Á G A P E

ÁGAPE

Os gregos, dos quais herdamos tanto saber e tantas virtudes, usavam três palavras, ágape, filo e éros para fazer referência aos seus afetos. Nós sintetizamos nossa parte afetiva em dois verbos: amar e gostar que embora muita gente ache que são sinônimos, seus juízos não são convergentes e seu emprego indiscriminado por levar a equívocos e situações distorcidas. Amar é uma coisa, gostar é outra, bem diferente. Eu gosto de abacaxi, mas não amo o abacaxi.

Enquanto a filia aponta para uma amizade, seja pelo saber (a filosofia), pelos cachorros (a cinofilia) ou até pela morte (a necrofilia), a amizade éros surge como uma manifestação da atração física (daí erótica). Por fim, o verbete ágape aponta para um amor incondicional como, segundo os especialistas, o amor que Deus tem por nós.

O fato é que o verbete ágape quer dizer um amor perfeito. No grego a pronúncia é agápi (alfa-gama-alfa-pi-êta), e os helênicos usam-no para expressar um amor de fato. Os apaixonados repetem o cancioneiro popular ao chamar seus eleitos de agapi mu (meu amor). Nessas águas, agapito quer dizer amado.

Enaltecendo esse amor irrestrito, São Paulo, em Carta aos Coríntios, ensinou, para a nossa edificação, que “o agápi (o amor) é paciente, é prestativo; não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passará”. Este sentimento é o ágape.

Em outros trechos da Escritura lemos o “mandamento novo” cuja ordenança repousa no “amem-se uns aos outros como eu amei vocês”. Em outra parte aprendemos que “Deus tanto amou o mundo que deu seu Filho único para que todo aquele que nele crer não pereça”. Seremos conhecidos por todos como filhos de Deus e discípulos de Cristo se soubermos amar, com amor verdadeiro, crescente, intenso e comunicante.

O amor é o único bem que vai além da vida. De fato, e só uma “invenção” de Deus nos poderia proporcionar tamanha maravilha. Ele é para ser vivido aqui na terra, agora, e lá no céu, depois. Aqui somos chamados a viver no amor, na fé e na esperança. O amor não tem medida, não se deixa aprisionar pelo tempo nem tem preço. É eternidade puramente graciosa. Por isso é ágape.

As águas da torrente jamais poderão apagar o amor, nem os rios

afogá-lo. Se tentasse comprar o amor, seria tratado com

desprezo (Ct 8, 7).

O autor é filósofo, escritor e doutor em Teologia Moral.

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