Ressurreição: Cristo vive

RESSURREIÇÃO – CRISTO VIVE
Miguel Carqueija




“Roubais, matais, cometeis adultérios, prestais juramentos falsos; ofereceis incenso a Baal e procurais deuses que vos são desconhecidos; e depois vindes apresentar-vos diante de Mim, nesta casa em que foi invocado meu nome, e exclamais: “Estamos salvos!” — para em seguida recomeçar a cometer todas essas abominações. É por acaso, a vossos olhos, uma caverna de bandidos esta casa em que meu nome foi invocado?”
(Jer 7, 9-11)



Embora hoje em dia seja moda falar mal do Cristianismo (simplesmente porque a humanidade em grande parte rejeita a moral cristã e a renúncia aos prazeres fáceis e imoderados) o fato é que, nunca agradeceremos a Deus o suficiente, por nos trazer luzes que nos tiraram das trevas do paganismo e da idolatria.
Ninguém pode dizer que Jesus é uma lenda, pois dividiu a História ao meio, mudou toda a História posterior (e por meio de pescadores e outros cidadãos pobres, iletrados, incultos e provenientes de uma nação pequena e dominada, na periferia do Império Romano) e viveu entre nós, afinal de contas, não nos tempos etéreos e obscuros de um Hércules (pesquisadores acreditam ter Hércules existido no passado mítico, evidentemente sem ter sido um semideus e realizado aqueles feitos mirabolantes, mas um grande herói do passado remoto), mas numa época historicamente recente e em região bem documentada. A Geografia do Novo Testamento é reconhecível ainda nos dias atuais, locais foram preservados, figuras conhecidas historicamente aparecem (como Herodes), Belém e Jerusalém existem até os nossos dias.
Com o Judaísmo e depois o Cristianismo recuperou-se o verdadeiro conceito de Deus, pois as crenças pagãs desvirtuaram totalmente tal conceito que Adão e Eva, e os seres humanos primitivos, tiveram. De fato é um grande desvirtuamento acreditar em “deuses” no lugar de Deus, como na mitologia greco-romana, ou nórdica; se de fato existissem vários deuses cada um deles seria limitado, o que choca com a idéia filosófica da divindade. Com efeito os deuses olímpícos e outros possuem corpo, aparência física, são limitados no espaço e no tempo, embora poderosos: pouco se distinguem, afinal, dos super-heróis da Marvel e da DC. E mais, brigam entre si e não são nada edificantes.
Para piorar veio a idolatria, com “deuses” fabricados pela mão do homem, e no Velho Testamento não faltam admoestações pelos profetas (como Jeremias acima citado), censurando as recaídas do Povo Escolhido que volta e meia tornava aos ídolos, estátuas que eles podiam, se quisessem, partir em pedaços, que não falavam nem se moviam e portanto não eram sequer seres vivos, que dirá deuses.
O único conceito válido de Deus é a do ser necessário e portanto único, o “existente em essência” (cfr. “O invisível na harmonia lógica do cognoscível”, por Sandro Grimani). O Ser que é ato puro, o “motor imóvel” que, não tendo corpo, sendo puro espírito, não sendo portanto composto de partes, é também onisciente, onipotente, onipresente, perfeito, eterno, e por isso vive não no tempo, mas na eternidade. Por isso, tudo Ele vê e conhece. Um Deus que, além de sua essência divina, é também Palavra e Amor, daí as Três Pessoas que não se diferenciam entre si, a não ser por relações da intimidade do ser divino, sendo portanto um único Deus (cfr. “Compêndio de Teologia”, São Tomás de Aquino).
Vemos portanto que o Cristianismo, que sobreviveu a séculos de perseguição e martírio e converteu o Império Romano, moldou o mundo atual e nos livrou de tão tolas superstições como a dos ídolos de barro, pedra, madeira ou qualquer outro material, ou o culto dos astros.
Jesus Cristo, sendo uma manifestação humana do ser divino em sua Segunda Pessoa (a Palavra, o Logos, o Verbo), veio até nós para nos provar o amor infinito de Deus. Aceitou o sacrifício sem uma reclamação porém ressuscitou para mostrar que a própria morte é regida por Deus e que há vida após a morte do corpo.
A Ressurreição era, mesmo para os judeus, algo tão inusitado que os próprios Apóstolos não a esperavam, não haviam compreendido as palavras do Mestre, sentiam-se derrotados. Só acreditaram vendo — e nisso nenhum deles foi diferente de São Tomé. Cremos que somente a Virgem Maria, que não foi ao sepulcro como Maria Madalena, sabia da Ressurreição, e isto é uma prova a mais da divindade do Cristianismo, São Pedro e os outros, se não estivessem com a verdade e não houvessem recebido o Espírito Santo em Pentecostes, que força ou mesmo vontade teriam de defender e propagar até a morte o que lhes parecesse incerto e duvidoso?
Aleluia! Cristo ressuscitou e, porque o sepulcro foi encontrado vazio, nós temos um amanhã para crer.

Rio de Janeiro, 26 de março de 2016.



imagem pixbay: Catedral de Florença