Fraude contra os ingênuos
Fraude contra os ingênuos
Hoje em dia proliferam os programas televisivos levados a efeito por seitas evangélicas, pentecostais e ultra pentecostais, que a cada dia, ou a cada noite, infernizam os ouvidos dos telespectadores ou simples pessoas que navegam ou transitam pelos canais de tevê. Estas seitas, que há dez anos eram vinculadas ou originárias de alguma Igreja, hoje evoluíram, pois surgiram novas crenças, filosofias híbridas, teorias independentes, cada uma perfilada aos ideários de seus pastores, gurus ou coordenadores.
Atualmente, quatro canais polarizam a atenção dos crentes, onde pastores, missionários e apóstolos e suas respectivas “bispas” vociferam todas as noites (alguns começam dia claro) cobrando dízimos, vendendo livros, fazendo milagres e curas, livrando-se de possíveis dores, expulsando demônios e empurrando carnês para patrocínio e manutenção dos canais de televisão. Gozado como essas pessoas, com o fito de impressionar incautos balbuciam palavras ininteligíveis afirmando que “falam em línguas”. O ato de “falar em línguas” é uma figura bíblica que geralmente é pronunciada em aramaico ou hebraico. Eu vi os rabinos empregando esse método de louvor no “Muro das Lamentações” em Jerusalém. É algo emocionante! Por aqui eu tenho minhas dúvidas com relação aos que dizem louvar desse modo, pois quem conhece o hebraico e o aramaico não identifica nenhuma palavra desses idiomas naquelas prosopopeias.
Eu entendo que para trabalhar como guia espiritual do povo, o líder religioso tem que dominar a teologia, não se limitando a ser um mero repetidor ou facilitador do estudo bíblico. A ciência bíblica pode ser aprendida a partir da leitura dos textos sagrados. A teologia, como profundidade do conhecimento de Deus é algo mais complexo, e necessita de muito tempo de estudo (mais o indispensável aporte da filosofia) do suporte de uma sólida biblioteca e do acompanhamento dos mestres. Assistindo a fala desses pastores não se vê uma reflexão teológica sobre a Criação, a libertação da opressão do Egito, nem se escuta falarem sobre a profecia como a prefigura de Cristo. Igualmente é raro escutar falarem em Moral, mais difícil ainda ouvi-los ensinando sobre Cristologia, Teologia da Graça, Escatologia e Revelação. Estes dois tópicos causam dificuldade até a alguns dos nossos padres.
Assim, não admito um pastor, como os citados aqui e tantos ouros que se arvoram a pregar ao povo com uma cultura teológica inadequada e muito superficial. Isto é uma fraude contra os fiéis.
Escritor, Filósofo e Doutor em Teologia Moral