O mundo melhor de Dom Helder
Padre Geovane Saraiva*
Dom Helder Câmara foi ordenado sacerdote aos 22 anos, repleto de alegria e esperança no coração, em Fortaleza-CE (15/08/1931), convertido a uma indizível tarefa de construir o Reino, utopia fascinante bela e maravilhosa aos olhos da fé (cf. 52, 7). Na ação apostólica, o designamos como alguém talhado para as coisas mais elevadas, com obstinação e força inabaláveis. Transferido, em 1936, do Ceará para o Rio de Janeiro, adotou como desafio antecipar soluções pastorais em prol dos que viviam na pobreza e na indigência, ao asseverar: “Mais do que o comum dos dias, olhei o mais que pude os rostos dos pobres, gastos pela fome, esmagados pelas humilhações, e neles descobri teu rosto, Cristo Ressuscitado!”.
Como resposta ao clamor do Papa Pio XII, por renovação da Igreja e da sociedade, nasce o Movimento por um Mundo Melhor, em 1952, na Itália, iniciativa do padre jesuíta Riccardo Lombardi, com a convicção de que a Igreja deveria ser mais viva e mais presente no mundo, em uma maior fidelidade ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, com desejo permanente de renovação, via eficaz para se edificar um mundo melhor, segundo a vontade do nosso bom Deus. Temos também a Ação Católica, pelo método ver, julgar e agir, indo na direção de que um mundo melhor é possível, com o objetivo de formar leigos para colaborar com a missão da Igreja.
Caracterizamos o contexto de um Dom Helder inspirado, no sentido de contribuir para que o mundo fosse marcado por uma ordem social mais justa e por um humanismo segundo a vontade do Criador e Pai. Em 1955, nasce a Cruzada São Sebastião, com o objetivo de urbanizar as favelas da cidade do Rio de Janeiro, iniciativa da Igreja Católica, sob a liderança do bispo auxiliar, Dom Helder Câmara, que em um longo prazo, com a construção de conjuntos habitacionais, as favelas desapareceriam; que em um curto prazo buscava ações pontuais, levando melhorias às comunidades.
Dom Helder, já naquela época, bem antes do Concílio Vaticano II, preocupava-se em superar a pobreza. Acreditava na importância da militância dos pequenos grupos como protagonistas de um novo destino, acreditava também no vigor dos leigos e em sua força transformadora da realidade excludente e geradora de desigualdades. Quatro anos mais tarde, em 1959, nasce mais uma bela iniciativa do Pastor dos empobrecidos, resultado do maravilhoso testemunho de sua sólida fé e convicção: a criação do Banco da Providência, um banco para os pobres que não têm acesso aos bancos do sistema financeiro. Dom Helder inovou ao inventar um novo padrão para a filantropia. Para estruturar o referido banco, em 1961, criou a Feira da Providência, que passou a ser a principal fonte de arrecadação de recursos para a aquela próspera e abençoada instituição.
Eis um pouco, amigo leitor, do grande oceano que foi a obra do Servo de Deus e Artesão da Paz, Dom Helder Câmara, no seu ardoroso trabalho, de edificar o Reino e acreditar que um mundo melhor é possível, realizando-se a profecia de Dom Manoel da Silva Gomes, arcebispo de Fortaleza e seu superior, que o ordenou sacerdote. Ele, ao saber do desejo do jovem padre de partir para o Rio de Janeiro, assim se expressou: “Meu filho, é Deus, é Deus que está lhe chamando para o Rio de Janeiro. Vá, meu filho, vá!”.
Temos também o nosso livro, “Rezar com Dom Helder”, composto de pensamentos, poemas, orações e fotografias, na figura daquele que foi mais servo do que príncipe, mais coração do que razão, no seu sonho de perseguir a fraternidade e a solidariedade dos filhos de Deus, publicação que colocamos nas mãos do povo de Deus, no Ceará e no Brasil, com a finalidade de criar um ambiente favorável, em ardente desejo de que o Artífice da Paz, Dom Helder Câmara, seja santo da Igreja Católica.
*Escritor, blogueiro, colunista, vice-presidente da Previdência Sacerdotal e Pároco de Santo Afonso, Parquelândia, Fortaleza-CE –geovanesaraiva@gmail.com