BATMAN X SUPERMAN

Uma metáfora sobre a perda de consciência

de quem é o inimigo que devemos enfrentar

“Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6.12).

Entrou em cartaz no último dia 26 de Março o novo filme de Zack Snider que opõe entre si dois Super-heróis conhecidos, que são Batman e Superman.

Segundo a conceituação mais comumente aceita, o objetivo dos Super-heróis é a defesa do bem, da paz, o combate ao crime, tomando para si a responsabilidade de serem protagonistas na luta do bem contra o mal.

Mas o que o filme escancara, e parece que a sociedade ainda não se deu conta do ocorrido, é a preocupante tendência contemporânea de não combatermos mais os vilões e de não termos mais heróis. Além de não mais conseguirmos identificar quem é quem no meio da confusão estabelecida.

Como bem indagou Veríssimo em sua coluna semanal em O Globo: “Quem imaginaria que um dia veríamos o Super-Homem e o Homem-Morcego no mesmo filme não como aliados contra o crime mas como inimigos?” (Domingo, 24/04/2016 – Pág. 19).

Em um mundo de líderes como Maduro (Venezuela), Donald Trump (EUA), Evo Morales (Bolívia), Cristina Kirchner (Argentina), Bashar al-Assad (Síria), Abu Bakr al-Baghdadi (Estado Islâmico), dentre outros…

Em um Brasil de Lula da Silva, Jair Bolsonaro, Éber Silva, Valdemiro Santiago, José Dirceu, Marco Feliciano, Eduardo Cunha, Dilma Roussef, Edir Macedo, Renan Calheiros, Silas Malafaia, José Genoíno, Garotinho, João Pedro Stédile (MST), Sérgio Cabral, R. R. Soares, José Rainha Júnior (MST), Jean Wyllys, Pezão, Tiririca, dentre outros...

Quem são os heróis? Quais são os vilões?

Os que somos leitores não apenas das páginas escritas, mas, da vida em si, procurando entender o mundo à nossa volta sob a ótica da consciência crítica, concluiremos que desde a nossa meninice acadêmica e espiritual (quando demos os primeiros passos na caminhada do saber) até os dias atuais, implodiram-se os limites demarcatórios do que seja bem e mal ou, para nos colocarmos num sentido mais amplo, teológico até, do Bem e do Mal.

Se nos voltarmos para os personagens bíblicos e as histórias envolvendo questões recorrentes da convivência humana tais como crimes, invejas, rebeldias, sedes de poder, ganância, traição, dentre outras, saberemos identificar com clareza quem são os mocinhos e quem são os bandidos; quais os heróis e quais os vilões.

Apenas como exercício de afirmação de índole e fé, tente entender estes personagens, situando-os no que foi abordado aqui sobre que papel ocupa cada um, neste cenário em que heróis e vilões se misturam e se escondem no meio da multidão: Caim e Abel; Moisés e Faraó; Davi e Golias; Prostituta I (a do filho morto) e Prostituta II (a do filho vivo); Jesus e Judas Iscariotes.

Vale ressaltar que, se para os corações crentes (a fé anda tão desaparecida em nossos dias) não há dúvidas quanto ao papel ocupado por cada personagem citado anteriormente; para os corações céticos (os ateus, imorais, néscios desse tempo presente), até Jesus Cristo poderia entrar numa lista de bandidos.

E isto não é difícil de acontecer quando nos damos conta das afirmações de gente como John Lennon – que afirmou serem os Beatles mais populares que Jesus e que o Cristianismo iria desaparecer – ou, Che Guevara, que disse: “Na verdade, se o próprio Cristo estivesse no meu caminho eu, como Nietzsche, não hesitaria em esmagá-lo como um verme.” E tem muito jovem crente usando camisa com estampa da figura de Che...

Também em relação à liderança – e à existência de mocinhos e bandidos em nosso meio – é preciso separar o joio do trigo.

Vamos avaliar alguns aspectos práticos dessa metáfora que o filme Batman X Superman nos propõe: a perda de consciência sobre quem seja o verdadeiro inimigo a ser combatido. E, assim, quem tiver olhos pra ver, que veja!

1º) Vivemos um tempo em que parece haver mais bandidos que mocinhos. O declínio da moral, o abandono dos valores e princípios, o esfacelamento da família, a “crucificação” do cristianismo, a condenação prévia de tudo o que diga respeito à moral cristã, contestada como retrógrada e discriminatória, têm gerado uma sociedade que se nivela no mais baixo nível moral que a história das civilizações já produziu. E tem muita gente dita como boa que não está enxergando isso. É o que Dostoievski preconizou em Os Irmãos Karamazov e que se consagrou na resumida expressão, “se Deus não existe, tudo é relativo” ou “se Deus não existe, tudo é permitido”, embora a argumentação da qual se utiliza seja muito mais ampla. A retirada de Deus da história humana ou mesmo a banalização da moral e dos bons costumes é a antessala do caos. É o que já se tem falado alhures: a chamada inversão de valores. Neste caso, a “natureza pecaminosa” (Agostinho) se sobressai e vivemos sob o domínio do Mal. Olha a assertiva do Cristo sobre Satanás ser o príncipe deste mundo (Jo 12.31; 14.30; 16.11). Assim sendo, a bandidagem, a ladroagem, o submundo do crime passa a ser atraente pra uma gente que quer resultados imediatos pra sua vida, resultados deste sistema-mundo vigente. Por isso que gente do bem, com princípios e valores do Bem, tornam-se mais escassas a cada dia.

2º) Os heróis e vilões estão cada vez mais parecidos entre si. A linha demarcatória entre as pessoas de bem e as que são identificadas como personas non gratas, ou seja, pessoas que não são bem-vindas, ou às quais se fazem restrições, é cada vez mais tênue. Isto porque, de frustração em frustração, a população vê seus líderes envolvidos em práticas que não são compatíveis com as posições que ocupam ou as instituições que representam. O raciocínio lógico da população, nestes casos, é mais ou menos assim: se no andar de cima pode, porque a gente, aqui do andar de baixo, não pode? O baixo nível moral e espiritual da sociedade leva seus líderes, heróis ou vilões, a reproduzirem estes modelos. Algumas classes sofrem mais com os estereótipos estabelecidos: líderes religiosos, policiais, políticos, empresários, estão entre estas. Na boca do povo, o baixo desempenho ou o mau desempenho de alguns, leva a uma generalização incontrolável. O cristianismo de fachada, o adesismo a um grupamento religioso como se adere a um time de futebol, o abandono da “doutrina do novo nascimento”, tudo isso têm levado a uma prática da fé insuficiente às demandas de transformações sociais que devem ser promovidas pela revolução do Amor de Deus através dos salvos. O “homem de igreja” está cada vez mais parecido com o “homem do mundo”.

3º) Desapareceram os ícones legítimos a serem seguidos e imitados. Cazuza afirmou, numa frase de Ideologia (que se afirmou como uma profecia de si mesmo), visto que para uma geração de jovens ele se tornou também herói: “meus heróis morreram de overdose”. A overdose dele não foi necessariamente de algum tipo de droga... Onde estão os legítimos heróis a serem seguidos? Se a história registra nomes que deram suas vidas, seus talentos, seu tempo e seus recursos por uma causa, uma instituição, uma bandeira e isto serviu de exemplo positivo para gerações que quiseram imitar seus modelos; onde, no tempo presente, estão aqueles que sejam dignos de nota? Tal a banalização da existência – e a influência nociva do mau-caratismo sobre a sociedade – tem desaparecido aqueles líderes, em toda e qualquer área do saber e da liderança, que exerçam influência positiva e sirvam de balizadores dos valores e princípios a serem mantidos pelo corpus social. Invariavelmente quando desponta alguém que desempenha um papel interessante no ambiente social ou realiza algo de valor, o sistema trata logo de engolir, aniquilar, corromper, de tal forma que se perde rápido aquele que surgiu como promessa. Faz-se necessária uma força de vontade descomunal pra enfrentar este mundo, esta geração, “corrompida e perversa” em meio a qual precisamos ser astros resplandecentes da luz de Cristo (Fp 2.15).

4º) Quem deveria ocupar o lugar de herói, situa-se num patamar bem mais inferior que o de um vilão. Outro dado a ser acrescido aos argumentos já elencados, é o fato de líderes exponenciais se prostituírem com o Mal e se corromperem facilmente. Os dois exemplos mais emblemáticos da contemporaneidade política brasileira – um à esquerda e outro à direita – são os descarados Lula da Silva e Eduardo Cunha. O primeiro, negando o inegável. Seu bordão “não sei, não vi, não ouvi” já apoquentou por demais os brasileiros. O segundo, chafurdado até o pescoço em processos, manipula desavergonhadamente as regras parlamentares em seu favor e insiste em sentar-se numa cadeira que o Brasil não lhe oferece mais. A enxurrada de líderes no país, comprometidos com a corrupção, envergonha nossa nação no cenário mundial.

5º) O Mal está tão entranhado na sociedade, que os líderes não se envergonham de reproduzi-lo. O que é pior, diante de tudo isso, é que a corrupção já é tão generalizada em nosso país, que os malfeitores já não se esforçam mais em esconder seus malfeitos. Tudo é feito às escâncaras, e se tornou tão banal, que perdemos nossa capacidade de indignação. E aí, nessa perda de valores, o errado passa a ser o certo, passamos a conviver tranquilamente com a anormalidade e começamos a nos questionar quando acende a luz amarela em nossas mentes, apontando algo como indevido, achando que isso é coisa da gente mesmo e que todos fazem, todos praticam e não devemos ser tão “caxias” assim em nosso comportamento. Um exemplo particular que me abomina são as reportagens de madeireiras no Norte do Brasil, provocando desmatamento descabido na Amazônia, e aquelas cenas das toras descendo rio abaixo, numa demonstração crassa da ganância de exploradores insanos. Não aguento mais! Isso é coisa pra ter sido extirpada da realidade brasileira há mais de três décadas. E é esse convívio com o erro, com o mal, com o pecado, com a imoralidade que tem enfraquecido os valores no país e apequenado a força moral de nosso povo, respingando nos líderes que apenas reproduzem o baixo nível médio da população. Mediocridade idiotizante reinando.

6º) Os vilões declarados posam de heróis e arrebatam a juventude. Quer prática mais clarividente do estado geral de coisas que se vive no país, que o aliciamento que o tráfico faz nas comunidades, de meninos e meninas, para engrossar suas fileiras, prometendo proteção e ascensão social que as vias normais nunca conseguiriam oferecer para eles? Os traficantes e seus asseclas construíram um poder paralelo (e as milícias no Rio de Janeiro traduzem muito bem esta prática de aliança para o mal), que oferece proteção, melhoria de vida e status quo imbatíveis em certos casos. Muitos que são seduzidos pelas ofertas tentadoras desses sistemas corruptos, na “favela ou no asfalto”, muitas vezes entram por um caminho sem volta. Quem, acostumado a amealhar mais de mil reais por semana na venda de produtos piratas, protegidos por seus fornecedores que dão suporte nos bastidores, vai sair dessa informalidade próspera para ingressar no mercado formal, e ganhar míseros oitocentos e oitenta reais por mês? Impera a lei da mais valia pessoal, do levar vantagem em tudo, do crime que compensa, da transgressão que resolve. E muitos embarcam nesta canoa furada, esquecidos que os anos de vida útil dos que se aventuram na trama cruel das drogas, do tráfico e da criminalidade não ultrapassa os trinta. Há uma juventude transviada que se encanta com estas ofertas sedutoras do Mal e nelas se arriscam.

7º) Os líderes de qualquer espécie (políticos ou religiosos) digladiam entre si na busca de expansão de seus impérios. Como os Super-heróis que inspiram esta reflexão, muitos líderes travam duelos insanos em busca de mais poder, de destruição do oponente, de afirmação de seus conceitos e preconceitos. Isto está presente na política, na religião, na sociedade de modo geral. Ao contrário do que preceitua a Palavra de Deus, favorecendo o dar a cada um o que é devido “a quem honra, honra” (Rm 13.7), o que reina neste mundo caótico é o governo da desonra. Se esquecem os cultores da maledicência e da intriga que a construção do caráter e da reputação é custosa, mas, sua destruição é fácil.

Conclusão. Feitas estas considerações, retomamos à questão crucial para os que nos interessamos pela verdade e pela mensagem transformadora do Evangelho: qual é a nossa luta? Que inimigos devem ser combatidos? De que forma nos preparar para esta batalha? Se o embate entre dois superseres do universo das histórias em quadrinhos e da ambiência cinematográfica traduz as agruras da falência da alma que se lança ao embate do mal e o esfacelamento das realidades idílicas ante realidades que se apresentam cruéis, em termos de brasilidade e das representações simbólicas de poder e status que a cada dia se materializam na vida, na mídia, na mente, podemos falar de xenofobia, cultura do medo, promoção do caos, inversão de valores, iconoclastia e outras formas de expansão da maldade com vistas ao governo dos detentores do poder, que nele se perpetuam pela manipulação das consciências e das leis.

Existe uma falta de heróis em nossos dias ou de vilões? Como eles se associam em simbiose, podemos ter esta dúvida. Os heróis morreram de overdose de corrupção? Os vilões, reconhecidos como tal, são bonzinhos aos olhos dos seus pupilos que se beneficiam de sua ação malévola? Há um vazio de poder a ser ocupado por pessoas de bem? Há uma carência de líderes que representem os valores morais, os vivam e os reproduzam no dia a dia do país? Onde estão aqueles que hão de abraçar as nobres causas pelas quais vale a pena dar a vida?

O Apóstolo Paulo afirmou no texto bíblico em epígrafe que a nossa luta é contra poderes. Poderes terrenos e espirituais. Enquanto cidadãos desse mundo precisamos zelar pela nossa casa, nosso oikos, onde estaremos pelo tempo que Deus assim nos permitir. Mas, precisamos estar cônscios de que a nossa batalha é maior, é espiritual, contra potestades do mal que se avizinham de nós leoninamente procurando nos derrotar (1Pe 5.8).

Você pode ser herói ou vilão. A escolha é sua. Mas lembre-se que, se tem o poder de Deus em sua vida, você está do lado do poder que traz vida, Jesus Cristo, o verdadeiro herói da humanidade derrotada em seu pecado. Ele mesmo disse que lhe fora dado “todo o poder, no céu e na terra” (Mt 28.18). Os fingidores, os heréticos, os charlatães, podem vestir capa de ovelha e, como lobos devoradores manipular farsesca e farisaicamente este poder para interesses próprios.

Não se esqueça do que registrou o profeta Zacarias: “não por força nem por violência, mas sim pelo meu Espírito” (4.6). É o poder do Espírito, o dinamite de Deus na vida do que crê, que transforma o mundo pela revolução pacífica do Evangelho de Cristo que é o poder de Deus para salvação de todo o que crê (Rm 1.16).