo com o extermínio dos idólatras, Israel nunca teria conseguido conquistar a terra de Canaã. Moisés voltou para o alto da montanha e Deus não o censurou e lhe deu novas tábuas da lei.

O Antigo Testamento manda matar os assassinos: 14 Mas se alguém tiver a ousadia de levantar-se contra o próximo para matá-lo à traição, deverás arrancá-lo até mesmo do altar para executá-lo (Ex.21,14). Os parentes e amigos das vítimas não podem fazer justiça com as próprias mãos, mas as autoridades legitimamente constituídas têm a obrigação de proteger as pessoas indefesas com o extermínio dos assassinos se for preciso. Jesus confirmou as leis do Antigo Testamento ao afirmar: 17 Não penseis que vim abolir a Lei ou os Profetas. Não vim abolir mas completar. 18 E eu vos garanto: enquanto não passar o céu e a terra, não passará um i ou um pontinho da Lei, sem que tudo se cumpra. 19 Quem, pois, violar um desses preceitos, por menor que seja, e ensinar aos outros o mesmo, será chamado o menor no reino dos céus; mas quem os praticar e ensinar, será chamado grande no reino dos céus (Mt.5,17-19).

Além de confirmar a manutenção das leis do Antigo Testamento verbalmente, Jesus as confirmou também na prática. Junto com Jesus foram crucificados também dois ladrões. Jesus tinha poder para tirar da cruz os dois ladrões ou pelo menos um deles. Um dos ladrões se converteu na cruz e o outro não. As profecias diziam que Jesus seria crucificado no meio de dois ladrões. Poderia ter dito ao ladrão que se converteu: “Eu preciso morrer entre dois ladrões. Quando eu morrer haverá escuridão, relâmpagos e trovões que deixarão todos confusos e apavorados. No meio da confusão, os anjos retirarão você da cruz. Veste a tua roupa que está ali no chão e foge”. Como o ladrão que se converteu já estava salvo, em vez de tirá-lo da cruz lhe disse: “Hoje estarás comigo no paraíso”. Mas Jesus poderia ter dado uma nova oportunidade de salvação para o ladrão que não se converteu, dizendo-lhe: “Eu devo morrer entre dois ladrões, mas lhe dou uma nova oportunidade de conversão. Assim que Eu morrer, haverá escuridão, relâmpagos e trovões que deixarão todos apavorados. Os anjos o retirarão da cruz. Veste a tua roupa que está ali no chão e foge. Lembre-se que se não mudar de vida irá para o inferno.”

Se Jesus tivesse libertado os ladrões da morte e eles tivessem voltado a praticar crimes, Deus Pai teria pedido contas a Jesus pelos crimes por eles cometidos dali para frente. Todos os defensores de bandidos sejam eles eclesiásticos, políticos, advogados, juízes ou adeptos dos direitos humanos prestarão contas a Deus pelos crimes que os criminosos por eles defendidos cometerem posteriormente.

Todos somos pecadores. Jesus se encarnou para resgatar os pecadores. Até os recém-nascidos são pecadores já que todos nascem com o pecado original e sem libertar-se do pecado original não poderão entrar no céu. Aqueles que não morrem logo após nascer acrescentam ao pecado original também seus próprios pecados e, portanto, todos precisam de Jesus para se libertar dos pecados através dos sacramentos por Ele instituídos. São Paulo antes de aderir à pessoa de Jesus perseguia os cristãos e, por isto, reconhece que tinha precisado dos méritos de Jesus mais do que os demais: 15 Eis uma palavra fiel e digna de toda acolhida: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais sou o primeiro. 16 Se encontrei misericórdia foi para que em mim Cristo Jesus mostrasse primeiro toda a sua paciência e eu servisse de exemplo para todos os que depois nele crerem para a vida eterna (1Tm.1,15-16). Quem não reconhece os próprios pecados, não se arrepende e não recorre ao sacramento da penitência continuará com seus pecados e se condenará. Os méritos de Jesus são infinitos e estão à disposição de todos, mas Deus não obriga ninguém a utilizá-los.

Adão e Eva pecaram. Quando Deus os procurou para perdoá-los não admitiram ter pecado, Adão culpou Eva e esta culpou a serpente. Não admitindo o pecado, Adão e Eva não se arrependeram e Deus não pôde perdoá-los. Eles foram mais insensatos quando se recusaram a admitir o pecado e se arrepender do que quando pecaram. Hoje, muitos pecam gravemente e não admitem que estejam em pecado mortal e, por isto, não recorrem arrependidos ao sacramento da penitência e se condenam.

Jesus veio ao mundo e se encarnou para salvar os pecadores. Para obter o perdão dos pecados os pecadores precisam reconhecer os próprios pecados e se arrepender. Os fariseus e os doutores da lei eram pecadores, mas não admitiam que precisavam do perdão e também não admitiam que Jesus tivesse o poder de perdoar pecados. Vendo Jesus perdoar os pecados dos cobradores de imposto, o criticavam: 1 Todos os publicanos e os pecadores se aproximavam de Jesus para ouvi-lo. 2 Os fariseus e escribas resmungavam, dizendo: “Este homem acolhe os pecadores e come com eles” (Lc.15,1-2). Na esperança de convertê-los, Jesus contou-lhes três parábolas.

As parábolas são uma linguagem indireta que exige análise atenta de todos os detalhes para serem compreendidas. O próprio Jesus diz que falava em parábolas para confundir: 10 Os discípulos aproximaram-se e lhe perguntaram: “Por que lhes falas em parábolas?” 11 Jesus respondeu: “Porque a vós foi dado conhecer os mistérios do reino dos céus mas a eles não. 12 A quem tem será dado, e terá em abundância; mas de quem não tem será tirado até mesmo o que tem. 13 É por isso que lhes falo em parábolas: porque, olhando, não enxergam e, ouvindo, não ouvem nem compreendem (Mt.13,10-13). Em particular, Jesus explicava todas as parábolas aos apóstolos: 33 Com muitas parábolas como esta, Jesus anunciava-lhes a palavra segundo podiam entender, 34 e nada lhes falava sem parábola; mas em particular explicava tudo a seus discípulos (Mc.4,33-34). O método usado por Jesus para explicar as parábolas consistia em substituir os personagens fictícios pelos personagens reais.

Aplicando o método usado por Jesus procuremos entender a mensagem contida em cada uma destas três parábolas:

1. A parábola da ovelha perdida representa o católico que costuma permanecer fiel à Igreja, mas que caiu em pecado mortal e está temporariamente fora da Igreja e quer voltar, Este católico precisa da Igreja para se livrar do pecado mortal através do sacramento da confissão.

2. A moeda é inconsciente. Ela não sabe a quem ela pertence. Se alguém que não é seu dono a recolhe, ela não reage. A parábola da moeda perdida representa o indivíduo a quem nunca foi apresentado o Deus verdadeiro. Se alguém lhe apresenta um deus falso, ele o segue já que ele não conhece o Deus que o criou. Pela lógica esta parábola deveria ter sido citada por primeiro.

3. A parábola do filho pródigo representa o católico que abandona conscientemente a Igreja, permanece conscientemente em pecado mortal fora dela, sabe o que deve fazer se salvar e, a um dado momento, decide voltar para a sua verdadeira Igreja para se salvar.

A parábola da moeda perdida citada em segundo lugar no Evangelho chama a atenção para a obrigação da Igreja Católica de anunciar o Evangelho aos pagãos. Se as igrejas fundadas por homens que são todas falsas chegarem antes da Igreja Católica muitos poderão ser enganados e se condenarem por não ter condições de saber que estão sendo ludibriados por ministros que não foram enviados por Deus.

A ovelha perdida sabe qual é o rebanho a que pertence, sabe onde ele está, conhece o seu pastor e quer voltar, mas precisa da ajuda do pastor que lhe confere o perdão dos pecados através do sacramento da penitência. Se o pastor de uma falsa igreja a procura, ela não o segue, porque sabe que não foi enviado por Deus.

Para entender a parábola do filho pródigo, substituamos os personagens, aplicando o mesmo método usado por Jesus ao explicar as parábolas da semente e do trigo e joio:

1. O pai é Deus.

2. O filho mais velho é Jesus.

3. O filho mais novo é o católico que abandona a Igreja e, posteriormente, decide voltar.

4. O campo é o mundo

5. A roupa, as sandálias e o anel que pertencem ao filho mais velho e que o Pai mandou vestir no filho mais novo que estava voltando para casa são os méritos de Jesus.

Que o Pai (1) nesta parábola representa Deus é facilmente perceptível.

Para provar que o Filho mais velho (2) é Jesus precisamos recorrer a alguns detalhes. Jesus é o Filho único de Deus, porque Ele é o único que foi gerado por Deus, portanto, tudo aquilo que Jesus tem vem do Pai, conforme Ele mesmo afirma: 10 Pois tudo o que é meu é teu, e tudo o que é teu é meu. Neles sou glorificado (Jo.17,10). Ao dizer que tudo aquilo que possui vem do Pai, Jesus inclui também a natureza divina. Na parábola do filho pródigo, o Pai diz para o Filho mais velho que lhe deu tudo o que tinha: 31 O pai lhe explicou: ‘Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu (Lc.15,31). Ao dizer “tudo o que é meu é teu”, o Pai inclui também a natureza divina que transmitiu a Jesus ao gera-lo. Jesus diz “Eu nunca desobedeci a uma ordem tua, isto é, Eu nunca pequei”: 29 Mas ele respondeu ao pai: ‘Há tantos anos eu trabalho para ti, sem nunca desobedecer a uma ordem tua, e nunca me deste sequer um cabrito para festejar com os meus amigos (Lc.15,29). Jesus é o único homem que nunca esteve sujeito ao pecado, nem mesmo ao pecado original. O pecado gera uma separação entre Deus e o pecador. O Pai confirma que o Filho mais velho nunca se separou dele, isto é, que nunca pecou: 31 O pai lhe explicou: ‘Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu (Lc.15,31).

O filho mais novo (3) é o católico que abandonou a Igreja, mas depois de algum tempo decidiu voltar e recuperar a graça de Deus para se salvar. A maioria dos que abandonam a Igreja para permanecer na indiferença ou para se filiar a religiões fundadas por homens não volta e se condena. Mas aqueles que decidem voltar e reassumir suas obrigações para com Deus dentro da Igreja fundada por Jesus são aceitos por Deus. Observemos a atitude do Pai. Vendo o filho ingrato voltar, o Pai vai recebê-lo fora da casa e o deixa entrar somente após ter vestido a roupa, as sandálias e o anel do Filho mais velho: Mas o Pai falou aos servos: Trazei depressa a melhor veste e vesti-lha, e pode-lhe um anel no dedo e calçados nos pés (Lc.15,22). Ao sair de casa, o filho mais novo levara tudo aquilo que possuía. Portanto, ao voltar, lhe foi vestido a roupa, o anel e as sandálias do Filho mais velho.

O campo é o mundo. Na parábola do trigo e do joio, Jesus diz que o campo é o mundo: O campo é mundo (Mt.13,38ª). Quem veio ao mundo para produzir os méritos com os quais podemos nos salvar foi Jesus: O filho mais velho estava no campo (Lc.15,25ª).

A salvação vem pelos méritos de Jesus e a retribuição pelos nossos méritos. A salvação é gratuita, porque foi conquistada pelos méritos de Jesus, mas está condicionada à fidelidade na observância dos mandamentos. Quem não permanecer fiel até ao fim da vida não se salva, apesar de ter à disposição os méritos de Jesus. Para entrar na casa do Pai, o filho mais novo precisou vestir a roupa, o anel e as sandálias do filho mais velho. Portanto, a roupa, o anel e as sandálias representam os méritos de Jesus. Jesus afirma que cada um será recompensado de acordo com suas obras: Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai com seus anjos, e então recompensará a cada um segundo suas obras (Mt.16,27). O ladrão que se converteu na cruz foi salvo pelos méritos de Jesus. São Pedro também morreu na cruz e também foi salvo pelos méritos de Jesus. A recompensa que São Pedro recebeu foi maior do que aquela que o ladrão recebeu, porque São Pedro, além morrer na cruz, passou a vida anunciando o Evangelho.

Ângelo José Busnardo

e-mail : ajbusnardo@gmail.com

Pe. Angelo Busnardo
Enviado por Joanne em 07/09/2016
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