MURO DAS LAMENTAÇÕES

Muro das lamentações

TEL AVIV – O gabinete do governo Netanyahu aprovou no dia 31 de janeiro uma medida que está sendo considerada uma revolução. Ela vai afetar diretamente um dos locais turísticos mais visitados do mundo e o mais sagrado para o judaísmo: o Muro das Lamentações (ou “Kotel Hamaaravi”, hebraico para “muro ocidental”). Segundo a medida aprovada, vai ser construído um “novo Muro das Lamentações” próximo do atual. E nesse segundo muro, será permitida a reza – ou a visitação, em geral – de homens e mulheres juntos.

Hoje, homens e mulheres que visitam o Muro são separados por gênero pelas leis judaicas ultraortodoxas. Homens se aproximam do Kotel do lado esquerdo e mulheres, do direito. Há uma cerca separando os dois lados (aliás, o lado das mulheres é bem menor do que o dos homens). Quando há um bar-mitzva por lá, as mulheres (incluindo as mães, avós e irmãs) precisam subir em banquinhos e tentar assistir a cerimônia de longe. Fora isso, há mulheres que circulam pela área do muro exigindo que visitantes se “cubram” (em geral, pedem que mulheres cubram ombros e braços) por “tzniut” (“humildade”).

Mas no “novo Muro”, homens e mulheres poderão participar juntos de cerimônias, se aproximar juntos das pedras milenares. O atual “Muro das Lamentações” é controlado por rabinos ultraortodoxos. Esse “novo Muro” será monitorado por rabinos conservadores, reformistas e de outras vertentes do judaísmo mais liberais.

A novidade está sendo comemorada por todos que se opõem ao monopólio dos ultraortodoxos sobre o judaísmo em Israel (casamentos, separações, enterros…). Principalmente religiosos conservadores e reformistas, que encaram o judaísmo de uma forma diferente. Quem mais comemora é o grupo “Mulheres do Muro”, que há anos exige que rabinas possam rezar livremente no Kotel. Hoje elas podem até ser detidas pela “ousadia” de realizar práticas proibidas pelo rabinato ortodoxo, como entoar orações em voz alta e vestir indumentárias masculinas.

Será uma solução salomônica para um local que pertence a todos os judeus e não apenas a uma corrente religiosa. Um local que pertence também a toda a Humanidade.

O atual “Muro das Lamentações” é um trecho do muro de contenção do Segundo Templo, o de Herodes, destruído pelos romanos em 70 EC. Até bem pouco tempo, só este trecho, que hoje é famoso, era visível. Mas, nos últimos anos, foram feitas escavações arqueológicas no local que revelaram outros trechos do muro de contenção, tão sagrados quanto o oficial. É num desses trechos revelados que será construída outra praça turística, o tal “Kotel 2.0”.

Essa nova área ficará perto de um local chamado “Arco de Robinson”. Arqueólogos e religiosos concordam que esse local – identificado pelo estudioso americano Edward Robinson, em 1838 – é continuação da mesma muralha de pedras milenares que forma o que se conhece hoje como Muro das Lamentações, portanto é igualmente sagrado.

Mas nem todos se animaram com a solução aparentemente genial. Algumas ativistas da ONG Mulheres do Muro querem é igualdade para orar no Muro tradicional, venerado pelos judeus desde a destruição do Segundo Templo, há dois milênios, e não numa área adjacente considerada menos nobre. Anat Hoffman, diretora do “Mulheres do Templo”, no entanto, demonstrou satisfação. Segundo ela, pela primeira vez, as pessoas terão uma opção e poderão visitar o Muro como quiserem.

Mais além da briga entre ultraortodoxos e liberais, não se pode esquecer que nada acontece em Jerusalém sem que os palestinos reclamem. A Autoridade Palestina já condenou a decisão porque seria, segundo os palestinos, uma mudança no famoso (e pouco claro) “status quo” da Cidade Velha de Jerusalém. O ministro de Assuntos Religiosos da AP, xeque Yusef Edais, disse que todo o complexo do Monte do Templo (Esplanada das Mesquitas), incluindo o Muro das Lamentações, pertence somente, e apenas, aos muçulmanos.

“A mesquita de Al Aqsa (que fica na Esplanada das Mesquitas) é parte da fé dos muçulmanos e pertence apenas aos muçulmanos. Isso inclui todas as suas estruturas, muros e portões. Os judeus não têm conexão alguma com isso. Essa ofensiva contra Jerusalém tem como objetivo consolidar a ocupação e transformar Jerusalém numa cidade judaica, falsificando a história e deslocando seus residentes originais”, disse o xeque Edais.

Não é à toa que os palestinos – junto com Argélia, Kuwait, Egito, Tunísia, Marrocos e Emirados Árabes Unidos – apresentaram um projeto de resolução à Unesco para que o Muro das Lamentações seja reconhecido como “local sagrado muçulmano”. A diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, considerou a resolução “deplorável”. No final das contas, os palestinos desistiram do pedido, que seria votado no dia 20 de outubro do ano passado. Mas, nunca se sabe, podem voltar num futuro próximo a defender esta ideia.

Fonte: Rua Judaica

Imagine a existência de um lugar sagrado, cuja tradição diz respeito à frequência só dos homens aos escombros onde se venera os resquícios de uma tradição de fé.

Imagine agora o administrador deste lugar, considerando seu local pequeno pela demanda, resolve construir um similar para atender a demanda, acabando com o machismo da tradição, permitindo que neste novo local seja frequentado também pelas mulheres.

Pois bem, diz a tese ser um lugar único, sagrado, e exclusivo aos homens.

Por outro lado, em antítese, nega-se o sagrado do local e contraria a tradição com a ideia da construção de um local similar para atendimento da demanda.

Em síntese, primeiro é inviável tal similitude porque não se venera o sagrado que inexiste na simulação; em segunda síntese os devotos seguem a tradição, e rompe-la é desinteressar-se pela devoção; em terceiro, a criação de um novo lugar é iludir aos curiosos da veracidade do local, cuja existência é falsa, inapropriada e profana.

Portanto, “criar um segundo muro das lamentações” é ignorara a história da existência de um Templo erigido por Salomão, destruído por Nabucodonosor II, cujos escombros restaram a prumo uma das paredes do Templo, que é a parte hoje venerável pelos judeus. Quem não é iniciado nesta religião, não dar valor a paredão algum, em contrapartida, os religiosos não venerarão outro muro senão aquele original.

Fazer da história um lugar profano como ponto turístico é um sacrilégio, porque o Sacramento é um sinal, uma lembrança uma recordação de algo que nos sensibilizamos acreditar. Ora se não cremos, pois não nos sensibilizamos com algo palpável que nos remete ao existido no passado, não temos o espirito da tradição, encerrando uma cadeia de sentimentos de tempos remotos aos nossos dias de hoje.

Criar um faz-de-conta é iludir a opinião publica numa falsidade como se real fosse, alimentando uma mentira em prol da mercantilização da fé. Explorar a ignorância em detrimento da credibilidade é destruir a boa fé de uma geração mal informada.

São Paulo, 14 de Fevereiro de 2016.

José Francisco Ferraz Luz

CHICO LUZ
Enviado por CHICO LUZ em 14/02/2016
Reeditado em 15/02/2016
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