Ensaio sobre o ódio.

Definição:

O ódio é um sentimento de profunda antipatia, desgosto, aversão, raiva, rancor profundo, horror, inimizade ou repulsa contra uma pessoa ou algo ou mesmo a uma ideia. Tanto quanto o amor, o ódio nasce de representações e desejos conscientes e inconscientes.

"Tenho visto demasiado ódio para querer odiar." (Martin Luther King)

Muito se tem falado sobre as perseguições contra cristãos, católicos e evangélicos ultimamente. Na mesma proporção se poderia ventilar sobre as perseguições contra muçulmanos, candomblecistas e demonistas.

Há quem carregue nas tintas e cite a palavra ódio contra religiosos em geral. Apesar da sabida e eterna rixa entre religiões, isto é, entre os próprios religiosos - e Jerusalém está aí para provar que não estou mentindo - alguns citam esse ódio como originário entre ateus, neoateus, etc.

O ateísmo é antagônico à religiosidade, isto sempre foi evidente e está comprovado que o ateísmo é um movimento que tenta rebater e comprovar como falsas as ideias difundidas pelos antagonistas. Tanto isso é verdade que ao afirmarmos que não existiriam ateus se não existissem religiosos, estamos afirmando o óbvio que tantos insistem em não confirmar como verdade pura e simples.

O problema é a expressão ódio ateísta. Ela é muito usada, mas muito pesada para o caso em questão. O ateu, geralmente, é uma pessoa que possui um certo grau de estudos e conhecimentos científicos. Ou não teria base alguma para afirmar as coisas que pretende refutar. Ele sabe que não adiantaria odiar, por exemplo, uma bactéria nociva à saúde. Ela deve ser combatida e controlada sem ódio, mas com a eficácia que, pelo menos, modere seu grau de periculosidade.

A religiosidade não está no campo das bactérias e sim no campo das ideias. No entanto, ela também jamais será debilitada através do ódio e sim do esclarecimento. Houve um tempo em que se acreditava que jogando virgens dentro de um precipício, os deuses se contentariam e mandariam chuva que proporcionaria boas colheitas.

Apenas o conhecimento do funcionamento da matéria comprovou que estavam errados. De nada adiantaria um ateu odiar e tentar destruir aqueles sacerdotes porque o povo acreditava piamente naquilo. Foi preciso que a ciência explicasse que as estações sazonais nada tinham a ver com o contentamento dos deuses. Que, por sinal, nem sequer existiam e eram delírios de religiosos.

Ainda atualmente acredita-se que alguém, nascido há mais de dois mil anos, era o filho do criador do universo. O filho enviado pelo criador para salvar a humanidade tão propícia a praticar atos nocivos ao próximo. Sem se dar conta que, naquela época e justamente pelo parco conhecimento científico, o que proliferava nos círculos sociais eram profetas com supostos poderes milagrosos como curar feridas, prever o futuro e anunciar um novo reino de eterna felicidade. Quem dentre nós não ficaríamos sedentos de participação ante tão fascinantes promessas?

Devido a isso as religiões eram tão valorizadas, pois entre a dor e a esperança, sempre foi mais reconfortante ficar com a última. Mesmo que exigissem muito em troca, principalmente mudança de comportamento. Às vezes para mais refinados e socialmente vantajosos. As religiões foram sim importantes para as civilizações. Não há ateu que desminta essa verdade, se tiver o necessário conhecimento histórico dos fatos desencadeados durante a sangrenta marcha da humanidade.

Mas voltemos ao ódio. Um cientista pode até odiar sua esposa após longos anos de casamento, porém não consegue odiar uma bactéria mesmo após prolongados estudos extenuantes sobre ela. Ele sabe que o ódio não traria a verdade que ele busca com tanto afinco. Todo o seu trabalho cairia em desgraça por falta daquilo que em Ciências chamamos de sistematização. O ódio não é sistemático, ele é bestial.

Também um ateu não consegue odiar um religioso. Ele pode sim apontar os danos causados pelas religiões em determinados períodos de tempo. Pode também reconhecer que houve avanços de civilidade devido a ela. Mas não pode odiar. Ele estaria sendo anticientífico.

Seria como se desprezasse e menosprezasse o homo sapiens porque ele provavelmente vivia em cavernas e não cuidasse devidamente da higiene pessoal. Na verdade, eu tiro isso por mim, o ateu tem maior amor ao próximo do que muitos que se declaram religiosos. Ou podemos duvidar do amor humanitário do homem que estudou e conseguiu a erradicação de determinada doença? Ele não estava doente. Mas lutou para salvar vidas e aplacar dores que não eram suas. Pode existir amor maior?

Alguns dirão: E a bomba atômica? Não foi construída pela Ciência? Sim, foi construída pela tecnologia científica. Mas foi exigida e financiada pelo dinheiro de líderes políticos religiosos.

Em contraposição pense no religioso que determinou que só se ganhará o paraíso se acreditar somente e egoisticamente nele. Se você buscar outro orientador, será condenado à uma eternidade dolorosa. Pense numa eternidade. Pense numa eternidade de punição. Pode existir maior ódio e maldição?

Aparentemente a própria Vida é composta pelo ódio. A Vida devora a vida. Isso é besteira, pois a Vida não odeia nem ama. Ela cria para em seguida destruir e substituir. Não é um bom exemplo a seguir, aprendemos desde as cavernas, mas é a realidade que precisa ser enfrentada. O fato de ter de levantar toda manhã para produzir a farinha, isso nos ensina que até lá, melhor é construir.

Volto a repetir: O verdadeiro ateu não odeia o religioso. No máximo vê nele alguém que necessita da misericórdia científica. O ateu ama tanto o seu semelhante que deseja apenas que ele viva plenamente seu curto período de eternidade, que não perca tempo com ódios, com preconceitos, com perseguições, com virgens sacrificadas, com filhos enviados do além, com sectarismos.

Pois essa é a única Sentença que a Ciência atual nos garante:

É necessário descobrir e comprovar.

O restante são delírios.