Páscoa, alegria e júbilo

Padre Geovane Saraiva*

Depois de ter seguido os passos de Jesus, ao entrar na cidade Jerusalém montado em um jumentinho, com a liturgia de Domingo de Ramos, iniciamos a Semana Santa e, com ela, o incomensurável acontecimento de nossa fé. Passamos pelo mistério da paixão, morte de ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Só é possível haurir tão excelso mistério, dádiva de Deus, na Semana Santa, a partir da contemplação do absoluto de Deus, do mais profundo do nosso ser, vivenciando-a como algo muito especial, dentro de um clima de muito amor penitencial, na perspectiva da entrega no serviço aos irmãos.

Com o início do Tríduo Pascal, na Quinta-feira Santa, temos como eixo central o inefável mistério da nossa redenção, quando a comunidade dos batizados se reúne para celebrar a Ceia do Senhor, trazendo para junto de si e colocando na mente e no coração o Servo de Javé, na sua oferta ou entrega, exaltando-se acima de todo e qualquer nome (cf. Fl 2, 9). Sem esquecer de que Ele, nesse dia, instituiu o sacerdócio e deu-nos de presente a Eucaristia, sendo nosso alimento, declarando-se pão descido do céu. Só podemos compreender a grandeza indizível da Páscoa Cristã no serviço, na generosidade da doação, traduzido no gesto do lava-pés.

É assim que participamos da redenção da humanidade, vivenciada pelos cristãos, de um modo ainda mais profundo na Sexta-feira da Paixão, ensinando-nos que o sofrimento, com o qual as pessoas se deparam, não deve ser visto como castigo de Deus, mas, sim, como caminho de salvação, entendido a partir da semente que morre para gerar a vida (cf. Jo 12, 24).

A noite do Sábado Santo enche-nos de alegria e júbilo. A comunidade se reúne para celebrar a Páscoa, e a liturgia dessa noite, segundo Santo Agostinho, é a “mãe de todas as celebrações”, que, com seus ritos antigos, com toda a sua beleza, profundidade poética e, ao mesmo tempo, profética, deve nos estimular e desafiar a não ficarmos somente no rito, o que seria muito triste ao coração de Deus. A Páscoa deve ser um processo que se realiza e acontece através do compromisso ético, na ação pastoral, no trabalho, no convívio social e nas mais diferenciadas atividades das pessoas de fé e que acreditam no futuro da humanidade, e que “o Cristo, Nossa Páscoa”, com toda a sua força, renove e fecunde a face da Terra.

Não podemos jamais nos esquecer da água como símbolo da vida, porque dela as pessoas renascem no Batismo para a vida do mundo (cf. Jo 3, 1-7), levando-nos a compreender que a vida é duradoura e que participamos do ponto mais elevado, não da vida de um herói, mas da vida do próprio Filho de Deus, em que fomos mergulhados, razão pela qual vivemos e constantemente somos convidados a sonhar com a glória futura, na feliz afirmação do refrão do Salmo Responsorial: “Este é o dia que Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos”.

O nosso Deus é essencialmente bom e terno, ao passar da morte para a vida, afirmando-nos que a tristeza e o desânimo são coisas do passado. A esperança e o otimismo, proclamados pelo Papa Francisco nos três anos de seu pontificado, são sempre na intenção de contagiar nossa existência, na certeza de que Jesus, vencedor da morte, quis se estabelecer para sempre no meio da sua gente querida: “Por que estais procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui. Ressuscitou!” (Lc 24, 5-6). Assim seja!

*Colunista, escritor, vice-presidente da Previdência Sacerdotal e Pároco de Santo Afonso, Parquelândia, Fortaleza-CE – geovanesaraiva@gmail.com

Geovane Saraiva
Enviado por Geovane Saraiva em 24/03/2016
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