Ainda o Batismo de crianças

AINDA O BATISMO DE CRIANÇAS
Miguel Carqueija

Para complementar o meu artigo “Batismo de crianças” apresentarei aqui alguns subsídios começando pela própria Bíblia que, evidentemente, o Sr. WLD acata como fonte confiável. Vejamos este trecho do Evangelho de São João;

“Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não as podei suportar agora. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade, porque não falará por si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciar-vos-á as coisas que virão.” (Jo 16, 12-13)

Note-se que estas palavras foram ditas por Jesus Cristo aos seus Apóstolos, pouco antes da Paixão. Jesus sabia que teria de morrer, ressuscitar e subir aos Céus, para que viesse o Espírito Santo para guiar a Igreja pelos séculos vindouros. Posteriormente houve efetivamente a descida do Espírito Santo no Cenáculo, no dia de Pentecostes, com as línguas de fogo que vieram aos apóstolos, discípulos e a Virgem Maria (At 1, 12-14; 2, 2-4).
Lembro estes textos para frisar que nós, católicos, não concordamos com nossos irmãos protestantes quando eles afirmam que só a Bíblia é fonte de Revelação. Podemos até propor uma comparação algo jocosa porém pertinente: o protestantismo se compara a um indivíduo que se equilibre sobre uma anda, com grave risco de se desequilibrar, enquanto a Igreja Católica sustenta-se sobre um tripé: a Sagrada Escritura, a Sagrada Tradição e o Sagrado Magistério.
Vejamos um argumento utilizado contra o batismo de crianças, as seguintes palavras de Nosso Senhor no final do evangelho de São Marcos:

“Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado.” (Mc 16,15)

Numa interpretação arbitrária destas palavras, pretendem opositores do Batismo infantil que o mesmo estaria implicitamente vetado pelo próprio Cristo. Esta lógica funciona assim: é preciso primeiro crer, e depois receber o batismo, por ser essa a ordem apresentada por Jesus. E bebês não podem crer...
Entretanto o verbo “for” em tal contexto não é necessariamente futuro e pode se referir a uma situação preexistente. Vamos supor que, perante um auditório, se proponha algo como por exemplo: “Quem for de Minas Gerais, levante a mão!” Evidentemente quem levantar a mão não se tornará natural de Minas Gerais pois já o era...
Da mesma forma que, entendemos, uma pessoa pode não crer sem ter culpa (como por invencível ignorância) e portanto não será condenada a não ser talvez por outras faltas, já que implicitamente reconhecemos que Jesus aponta a má fé da descrença, o chamado “pecado contra o Espírito Santo”, entendemos também que esta frase não implica em proibição do Batismo infantil. Até porque Cristo a pronuncia num contexto de envio dos Apóstolos e Discípulos e seus sucessores para “conquistarem o mundo” em missão apóstólica, e claro, não iriam pregar a bebês, mas crianças já mais crescidas poderiam ouvir a palavra e por elas mesmas ou por orientação dos pais, aceitá-la. Então, por esse lado, crianças já cristãs por convicção, e com mais de sete anos, não poderiam receber o Batismo? Quanto aos bebês, a Igreja entendeu que os pais suprem a sua vontade, e devem fazê-lo pois, na prática, quando se nega o batizado aos recém-nascidos nada garante que, crescendo sob o pecado original e vulneráveis à ação dos demônios, venham se batizar algum dia; pelo contrário podem é abandonar de todo a fé dos genitores. Olhem o risco dessa atitude!
A Igreja tornou-se operativa a partir da descida do Espírito Santo em Pentecostes. Vejamos agora o que nos diz Dom Estevão Bittencourt OSB, grande pensador católico brasileiro q ue ao longo de décadas dirigiu e redigiu a revista “Pergunte e responderemos”. Utilizo a transcrição feita em cleofas.com.br de Felipe Aquino, edição de 23/7/2013:

“A Bíblia não se refere explicitamente ao Batismo de crianças, mas narra que vários personagens se fizeram batizar “com toda a sua casa”. A expressão “casa” designava o pai de família com todos os seus, inclusive as crianças.
No século II aparecem os primeiros testemunhos diretos do Batismo de crianças, nenhum deles o apresenta como inovação. Santo Irineu de Leão (+202) considera óbvia, entre os batizados, a presença de “crianças e pequeninos” ao lado dos jovens e adultos (Contra as heresias, II-24,4). São Cipriano de Cartago (+258) dispôs que se podiam batizar as crianças “já a partir do segundo ou terceiro dia após o nascimento” (Epístola 64). Esta prática foi reafirmada nos concílios de Cartago (418) e de Trento (1547)."


Atualmente, sabe-se que a Igreja aceita o Batismo até de nascituros, como aconteceu com um bebê natimorto da Princesa Isabel, batizado no ventre antes de morrer.

Rio de Janeiro, 13 de novembro de 2015.