Razão e Sensibilidade na Vida Espiritual
Por: Joacir Soares d’Abadia*
Os cristãos devem atuar pela razão no caminho de Deus? Sim, porque “é razoável crer”. Para São João da Cruz, o uso da razão na espiritualidade é fundamental, para não se cair num sentimentalismo unitivo. Na vida espiritual não se deve buscar a satisfação pessoal.
A oração é um ato da razão e da vontade, nem sempre, ou quase sempre, a oração não é agradável, no entanto, Cristo nos ordena orar continuamente. Portanto, devemos orar sempre, mesmo que me trás sensações agradáveis ou não.
Na oração não se pode buscar nem satisfação sensível e nem satisfação intelectual. Pode ser que numa ocasião ou noutra o ato de orar nos traga alguma satisfação, porém, isto não é o ordinário, é extraordinário. O desejo que temos de Deus é natural, quando Dele temos um desejo sobrenatural é Deus mesmo que infunde em nós esse desejo. Por si mesmo, o homem não pode ter um desejo sobrenatural de Deus.
Ser espiritual é seguir os mandamentos: “16 Um jovem aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna? Disse-lhe Jesus: 17 Por que me perguntas a respeito do que se deve fazer de bom? Só Deus é bom. Se queres entrar na vida, observa os mandamentos. 18 Quais?, perguntou ele. Jesus respondeu: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho, 19 honra teu pai e tua mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo. 20 Disse-lhe o jovem: Tenho observado tudo isto desde a minha infância. Que me falta ainda? 21 Respondeu Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me! 22 Ouvindo estas palavras, o jovem foi embora muito triste, porque possuía muitos bens” (Mt 19, 16-22). Na vida espiritual nós somos chamados a atuar pela fé guiada pela razão, pois a fé atinge a nossa razão, visto que a fé é um conhecimento. Ter fé é um ato da vontade e da inteligência. Deus pode vez ou outra dar uma graça sensitiva, porém, isto não é ordinário, não é a fé, é a consequência dessa.
A graça de Deus em nós age não em nossos sentidos, ela age transformando-os interiormente, de modo não sensitivo. Quando os dons extraordinários tornam-se ordinários é preciso se desconfiar se há, de fato, aí, uma ação do Espírito Santo, pois caso seja extraordinário, não pode dar-se ordinariamente.
O grande carisma do Espírito Santo é a caridade. Os carismas não santificam a pessoa que os recebe, o que a santifica são os dons do Espírito. Por isso, é mais importante ter os dons do Espírito do que os carismas. A mortificação é morrer um pouco a cada dia para saber morrer uma vez por todas. Assim, a espiritualidade cristã consiste em aprender a morrer, pois aprender a morrer é seguir a via de Cristo, “via crucis, via mortis”. O espiritual é a ação do Espírito Santo em nós. A vida espiritual é uma constância, uma perseverança na virtude, na “via crucis, na via mortis”.
* Filósofo autor de vários livros, Especialista do Ensino Universitário, membro do Conselho de Pesquisas e Projetos da UnB Cerrado e da Casa do Poeta Brasileiro de Formosa-GO, Presbítero Pároco em Alto Paraíso de Goiás-GO e Administrador Paroquial em Colinas do Sul-GO.