O que é de fato o fim do mundo?

O QUE É DE FATO O FIM DO MUNDO?
Miguel Carqueija


De vez em quando — e testemunhei isso algumas vezes ao longo da vida — surge alguma “profecia” anunciando o fim do mundo iminente, até com dia marcado. O caso mais recente parece ter sido a tal “profecia maia” para 2012. De tão repetida na mídia houve, creio, muita gente que acreditou. No fim eu soube de uma explicação bem mais racional: o calendário maia, afinal (e eu soube disso há mais de quatro décadas, lendo “Deuses, túmulos e sábios”, monumental obra de Arqueologia assinada pelo pesquisador alemão C.W. Ceram), é tido como o mais perfeito do mundo, mais até que o gregoriano. E, na extrapolação do futuro (não esqueçam que também o calendário gregoriano, e qualquer outro, pode ser extrapolado no cálculo de anos futuros), o cômputo maia acabaria em 2012 porque não calcularam além. Assim, se esta explicação for correta, a mídia confundiu (ou foi levada a isso) o fim do mundo com o fim do calendário...
De qualquer modo, em tais ocasiões a imprensa trata logo de preparar matérias sobre o tema, em si sensacionalista, e sai entrevistando pessoas as mais diversas, indagando mais ou menos isso: “O que você faria se o mundo fosse acabar amanhã” (ou hoje)? E as respostas, de um modo geral, refletem o caráter materialista e hedonista de nossa sociedade moderna.
A maior parte das pessoas ainda têm religião ou, pelo menos, religiosidade. Mas parece que falta uma Fé que impregne a alma, e no dia-a-dia age-se e pensa-se como se Deus não existisse e nem houvesse a perspectiva de uma vida eterna.
Isso explica, ao menos em parte, o caráter materialista das respostas, e não recordo nenhuma que escape de fato ao padrão. O que vimos foi coisas tais como: tomaria um porre, iria transar ou se divertir de algum modo. Como um ato de desespero, pode-se deduzir.
O problema está na própria concepção que, aparentemente, está em vigência na sociedade secularizada e na mídia, sobre a expressão “fim do mundo”. Parece que muita gente relaciona a expressão somente com uma destruição física do planeta ou da raça humana, seja através de causas naturais (como um hipotético choque de algum cometa com a Terra) ou artificiais (como uma guerra atômica ou bacteriológica).
Mas e para o Cristianismo, o que é realmente o “fim do mundo” ou “fim dos tempos”, ou ainda a “consumação dos séculos”? Muito simples. Para os cristãos o fim do mundo é a Segunda Vinda de Cristo. Exatamente isso.
Pode um cristão ter repulsa à idéia do fim do mundo, ou seja da Parusia (presença) de Nosso Senhor? Não deve antes desejar que o fim do mundo venha?
O que realmente acontece é que esse assunto é meio tabu porque a mentalidade moderna e secularizada induz a pensar numa História eterna, até com a humanidade se espalhando pelo Cosmos afora e vivendo um futuro que jamais acabará. No entanto o próprio universo — que dirá a História — não é eterno, e deverá chegar ao fim segundo a lei da entropia, isto é a completa dissolução da energia, para a qual caminhamos. É um ponto interessante, em que a Ciência confirma a Fé, portanto a História haverá de terminar. Só não sabemos quando, pois Jesus Cristo declarou que nem os anjos sabem o dia e a hora, mas somente o Pai.
Eis o que o próprio Cristo declarou conforme o capítulo 24 do Evangelho de São Mateus:

“Cuidai que ninguém vos seduza. Muitos virão em meu nome dizendo: “Eu sou o Cristo”. E seduzirão a muitos. Ouvireis falar de guerras e rumores de guerra. Atenção: que isso não vos perturbe, porque é preciso que aconteça. Mas ainda não será o fim. Levantar-se-á nação contra nação e reino contra reino, e haverá fome, peste e grandes desgraças em diversos lugares. Tudo isso será apenas o início das dores. Então sereis entregues aos tormentos, matar-vos-ão e sereis por minha causa objeto de ódio para todas as nações. Muitos sucumbirão, trair-se-ão mutuamente e mutuamente se odiarão. Levantar-se-ão muitos falsos profetas e seduzirão a muitos. E ante o progesso crescente da iniquidade, a caridade de muitos esfriará. Entretanto, aquele que perserverar até o fim será salvo. Este Evangelho do reino será pregado pelo mundo inteiro para servir de testemunho a todas as nações, e então chegará o fim.” (Mt 24, 4-14)
“Então se alguém vos disser: — Eis aqui está o Cristo! Ou: — Ei-lo acolá! Não creiais, porque se levantarão falsos Cristos e falsos profetas, que farão milagres ao ponto de seduzir, se isto fosse possível, os próprios escolhidos. Eis que estais prevenidos. Se, pois, vos disserem: — Vinde, ele está no deserto, não saiais. Ou: — Lá está ele em casa, não o creiais. Porque, como o relâmpago parte do Oriente e ilumina até o Ocidente, assim será a volta do Filho do Homem.” (Mt 24, 23-27)


Vejamos o que diz no capítulo 21 do Evangelho de São Lucas:

“Haverá sinais no Sol, na Lua e nas estrelas. Na Terra a aflição e a angústia apoderar-se-ão das nações pelo bramido do mar e das ondas. Os homens definharão de medo, na espectativa dos males que devem sobrevir a toda a Terra. As próprias forças dos céus serão abaladas. Então verão o Filho do Homem vir sobre uma nuvem com grande glória e majestade. Quando começarem a acontecer estas coisas, reanimai-vos e levantai as vossas cabeças; porque está próxima a vossa libertação.” (Lc 21, 25-28)

Ontem mesmo o Padre Paulo Ricardo, em missa transmitida pela Canção Nova, em sua brilhante homilia observou que o “fim dos tempos” já começou na Primeira Vinda de Cristo e não sabemos até quando irá. Pois após a Primeira Vinda, só a Segunda Vinda poderá se comparar em termos de acontecimento. Os cristãos, portanto, devem aguardar tranquilamente o decorrer dos acontecimentos e jamais ter medo do fim do mundo.


Rio de Janeiro, 17 de janeiro de 2016.