A oração na vida dos místicos
Padre Geovane Saraiva*
Vocação para ser gente, para ser criatura humana, deveria ser o primeiro chamado de todo ser humano. Para que o ser humano se encontre e se realize, faz-se necessário perceber a importância de pensar naquilo que lhe é proposto durante a trajetória de sua existência. Cícero, o maior orador romano, ao tratar da vida humana, da velhice ou da idade avançada, afirmou: “Vivi de tal forma que sinto não ter nascido em vão”. À medida que a pessoa humana entende que é necessário percorrer, com muita disposição, o seu percurso natural, interiormente, cresce e se realiza. Encontrando-se consigo mesmo, integra-se e insere-se em uma comunidade de fé, não fechada, mas aberta às promessas do nosso bom Deus.
Para as pessoas de fé, colocar na mente e no coração a recompensa divina supõe o merecimento que, frequentemente, encontramos nas palavras e ações de Jesus, ao falar da vida eterna como uma promessa, como uma dádiva do Pai, para os que nele professam sua fé. É um dom que sempre mais é preciso ser buscado, agarrando-se na força das palavras de Jesus: “Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele” (1 Jo 3, 1-2).
É tarefa nossa fazer de tudo, mas de tudo mesmo, para descobrir seu valor inigualável, tesouro maior que podemos encontrar como aspiração mais profunda, porque nele está nossa motivação e razão pela qual somos capazes de compreender e discernir o relativo do absoluto. Urge contar, no dom de acertar bem o passo da vocação, com o valor indizível da oração, nas palavras de Francisco: “Estamos todos em alerta; não devemos desistir da oração, mesmo que não seja correspondida. É a oração que conserva a fé; sem ela a fé vacila”.
Quando falamos do valor da oração, vem à nossa mente a vida dos místicos e um deles viveu entre nós: o Servo de Deus, Dom Helder Câmara, na seguinte assertiva: “A sua vida foi semelhante à de Jesus, que também começou pelo triunfo e depois foi caminhando para a cruz, cada vez mais consciente de que esse seria o seu destino final nesta terra. Mas também com certeza da ressurreição e da vinda da plenitude do mundo novo tão sonhado do qual tinha sido o profeta desde o início” (Teólogo Joseph Comblin).
Em Dom Helder vemos claro o sentido da transcendência, na sua íntima oração com Deus, obtendo o salutar combustível para lutar por uma Igreja livre, ao dizer ao mundo, parafraseando o Papa Francisco, que “um povo sem memória, sem profecia e sem esperança” está longe da felicidade completa, o grande sonho de Deus-Pai.
*Pároco de Santo Afonso e vice-presidente da Previdência Sacerdotal, integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza - geovanesaraiva@gmail.com