Batismo de crianças

BATISMO DE CRIANÇAS
Miguel Carqueija

O batismo de crianças é praticado pela Igreja Católica, embora outras confissões cristãs reservem o sacramento aos adultos. Existe o argumento de que o Batismo deve ser recebido consciente e voluntariamente.
Sobre isso, lembro das palestras do saudoso Dom Marcos Barbosa OSB, monge beneditino do Rio de Janeiro, mineiro de nascença. Durante décadas transmitiu suas palestras, amenas e equilibradas, pela Rádio Jornal do Brasil, e abordou praticamente todos os assuntos de interesse dos católicos.
Doma Marcos, como outras vozes do catolicismo, lembrava da necessidade de se batizarem as crianças pequenas, livrando-as do pecado original desde cedo. De fato, crianças morrem, e se morrerem sem estarem batizadas estaremos, por assim dizer, criando um problema para Deus. Os adultos não perguntam ás crianças se querem ser alimentadas, medicadas e vacinadas. Se portanto não se espera a idade adulta para fornecer cuidados materiais, muito menos se deve esperar para os cuidados espirituais.
É por isso que no Batismo da Igreja Católica os pais assumem a responsabilidade e respondem pelos filhos recém-nascidos. Renunciar ao diabo e suas obras – o que o bebê não pode ainda dizer, dizem seus responsáveis. Isto é muito certo, pois preserva-se assim a pessoa de chegar pagã á idade adulta, quando então, como na parábola sobre a semente jogada em meio aos espinhos, os cuidados mundanos distrairão e afastarão o interesse pelo sacramento; muito possivelmente ter-se-á perdido a fé. O Batismo já coloca o bebê como parte da Igreja. A partir daí é só cultivar a planta tenra, que com devido zelo permanecerá na Igreja.
Por outro lado, há dois riscos muito grandes em esperar, mesmo supondo-se que aquele cidadão aceitará o batismo quando chegar à maioridade. Poderá morrer cedo, antes da idade da razão, ou poderá morrer já após completá-la (mais ou menso nos sete anos), já tendo cometido pecados até mortais, quem sabe.
No primeiro caso, discute-se há séculos por falta de doutrina estabelecida, o que ocorre com crianças pequenas mortas sem o batismo. Acreditou-se por muito tempo que elas vão para o limbo, onde gozam de felicidade natural, sem possibilidade de chegar à visão beatífica. Hoje prevalece a crença de que Deus, por sua misericórdia, de algum modo supre a falta do sacramento, por meio por exemplo das orações da Igreja.
Em todo caso restam as outra hipóteses – a pior delas é que aquela pessoa, ao chegar à idade adulta, não procurará por sua própria iniciativa o batizado. A religião é uma das coisas mais negligenciadas pelo ser humano, mesmo quando diz crer em Deus, ainda mais nesta sociedade mundanizada em que vivemos.
Quando então se deve batizar? Com certeza, nos primeiros meses, recém-nascidos são vidas muito frágeis. Em caso de necessidade qualquer pessoa, mesmo ateus, pode batizar, usando água natural e as palavras do rito: “(nome do bebê) Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do espírito Santo” – derramando água na cabeça e traçando o sinal da cruz. Ritos complementares podem ser feitos depois por um sacerdote, mas o batismo está feito. Aliás pouco se fala nisso, dada a pouca oportunidade de acontecer, mas a Igreja Católica batiza até no ventre se for preciso. Ao escrever minha novela “A Cruzada de Catarina” incluí uma cena com esse detalhe.
Que os pais católicos não assumam essa terrível responsabilidade de postergar o batismo de seus filhos, é um assunto prioritário.


Rio de Janeiro, 8 de novembro de 2015.