Homilia Pe. Ângelo Busnardo- V Domingo da Quaresma(O Pecado)

V DOMINGO DA QUARESMA

13 / 03 / 2016

Is.43,16-21 / Fl.3,8-14 / Jo.8,1-11

O mundo que Deus criou para os seres humanos era diferente do mundo em que vivemos. Antes do pecado, no paraíso terrestre havia um só mar, não havia montanhas, a água potável estava espalhada em pequenos córregos por toda a superfície da terra, o clima se mantinha estável em toda a superfície da terra durante o ano todo por isto não havia necessidade de roupas e nem de casas, as árvores produziam frutos durante todo o ano e o corpo humano era imortal. Os seres humanos se alimentavam de sementes e frutas e todos os animais se alimentavam de folhas: 29 Deus disse: “Eis que vos dou toda erva de semente, que existe sobre toda a face da terra, e toda árvore que produz fruto com semente, para vos servirem de alimento. 30 E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu e a todos os seres vivos que rastejam sobre a terra, eu lhes dou todos os vegetais para alimento”. E assim se fez (Gn.1,29-30).

Adão e Eva pecaram e, quando Deus os procurou para perdoá-los, não se arrependeram. Por isto, para castigar o primeiro casal e todos os seus descendentes, Deus amaldiçoou a terra criando o sofrimento e a morte: 17 Para o homem ele disse: “Porque ouviste a voz da mulher e comeste da árvore, cujo fruto te proibi comer, amaldiçoada será a terra por tua causa. Com fadiga tirarás dela o alimento durante toda a vida. 18 Produzirá para ti espinhos e abrolhos e tu comerás das ervas do campo. 19 Comerás o pão com o suor do rosto, até voltares à terra, donde foste tirado. Pois tu és pó e ao pó hás de voltar (Gn.3,17-19).

Estamos vivendo sujeitos à maldição divina, mas esta situação não é definitiva. Está nos planos de Deus retirar a maldição da terra e restaurar o paraíso terrestre: 17 Sim, vou criar novo céu e nova terra: Já não haverá lembrança do que passou, nisto já não se pensará. 18 Antes exultai e alegrai-vos sem fim por aquilo que eu crio (Is.65,17-18). A passagem do mundo que conhecemos para os “novos céus e a nova terra” será precedida por uma catástrofe de proporções incalculáveis que atingirá toda a superfície da terra e deixará poucos sobreviventes (Cf.Is.24,1-6). A alegria dos sobreviventes será tão grande que nem mesmo se lembrarão da vida que levavam antes da transformação do planeta: 19 Eis que faço uma coisa nova! Já está despontando, não o percebeis? Sim, abro uma estrada no deserto, faço correr rios no sertão. 20 Celebrar-me-ão os animais selvagens, os chacais e os avestruzes, pois dei água ao deserto e rios ao sertão, para matar a sede de meu povo escolhido. 21 O povo que criei para mim, proclamará meu louvor! (Is.43,19-21).

Quando Deus restaurar o paraíso terrestre o ser humano encontrará na natureza tudo aquilo de que necessita, não precisará de roupas e nem de casas, não precisará estocar comida porque encontrará comida em abundância nas árvores próximas, não precisará estocar água porque a água estará disponível e limpa no córrego mais próximo, não precisará se preocupar com a saúde porque não haverá mais doenças e nem morte, não precisará mais se preocupar com a velhice porque ninguém envelhecerá, não precisará mais procurar prazer porque todos estarão plenamente felizes. Hoje o instinto impele o ser humano a procurar prazer lícito e pecaminoso, a estocar bens materiais, a se preocupar com a saúde e a velhice e até a comprar túmulos para sepultura. São Paulo diz que o conhecimento de Jesus o induziu a abandonar todas essas preocupações: 8 Na verdade, considero perda todas as coisas, comparadas com o valor inexcedível do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Por ele tudo desprezei e considero lixo a fim de ganhar a Cristo (Fl.3,8).

Em vez de procurar acumular bens materiais, São Paulo nos orienta a procurar nos identificar com os sofrimentos de Jesus em vista da ressurreição: 10 Anseio pelo conhecimento de Cristo e do poder de sua ressurreição, pela participação de seus sofrimentos, tornando-me semelhante a ele na morte, 11 com a esperança de conseguir a ressurreição dos mortos (Fl.3,10-11). Todos ressuscitarão no último dia, tanto os salvos como os condenados. Mas aqueles que se identificam com Jesus durante esta vida ressuscitarão para a glória e os outros sairão do inferno, recuperarão o corpo e voltarão para o inferno: 28 Não vos admireis, porque vem a hora em que todos os que estão mortos ouvirão sua voz. 29 Os que praticaram o bem sairão dos túmulos para a ressurreição da vida; os que praticaram o mal ressuscitarão para serem condenados (Jo.5,28-29).

A misericórdia de Deus consiste no perdão dos pecados aos pecadores arrependidos. Sem arrependimento e decisão sincera de rejeitar o pecado não há perdão da parte de Deus. Enquanto Jesus tomava uma refeição na casa de um fariseu, uma pecadora o procurou chorando por causa dos pecados cometidos, derramou perfume e lágrimas nos pés de Jesus. Ela tinha cometido muitos pecados conforme o próprio Jesus afirmou ao declarar que a perdoava: 47 Por isso, eu te digo que perdoados lhe são os muitos pecados, porque ela mostrou muito amo (Lc.7,47). Ao despedir esta mulher, Jesus lhe disse “vai em paz”: 50 E Jesus disse à mulher: “A tua fé te salvou. Vai em paz”! (Lc.7,50).

Após o pecado, Deus apareceu a Adão e Eva para perdoá-los. Mas nenhum dos dois admitiu o pecado, Adão acusou Eva e esta acusou a serpente. Não havendo arrependimento, Deus não pôde perdoá-los. Não podendo usar a misericórdia, Deus usou a justiça, amaldiçoou a terra, criando o sofrimento e a morte para eles e seus descendentes (Cf. Gn.3,17-19).

O Evangelho da missa de hoje nos apresenta uma mulher apanhada em adultério: 3 Então os escribas e fariseus trouxeram uma mulher apanhada em adultério, colocaram-na no meio do círculo e 4 disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. 5 Na Lei, Moisés nos manda apedrejar as adúlteras; mas tu o que dizes?” (Jo.8,3-5). A lei de Moisés mandava apedrejar o homem e a mulher que cometessem adultério: 10 Se um homem cometer um adultério com a mulher do próximo, ambos os adúlteros serão punidos com a morte (Lv.20,10); 22 Se um homem for apanhado dormindo com uma mulher casada, ambos serão mortos, o homem que se juntou com a mulher, e a mulher. Assim extirparás o mal de teu meio (Dt.22,22).

O objetivo dos escribas e fariseus não era cumprir a lei de Moisés, mas condenar Jesus: 6 Perguntavam isto para testá-lo, a fim de terem do que o acusar. Jesus, porém, inclinou-se e começou a escrever com o dedo no chão (Jo.8.6). O governo romano tinha proibido os judeus de declarar sentenças de morte. Se um judeu declarasse uma sentença de morte seria em seguida condenado à morte pela autoridade romana: 30 Em resposta disseram: “Se este homem não fosse malfeitor, não o teríamos entregue a ti”. 31 Pilatos disse-lhes: “Tomai-o vós e julgai-o segundo a vossa Lei”. Os judeus responderam: “Não nos é permitido matar ninguém” (Jo.18,30-31). Apesar da proibição de declarar sentenças de morte, matavam através do apedrejamento sem julgar e declarar a sentença de morte. Criavam um tumulto, apedrejavam a vítima e ninguém assumia a responsabilidade da condenação. Foi assim que agiram com Estêvão (Cf. At.7,54-60).

Jesus estava perante um dilema: Se Jesus mandasse apedrejar a mulher, eles a teriam matado. Por isto levaram somente a adúltera, para não ter de matar dois em caso que Jesus mandasse cumprir a lei de Moisés. Em seguida, teriam acusado Jesus perante Pilatos de ter declarado uma sentença de morte e Pilatos teria sido forçado a condená-lo. Se Jesus tivesse proibido de matar a adúltera o teriam acusado de ser um falso messias, porque o verdadeiro Messias é fiel no cumprimento da lei mesmo que isto represente risco de vida para Ele.

Quando as duas alternativas são desfavoráveis é necessário sair por outra alternativa. Na época, o povo não sabia ler, mas os escribas e fariseus sabiam. Escrevendo, Jesus podia dar aos escribas e fariseus um recado que somente eles entenderiam. No chão, Jesus escreveu o nome do acusador mais velho e, em seguida, o nome das mulheres com as quais ele tinha cometido adultério. Vendo isto, o acusador mais velho partiu, porque se, em vez de escrever, Jesus falasse o que estava escrevendo, o povo o teria apedrejado. Jesus fez o mesmo com o segundo mais velho e com os demais: 7 Como insistissem em perguntar, ergueu-se e lhes disse: “Aquele de vós que estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra”. 8 E, inclinando-se de novo, continuou a escrever no chão. 9 Ao ouvirem isto, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos Jo.8,7-9). Assim Jesus separou os acusadores da acusada.

Em nenhum momento a acusada demonstrou algum arrependimento ou pediu a Jesus que a perdoasse. Jesus podia perdoar-lhe o pecado e certamente queria perdoá-la. Mas como Deus perdoa somente os pecadores arrependidos e decididos a rejeitar o pecado não declarou que o adultério dela tinha sido perdoado. Perguntou-lhe se alguém a tinha condenado ao apedrejamento: 10 Erguendo-se, disse para a mulher: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?” (Jo.8,10). Após a resposta negativa dela, Jesus lhe disse que também Ele não a condenaria ao apedrejamento, mas, em vez de dizer-lhe “o teu pecado está perdoado”, lhe disse “vai e pára de pecar”: 11 Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Jesus lhe disse: “Nem eu te condeno. Vai, e de agora em diante não peques” (Jo.8,11).

Ângelo José Busnardo

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Pe. Ângelo Busnardo
Enviado por Joanne em 09/03/2016
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