Homilia Pe. Ângelo Busnardo- Os méritos infinitos de Jesus (XXIX Dom. Comum)
XXIX DOMINGO COMUM
18 / 10 / 2015
Is.53,10-11 / Hb.4,14-16 / Mc.10,35-45
Adão e Eva pecaram e quando Deus os procurou para perdoá-los não admitiram o pecado, pois Adão acusou Eva e esta acusou a serpente (Gn.3,9-13). Não admitindo o pecado, não se arrependeram e Deus não pôde perdoá-los. Não podendo perdoá-los, Deus castigou Adão e Eva e todos os seus descendentes com a maldição da terra: 17 Para o homem ele disse: “Porque ouviste a voz da mulher e comeste da árvore, cujo fruto te proibi comer, amaldiçoada será a terra por tua causa. Com fadiga tirarás dela o alimento durante toda a vida. 18 Produzirá para ti espinhos e abrolhos e tu comerás das ervas do campo. 19 Comerás o pão com o suor do rosto, até voltares à terra, donde foste tirado. Pois tu és pó e ao pó hás de voltar” (Gn.3,17-19). Com a maldição da terra, Deus criou o sofrimento e a morte do corpo.
Amaldiçoando a terra, Deus amaldiçoou a todos, porque o corpo é feito da comida que comemos e a comida é terra transformada por plantas e animais em produtos alimentícios. A semente transforma o solo em capim, o animal come o capim e o transforma em carne e a carne é terra transformada em alimento. Uma fruta é terra que uma árvore transformou em alimento.
Ao se encarnar, Jesus assumiu um corpo feito de terra amaldiçoada e se tornou sujeito do sofrimento e da morte. Descendo ao nível humano e sujeitando-se ao sofrimento e a morte, Jesus se tornou capaz de produzir méritos humanos de valor infinito.
A gravidade da ofensa é calculada pelo lado do ofendido: um insulto dirigido a um mendigo tem uma conseqüência. O mesmo insulto dirigido a um soldado armado pode ter como conseqüência um tiro. O mesmo insulto dirigido ao presidente da república pode dar cadeia.
O pecado ofende a Deus. Deus é infinito e, portanto, visto do lado de Deus, o pecado é uma ofensa de gravidade infinita. O ser humano tem capacidade de produzir ofensas de gravidade infinita, mas não tem capacidade de produzir méritos de valor infinito. Portanto, para satisfazer a majestade divina ofendida pelo pecado de Adão e Eva e pelos pecados dos seus descendentes era necessário alguém capaz de produzir méritos humanos de valor infinito.
Com a encarnação, Jesus desceu ao nível humano, mas manteve a natureza divina com a qual pôde produzir méritos infinitos. Morrendo na cruz, Jesus produziu méritos infinitos e os colocou à disposição de toda a humanidade. Sendo infinitos, os méritos de Jesus nunca acabam. Todos os seres humanos podem utilizar os méritos de Jesus para satisfazer a majestade divina ofendida pelo pecado original e pelos próprios pecados.
Os méritos infinitos de Jesus estão à disposição de todos e todos podem utilizá-los em benefício próprio, mas não são automaticamente eficazes para o perdão dos pecados de cada pessoa. Quem quiser libertar-se dos pecados precisa apoderar-se dos méritos infinitos de Jesus através dos sacramentos.
Jesus fundou a Igreja Católica e instituiu os sacramentos, confiando-os exclusivamente à Igreja por Ele fundada. Quem quiser salvar-se deve filiar-se à Igreja Católica e receber os sacramentos observando as condições específicas de cada sacramento.
O Servo sofredor anunciado no capítulo cinqüenta e três de Isaias é Jesus. Para produzir méritos divinos e humanos de valor infinito Jesus:
1. Jesus se encarnou, assumindo um corpo feito de terra amaldiçoada: Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles diante dos quais se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele (Is.53,3); 13 Cristo resgatou-nos da maldição da Lei, fazendo-se maldição por nós, pois está escrito: Maldito todo aquele que é suspenso no madeiro (Gl.3,13).
2. Jesus colocou os méritos infinitos dele à disposição de todos através dos sacramentos distribuídos validamente exclusivamente pela Igreja católica e recebidos de acordo com as condições próprias de cada sacramento: 10 Mas o Senhor quis esmagá-lo com a doença: Se fizeres de sua vida um sacrifício expiatório, ele verá sua descendência, prolongará seus dias, e a causa do Senhor triunfará graças a ele. 11 Depois dos profundos sofrimentos, ele verá a luz, sentir-se-á satisfeito; com seu conhecimento meu Servo justo justificará a muitos, e tomará sobre si as suas iniqüidades (Is.53,10-11).
Na última ceia, Jesus celebrou a última páscoa do Antigo Testamento com o sacrifício do cordeiro animal e o consumo da sua carne. Mas o verdadeiro Cordeiro de Deus é Jesus: 29 No dia seguinte, João viu Jesus aproximar-se e disse: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo.1,29). Com a instituição da Eucaristia, na última ceia, Jesus confirmou a instituição de todos os sacramentos. Na sexta feira, às três horas da tarde, Jesus morreu na cruz. No mesmo horário, o sumo sacerdote, no templo, ofereceu o sacrifício vespertino, matando um cordeiro animal. O Pai rejeitou o sacrifício vespertino celebrado no templo e recebeu o sacrifício de seu Filho Jesus, o Cordeiro de Deus.
Jesus é o verdadeiro sacerdote por natureza. Na última ceia, após instituir a Eucaristia, com a frase “fazei isto em memória de mim”: 19 E tomando um pão, deu graças, partiu-o e deu-lhes dizendo: “Isto é o meu corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim” (Lc.22,19). Jesus conferiu o episcopado aos onze apóstolos presentes. O sacerdócio dos bispos e padres é uma participação do sacerdócio de Jesus. Somente os ministros ordenados pela Igreja Católica podem consagrar validamente o pão e o vinho, transformando-os no verdadeiro corpo e sangue de Jesus e os distribuir para as pessoas que procuram a salvação. Mas Jesus continua sendo o único que possui o sacerdócio por natureza: 14 Tendo, pois, um grande Sumo Sacerdote, que penetrou no céu, Jesus, o Filho de Deus, continuemos firmes na profissão de fé (Hb.4,14).
Pelo fato de Jesus se ter encarnado e ter assumido um corpo sujeito ao sofrimento e à morte, sem contaminar-se pelo pecado, Ele experimentou e compreende as dificuldades pelas quais nós passamos: 15 Porque não temos um Sumo Sacerdote incapaz de compadecer-se de nossas fraquezas. Ao contrário, passou pelas mesmas provações que nós, com exceção do pecado. 16 Aproximemo-nos, pois, confiantemente do trono da graça a fim de alcançar misericórdia e achar a graça de um auxílio oportuno (Hb.4,15-16).
Entre os judeus havia a expectativa que o Messias transformaria Israel num reino poderoso que dominaria todos os povos. Após convencer-se que Jesus era o verdadeiro Messias, também os apóstolos esperavam que Ele, a um dado momento, usaria os poderes sobrenaturais que possuía para derrotar todos os inimigos e transformar Israel num reino glorioso. Em todo reino, há cargos importantes que dão aos seus ocupantes dinheiro, prestígio e poder. Tiago e João tomaram a iniciativa de avisar Jesus que pretendiam ocupar os dois cargos mais importantes quando Ele fundasse o tal reino: 35 Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se de Jesus e disseram: “Mestre, queremos que nos faças o que te vamos pedir”. 36 Jesus lhes perguntou: “O que quereis que vos faça?” 37 Eles responderam: “Que nos sentemos um à tua direita, outro à tua esquerda na tua glória” (Mc.10,35-37).
Jesus já tinha avisado que, antes de chegar à glória, seria preso e condenado à morte. Por isto perguntou se eles estavam dispostos a beber o cálice que Ele deveria beber, isto é, ser condenado e ser batizado pelo batismo com o qual Ele seria batizado, isto é, sofrer o martírio: 38 Jesus, porém, lhes disse: “Não sabeis o que pedis! Podeis, acaso, beber o cálice que eu vou beber ou ser batizados com o batismo com que eu vou ser batizado?” (Mc.10,38). Como eles não tinham entendido o aviso de Jesus que Ele seria preso e condenado à morte, aceitaram a proposta. Jesus lhes respondeu que, para chegar à glória com Ele, passariam pela morte, mas que era função do Pai classificar as pessoas salvas no céu: 39 “Podemos”, disseram eles. E Jesus prosseguiu: “Bebereis o cálice que eu vou beber e sereis batizados no batismo com que serei batizado, 40 mas assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não compete a mim conceder. É daqueles para quem foi preparado” (Mc.10,39-40).
Ângelo José Busnardo
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