Homilia Pe. Ângelo Busnardo_ Ceia do Senhor/Sexta-Feira da Paixão.

CEIA DO SENHOR

24 / 3 / 2016

Ex.12,1-8.11-14 / 1Cor.11,23-26 / Jo.13,1-15

Deus criou Adão e Eva livres do sofrimento e da morte e com o corpo compatível com a natureza. Antes do pecado, a natureza produzia ar, água e comida espontaneamente para os seres humanos e para os animais. Todo aquilo que comemos é terra transformada por plantas e animais em alimento. O primeiro casal pecou e não se arrependeu quando Deus o procurou após o pecado. Para castigar o primeiro casal e todos os seus descendentes, Deus amaldiçoou a terra, criando o sofrimento e a morte: 17 Para o homem ele disse: “Porque ouviste a voz da mulher e comeste da árvore, cujo fruto te proibi comer, amaldiçoada será a terra por tua causa. Com fadiga tirarás dela o alimento durante toda a vida. 18 Produzirá para ti espinhos e abrolhos e tu comerás das ervas do campo. 19 Comerás o pão com o suor do rosto, até voltares à terra, donde foste tirado. Pois tu és pó e ao pó hás de voltar” (Gn.3,17-19).

Antes do pecado, Adão tinha os seguintes elementos:

1. Corpo imortal feito de terra.

2. Vida física que antes do pecado era imortal

3. Alma imortal

4. Deus soprou em Adão infundindo-lhe um elemento eterno que Jesus chama de vida eterna: 54 Quem come minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia (Cf.Jo.6,54). Imortal é aquilo que tem começo, mas não tem fim; eterno e aquilo que não tem nem começo e nem fim. Somente Deus é eterno.

Deus avisou Adão que se pecasse morreria, isto é perderia a vida. Adão e Eva pecaram e morreram, isto é perderam imediatamente a vida eterna. Em conseqüência de ter perdido o sopro de Deus, posteriormente, perderam também a vida física. Para devolver ao ser humano o sopro de Deus, a vida eterna, Jesus instituiu a Eucaristia.

A Eucaristia foi anunciada com a ceia do cordeiro animal antes da saída do Egito: 1 O Senhor disse a Moisés e a Aarão no Egito: 2 “Este mês será para vós o começo dos meses, será o primeiro mês do ano. 3 Falai a toda a comunidade de Israel, dizendo: No dia dez deste mês cada um tome um animal por família, para cada casa. 4 Se a família for pequena demais para um animal, convidará também o vizinho mais próximo, de acordo com o número de pessoas. Deveis calcular o número de comensais por animal. 5 O animal será sem defeito, um macho de um ano. Podereis escolher tanto um cordeiro como um cabrito. 6 Devereis guardá-lo fechado até o dia catorze deste mês, quando toda a comunidade de Israel reunida o imolará ao cair da tarde. 7 Tomarão um pouco do sangue e untarão a moldura da porta das casas onde comerem.8 Comerão a carne nesta mesma noite. Deverão comê-la assada ao fogo, com pães sem fermento e ervas amargas. 9 Não deveis comer dessa carne nada de cru, ou cozido em água, mas assado ao fogo, inteiro, com cabeça, pernas e vísceras. 10 Não deixareis nada para o dia seguinte. O que sobrar, devereis queimá-lo no fogo (Ex.12,1-10). A carne do cordeiro que os Israelitas consumiram antes de sair do Egito passou a fazer parte do corpo deles, já que o corpo é feito da comida que comemos, mas não devolveu para eles o sopro de Deus, a vida eterna.

Jesus anunciou a Eucaristia numa pregação um dia após a multiplicação dos pães: 53 Jesus lhes disse: “Na verdade eu vos digo: se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. 54 Quem come minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia (Jo.6,53-54).

Com o pecado, Adão e Eva se tornaram escravos de satanás. O Batismo liberta da escravidão de satanás e recoloca o ser humano sob o senhorio de Deus, mas não devolve o sopro de Deus. A vida eterna, o sopro de Deus, é devolvida ao ser humano batizado através de Eucaristia recebida em estado de graça.

Jesus não fica indiferente na pessoa que o recebe. Quem recebe a Eucaristia em estado de graça se apodera da salvação, quem a recebe em pecado mortal come e bebe a própria condenação: 27 Assim, pois, quem come o pão ou bebe o cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor. 28 Examine-se, pois, o homem a si mesmo e então coma do pão e beba do cálice; 29 pois aquele que, sem discernir o corpo [do Senhor], come e bebe, come e bebe sua própria condenação (1Cor.11,27-29).

Jesus curou doentes e os colocou em condições de prover às próprias necessidades. Mas pelo que consta nos Evangelhos, Jesus nunca prestou algum serviço a um pobre ou lhes forneceu alimentos ou roupas. Multiplicou os pães diversas vezes, mas mandou distribuí-los para todos aqueles que foram ouvir a pregação e permaneceram até o fim. Se alguém o procurou para obter alguma cura e depois de curado foi embora sem ouvir a pregação até ao fim não comeu dos pães oferecidos por Jesus. Na última ceia, lavou os pés dos apóstolos, apesar de todos eles terem condições de lavar os próprios pés: 4 Levantou-se então da mesa, tirou o manto, tomou uma toalha e amarrou-a na cintura. 5 Depois derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha da cintura (Jo.13,4-5). Jesus serviu aqueles que se comprometeram com Ele na pregação do Evangelho. Mandou que todos eles se amassem e lhes disse que seriam reconhecidos como discípulos dele se cada um dos onze discípulos presentes amasse os outros dez: 34 Eu vos dou um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros. Assim como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. 35 Todos saberão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo.13,34-35). Jesus não diz que os apóstolos seriam reconhecidos como discípulos dele por ter ajudado pobres ou socorrido necessitados, mas por se amarem entre si.

No Evangelho de Mateus, sempre que Jesus chama alguém de “meu irmão” se refere aos discípulos e não as pobres ou necessitados. No juízo final, Jesus se identifica com os irmãos pequeninos que são aqueles que, como os apóstolos, consagraram a vida ao serviço do Evangelho: 37 E os justos perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te alimentamos, com sede e te demos de beber? 38 Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos? 39 Quando foi que te vimos enfermo ou na cadeia e te fomos visitar?’40E o rei dirá: ‘Eu vos garanto: todas as vezes que fizestes isso a um desses meus irmãos pequeninos, a mim o fizestes’ (Mt.25,37-40). Assim alguns se salvam consagrando a vida ao serviço de Deus e outros colaborando com o sustento daqueles que consagram a vida ao serviço do Evangelho.

A alma é superior ao corpo. A salvação da alma é mais importante do que o conforto do corpo. Quem ajuda materialmente um pobre sem nada fazer para salvar a alma não está praticando a caridade: 3 E se repartir toda a minha fortuna e entregar meu corpo ao fogo mas não tiver a caridade nada disso me aproveita (1Cor.13,3). Quem ajuda pessoas consagradas fiéis que dedicam a vida a salvar almas será recompensado por Deus: 40 Quem vos recebe, a mim recebe, e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. 41 Quem recebe um profeta na qualidade de profeta, receberá recompensa de profeta; e quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá recompensa de justo. 42 E quem der de beber a um destes pequeninos, por ser meu discípulo, ainda que seja um copo de água fresca, eu vos garanto que não perderá sua recompensa (Mt.10,40-42).

Código : 5fsant18

Ângelo José Busnardo

e-mail : ajbusnardo@gmail.com

SEXTA FEIRA SANTA

25/ 03 / 2016

Is.52,13-53,12 / Hb.4,14-16;5,7-9 / Jo.18,1-19,42

Vivemos numa época em que os seres humanos, tanto leigos como eclesiásticos, insistem em apresentar Deus como um Ser exclusivamente misericordioso e incapaz de castigar. Efetivamente, Deus é misericordioso e está sempre pronto para perdoar o pecador arrependido e disposto a evitar o pecado. Por outro lado, o Deus que é infinitamente misericordioso é também infinitamente severo para castigar o pecador que morre em pecado mortal.

Tudo aquilo que existe foi criado por Deus. Deus criou Adão e Eva livres do sofrimento da morte, mas os submeteu ao sofrimento e à morte juntamente com todos os seus descendentes após o pecado e após não se terem arrependido quando Deus os procurou após o pecado: em vez de se arrepender, Adão acusou Eva e esta acusou a serpente. Para criar o sofrimento e a morte, Deus amaldiçoou a terra: 17 Para o homem ele disse: “Porque ouviste a voz da mulher e comeste da árvore, cujo fruto te proibi comer, amaldiçoada será a terra por tua causa. Com fadiga tirarás dela o alimento durante toda a vida. 18 Produzirá para ti espinhos e abrolhos e tu comerás das ervas do campo. 19 Comerás o pão com o suor do rosto, até voltares à terra, donde foste tirado. Pois tu és pó e ao pó hás de voltar” (Gn.3,17-19). Pela encarnação, Jesus assumiu um corpo feito de terra amaldiçoada e se submeteu ao sofrimento e à morte física: 13 Cristo resgatou-nos da maldição da Lei, fazendo-se maldição por nós, pois está escrito: Maldito todo aquele que é suspenso no madeiro (Gl.3,13).

Para castigar o ser humano nesta vida Deus criou o sofrimento e a morte. Para purificar ou castigar o ser humano após a morte Deus criou o purgatório e o inferno. Na casa do Pai entram somente pessoas perfeitas: 48 Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito (Mt.5,48). Se alguém morre sem pecados mortais, mas tiver faltas das quais não se arrependeu e confessou antes de morrer passará pelo purgatório para se purificar. Se alguém morrer em pecado mortal irá para o inferno onde permanecerá para sempre.

Jesus é o único que é efetivamente filho de Deus, porque Ele é o único que foi gerado por Deus e possui a natureza divina. Nós somos criaturas que têm capacidade de se tornarem filhos adotivos de Deus: 12 Mas a todos que a receberam, aos que crêem em seu nome, deu o poder de se tornarem filhos de Deus (Jo.1,12). Se Deus permitiu tanto sofrimento para aquele que, além de inocente, é Filho gerado por Ele, imagine o que poderá fazer conosco que somos apenas criaturas que se tornaram filhos adotivos dele.

Sendo Deus, com o seu sofrimento, Jesus produziu méritos infinitos. Nossos pecados são perdoados por Deus através dos méritos infinitos de Jesus. Se quisermos a salvação, além de evitar o pecado através da observância dos mandamentos, devemos nos unir à pessoa de Jesus: 8 Embora fosse Filho de Deus, aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve. 9 Tendo chegado à perfeição, tornou-se causa de eterna salvação para todos os que lhe obedecem (Hb.5,8-9).

Ao chegar a Jerusalém na semana em que foi condenado, Jesus foi aclamado pelos habitantes da cidade e pelos peregrinos: 9 A multidão que ia na frente e a multidão que seguia atrás gritavam: “Hosana ao Filho de Davi. Bendito quem vem em nome do Senhor, hosana nas alturas”. 10 E, quando entrou em Jerusalém, toda a cidade se alvoroçou e perguntava: “Quem é este?”11 E a multidão respondia: “Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galiléia” (Mt.21,9-10). Perante Pilatos, a multidão gritou “Crucifica”: 5 Apareceu então Jesus trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Pilatos disse: “Eis o homem”! 6 Quando o viram, os sumos sacerdotes e os guardas gritaram: “Crucifica-o, crucifica-o”! Pilatos lhes disse: “Tomai-o vós e crucificai-o, pois não encontro nele crime algum” (Jo.19,5-6).

Quem aclamou Jesus na entrada em Jerusalém foram os habitantes de Jerusalém e os peregrinos. Quem gritou “crucifica” foram os sacerdotes, os membros do sinédrio e os familiares e empregados deles. Havia vinte e quatro equipes de sacerdotes que serviam o templo de Jerusalém e os membros do sinédrio eram setenta e dois. Supondo que cada equipe tivesse dez sacerdotes somados com os membros do sinédrio ultrapassavam trezentos homens. O julgamento de Jesus perante o sinédrio terminou após a meia noite. Não havia condições de percorrerem todas as casas e acampamentos dos peregrinos, convencê-los que deviam apoiar a condenação de Jesus e convocá-los para estarem perante o palácio de Pilatos ao clarear do dia e gritar “crucifica”. Na época, as famílias tinham muitos membros. Tomando como base dez pessoas por família ultrapassamos a três mil pessoas o que correspondia a mais de dez por cento dos habitantes de Jerusalém e arredores. A multidão que se reuniu perante Pilatos foram os membros e empregados dos sacerdotes e membros do sinédrio. Pilatos morava na Cesaréia e se dirigia a Jerusalém nas festas dos judeus. Não morando em Jerusalém, Pilatos não tinha condições de saber quem eram as pessoas que estavam perante ele.

Foram os sacerdotes e os membros do sinédrio e seus familiares que condenaram Jesus, mas a causa da condenação foram os nossos pecados. Os nossos pecados ofendem a Deus. A gravidade da ofensa é calculada pelo lado do ofendido. Deus é infinito. Pelos pecados cometemos ofensas de gravidade infinita. Somos capazes de produzir ofensas de gravidade infinita, mas não temos capacidade de produzir méritos de valor infinito. Sendo Deus, Jesus, morrendo por causa dos nossos pecados, produziu méritos de valor infinito e os colocou à nossa disposição para o perdão dos nossos pecados.

Os méritos infinitos de Jesus estão à disposição de todos na Igreja Católica, a única fundada por Ele. Antes de morrer Jesus instituiu os sacramentos os confiou exclusivamente à Igreja fundada por Ele, através dos quais quem quiser pode obter o perdão dos pecados.

Pilatos foi induzido a assinar a sentença de morte de Jesus pelos sacerdotes e membros do sinédrio. Nem por isto foi inocentado por Jesus: 11 Jesus lhe respondeu: “Não terias nenhum poder sobre mim se não te fosse dado do alto. Por isso, quem me entregou a ti tem pecado maior” (Jo.19,11). O sumo sacerdote e os demais que colaboraram para induzir Pilatos a assinar uma sentença de morte injusta cometeram um pecado maior do que o pecado cometido por Pilatos. Perante Deus, a autoridade eclesiástica é superior à autoridade política. Aquele um do alto que entregou Jesus a Pilatos e, portanto, deu a ele poder de condená-lo é o sumo sacerdote e não Deus. E este tal do alto cometeu um pecado maior do o próprio Pilatos.

Entregando Jesus para a condenação, os sacerdotes e os membros do sinédrio cometeram um pecado maior do que o cometido por Pilatos, mas transformaram Jesus num instrumento de salvação. Jesus confiou os sacramentos à Igreja Católica por Ele fundada. Quando o papa, cardeais, bispos e padres distribuem sacramentos a pessoas que vivem em pecado mortal as induzem a cometer sacrilégios o que transforma Jesus num instrumento de condenação. Induzindo pessoas a cometer sacrilégios através da distribuição de sacramentos sacrílegos, os eclesiásticos cometem um pecado mais grave do que aquele cometido pelos sacerdotes e membros do sinédrio.

Ângelo José Busnardo

e-mail : ajbusnardo@gmail.com

Pe. Ângelo Busnardo.
Enviado por Joanne em 21/03/2016
Código do texto: T5580583
Classificação de conteúdo: seguro