As coisas de Deus
O que se faz em nome de Deus no mundo é simplesmente diabólico.
Não sei se a solução é ser ateu, mas é preciso, pelo menos, desconfiar dessa maldição humana que estabelece uma diferença entre os diferentes deuses adotados a ponto de se achar que uns são mais puros e profundos que outros. O que propicia uma divisão fantástica, com o seu fanatismo característico, responsável por preconceitos, perseguições e guerras sangrentas com a perda de muitas vidas.
É uma situação que parece estar atrelada ao mistério da vida (ou da morte) – de onde viemos, o que estamos fazendo aqui e para onde vamos?
Costumamos admitir que são esses deuses, que assumem diferentes nomes em cada região do planeta, os responsáveis por tudo o que acontece de bom ou de mal na terra. Assim, a representação do mal para um grupo poderá ter o apoio ou a recomendação do Deus do outro grupo. E vice-versa. E todos os males e bens do mundo estarão ungidos pelo que determinar esse ou aquele Deus.
Um exemplo disso pode ser a clitorectomia. “Em países africanos ou do Oriente Próximo, as meninas são purificadas mediante a ablação da genitália, (...) procedimento que costuma ocorrer por volta dos 5 anos de idade. Uma vez escavados, raspados ou, nos lugares mais benevolentes, simplesmente cortados ou extraídos o clitóris e os pequenos lábios da garota, geralmente toda a região é costurada de modo a formar uma grossa faixa de tecido, um cinto de castidade feito da própria carne da criança. Um pequeno orifício no lugar adequado permite um fino fluxo de urina. Só com muita força é possível alargar o tecido cicatrizado para o coito”.
O sofrimento imposto a uma criança de 5, 6 anos com tais procedimentos é equivalente a uma sessão de tortura nos antigos DOI-CODI’s ou Casa da Morte, em Petrópolis. Em muitos casos, com as inevitáveis sequelas físicas ou psicológicas que a pessoa carregará pelo resto da vida. Tudo em nome de um Deus que teria recomendado o impedimento do prazer à mulher. Mas se o Deus, qualquer um, é sempre tudo de bom, então qualquer forma de prazer ao alcance dos mortais deveria estar entre Seus planos. Ficando a cargo dos viventes, com a sua capacidade de discernimento, também uma dádiva divina, o estabelecimento da dosimetria adequada para os experimentos do prazer.
Informações desse tipo não devem ser subtraídas às nossas crianças, no momento oportuno, para que elas possam depois propor algo de melhor em suas vidas e na de todos.
Rio, 02/09/2016