Páscoa e o calvário da humanidade
Padre Geovane Saraiva*
O Deus que morreu na cruz assume o sofrimento das pessoas e do muno inteiro. Contemplamos um Deus humilhado e desfigurado, sofrendo conosco e entrando em nossas dores e angústias, desejando-nos uma única coisa: desmanchar a montanha da autossuficiência, do preconceito, do egoísmo e do orgulho, surpreendendo-nos como Deus encarnado na História da humanidade, no seu imenso amor, redentor e libertador, que humanamente é inadmissível.
Somos convidados a meditar sobre a inexprimível grandeza de um Deus que entra em cheio nos nossos sofrimentos, dizendo-nos que participa das nossas misérias e calvários. Não é um Deus que está longe, à margem do mundo e da criatura humana. Ele nos convida, a partir de seu calvário e de sua morte de cruz, a uma generosa entrega e oferece tudo de que precisamos nos dando também a força e a luz, indispensáveis para prosseguirmos com segurança na construção do nosso futuro definitivo.
Deus quer o compromisso de fé, ético e profético, dos cristãos que alimentam a esperança em um Deus enlouquecido de amor, nas palavras do Papa Francisco, na homilia da missa do Domingo de Ramos (20/03/2016), recordando que só Jesus nos salva dos laços do pecado, da morte, do medo e da tristeza, em referência à carta do Apóstolo Paulo aos Filipenses, nos dois verbos, aniquilar e humilhar, indicando-nos até que extremos chegou o amor de Deus por nós. “Jesus aniquilou-Se a Si mesmo: renunciou à glória de Filho de Deus e tornou-Se Filho do homem, solidarizando-Se em tudo conosco, que somos pecadores” (cf. Fl 2, 7-8).
No duelo forte, na vida que vence a morte, meditamos sobre nosso Deus, essencialmente bom e terno, ao passar da morte para a vida, afirmando-nos que a tristeza e o desânimo são coisas do passado. A esperança e o otimismo, proclamados pelo Papa Francisco nos três anos de seu pontificado, são sempre na intenção de contagiar nossa existência, na certeza de que Jesus, vencedor da morte, quis se estabelecer para sempre no meio de seu povo e com ele conviver, vivo e vitorioso: “Por que estais procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui. Ressuscitou!” (Lc 24, 5-6).
Os cristãos se reúnem para celebrar a Páscoa, pela liturgia da Vigília pascal da noite do Sábado Santo. Para Santo Agostinho, a referida celebração é “mãe de todas as liturgias”, que, com seus ritos antigos, com toda a sua beleza, profundidade poética e, ao mesmo tempo, profética, deve nos estimular e desafiar a não ficarmos somente no rito, o que seria muito triste ao coração de Deus. Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso e vice-presidente da Previdência Sacerdotal, integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza - geovanesaraiva@gmail.com