Uma prova a mais de que Deus existe

UMA PROVA A MAIS DE QUE DEUS EXISTE
Miguel Carqueija

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.”
(Mt 5,6)

Uma vez testemunhei uma catequista dizer um absurdo em termos de doutrina católica (e infelizmente há muita gente despreparada fazendo catequeses): “Deus não é juiz”. A rigor a frase é uma heresia, embora eu creia que ela falou por ignorância, talvez por não querer que as pessoas tenham medo de Deus. Entretanto, se Deus não é juiz nós estamos fritos.
Realmente isto pode ser alegado aos nossos irmãos ateus: se Deus não existe, como eles pretendem, então não existe Justiça na Terra, quiçá no universo inteiro. Isso é óbvio. Não desprezando a beleza da ciência do Direito (um dos mais interessantes livros que eu li é “Origem dos direitos do homem”, por Jayme de Altavila), há que reconhecer que, na humanidade, a justiça é um simulacro, para não dizer que ela não existe. Miseravelmente falha, a justiça humana ainda por cima acontece muitas vezes acobertar o crime, como fazia antes com a escravidão e hoje faz com o aborto. Além disso, mesmo supondo leis sempre justas, juízes e jurados à prova de corrupção, resta que não se pode efetivamente devolver a vida às pessoas assassinadas, por exemplo; ou àquelas que morreram mesmo de morte natural, mas esbulhadas de seus direitos, injustiçadas até o fim. De modo que a rigor a justiça humana não satisfaz aquela “sede de justiça” de que fala Jesus no Sermão da Montanha.
Ora bem, entre as muitas provas que temos da real existência do Ser Supremo, contra as falácias dos descrentes, podemos elencar mais esta. Devemos admitir que a Justiça, assim em maiúscula, de fato não passa de quimera? Em seu monumental livro “Curso de Apologética Cristã” o Padre Duvivier S.J. observa não ser admissível que a natureza humana tenda espontaneamente para o erro. Isto vale para o consenso universal, inegável, de que Deus existe; podemos aplicar este conceito mencionado por Duvivier na questão da justiça. Todas as pessoas que não tenham se tornado inteiramente cínicas portam em sua consciência o repúdio à injustiça e o senso de justiça, mesmo que nem sempre saibam aplicá-lo corretamente. Esta “sede e fome de justiça” que até aqui levou, na ficção, à criação de heróis e personagens bons que dentro de suas limitações exercem a justiça, a equidade, em histórias que empolgam as massas... esta inclinação para a justiça faz parte da raça humana e é congenial nela; de onde pois veio? Quem nos deu este contínuo desejo de justiça? Estaria a natureza humana, para usar a expressão de Duvivier, espontaneamente voltada para o erro? Se admitíssimos isso estaríamos descredenciando a própria Ciência que é atributo e privilégio da raça humana. Portanto, se o Direito possui algum significado objetivo no Universo, Deus existe. Pois só o Todo-Poderoso pode realizar a perfeita Justiça, que não será feita nesta vida mas na outra, após a morte corporal. E isto dá base à virtude teologal da Esperança.

Rio de Janeiro, 9 de fevereiro de 2016.


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